Pensamento Econômico de João Dória 2022

A Folha de São Paulo pediu aos presidenciáveis um artigo acerca do pensamento econômico de suas candidaturas.  O ex-min. Henrique Meirelles escreveu o artigo de Dória.

PONTO DE PARTIDA PARA CONSERTAR O BRASIL É CRESCER REDUZINDO DESIGUALDADES

"Os dois principais desafios do Brasil são voltar a crescer e reduzir a enorme desigualdade social, que se agravou na última década. A principal causa dos problemas é conhecida: a economia praticamente estagnada, sem recuperar o patamar do PIB pré-recessão de 2015-2016.

Foto: ailrton alvez agencia ana

E o diagnóstico está feito: a redução da desigualdade social depende do crescimento sustentado do emprego e da remuneração dos trabalhadores. E, também, da geração de riquezas e arrecadação tributária, que viabilize programas eficientes e focalizados de transferência de renda aos vulneráveis.

O objetivo imediato do próximo governo é a reversão urgente e eficiente do quadro atual, sob pena de termos mais uma década perdida. Será preciso trazer perspectiva aos jovens das classes de menor poder aquisitivo por meio de geração de oportunidades; estancar a emigração de talentos e de mão de obra qualificada; criar oportunidades a investidores e empreendedores e conter a fuga de recursos que poderiam estar sendo direcionados a investimentos.

A aceleração do crescimento depende do aumento da taxa de investimento –que é substancialmente inferior à média de países vizinhos– e de ganhos de produtividade –que está praticamente estagnada há décadas. Atingir esses objetivos, com escala satisfatória, pressupõe a participação majoritária do setor privado, o que demanda foco e melhor qualidade da ação estatal.

Foto: Fernando Frazão ag brasil

O momento é particularmente crítico por conta do fim do bônus demográfico, do atraso tecnológico, da necessidade de uma força de trabalho digitalizada, da crescente atenção às questões ambientais e de novas demandas na área da saúde. As mudanças exigem flexibilidade orçamentária para lidar com novas demandas da sociedade, além de capacidade de planejamento e de ações coordenadas com os demais entes da federação

Foto: Embraer divulgação

A ação estatal precisa se concentrar em áreas em que o retorno para a sociedade é maior do que o retorno privado. Fazer menos coisas e fazer bem-feito, com foco no cidadão. Esse é também o caminho para a redução da carga tributária no futuro.

Ao mesmo tempo, os marcos legais são fontes de insegurança jurídica que prejudicam o investimento, a inovação, o empreendedorismo e a produtividade. O Estado precisa ser forte (não significa ser grande) para cumprir seu papel de proporcionar qualidade de vida e oportunidades para a prosperidade dos cidadãos.  Isso requer:

Foto: Rovena Rosa ag brasil

(1) Restabelecimento de um quadro macroeconômico estável –estabilidade é alicerce do crescimento e condição essencial para o avanço de outros temas estruturais, pois a fragilidade econômica reduz o espaço para a negociação política;

(2) Redução da desigualdade social –com alocação adequada de recursos e melhora na atuação do Estado;

(3) Investimento na formação de capital humano –base para garantir uma vida digna às pessoas e promover uma maior mobilidade social, a educação de crianças e jovens e a capacitação de adultos terá que ser prioridade;

(4) Promoção de um ambiente de negócios que facilite a produção e seja ambientalmente sustentável –aumento da segurança jurídica e criação das condições para que o setor privado amplie o investimento e atue como motor principal de crescimento e geração de emprego e renda, respeitando o meio ambiente e valorizando a nossa diversidade.

No campo ambiental, o Brasil precisa de regras que incentivem ações privadas para acelerar o passo na direção de uma economia carbono zero. Temos condições diferenciadas tanto na geração de energia quanto no consumo nas áreas industrial e de transporte, com os combustíveis verdes ganhando espaço.

A preservação da Amazônia é imperativa. Regulamentações claras, que incentivem a preservação do meio ambiente e garantam o valor da floresta em pé, são o caminho para a criação de um mercado que promove a preservação e gera desenvolvimento econômico.

É urgente fazer reformas para tornar as empresas brasileiras mais capazes de competir globalmente. E precisamos promover acordos comerciais com países estratégicos e ampliar a representação comercial nas principais regiões do mundo.

Será essencial avançar concomitantemente nessas várias frentes, pois são ações que se complementam e elevam a efetividade umas das outras. Como não há "bala de prata" para atingir cada um desses objetivos, a definição de prioridades precisa ser cuidadosa, com base em diagnósticos precisos.

E apenas uma equipe experiente, com resultados comprovados, será capaz de garantir as transformações necessárias ao Brasil."

MIGUEL DO ROSÁRIO Editor-Chefe

Miguel do Rosário analisa pensamento econômico da candidatura de João Dória, trazida por Henrique Meirelles.

Miguel do Rosário analisa pensamento econômico da candidatura de João Dória, trazida por Henrique Meirelles.

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