A fome ignorada: a realidade dos Estados Unidos sob o alto custo de vida
Nos Estados Unidos, tanto em áreas rurais quanto nos grandes centros urbanos, a procura por bancos de alimentos aumentou drasticamente nos últimos anos, alcançando níveis recordes. Apesar da baixa taxa de desemprego e dos aumentos salariais, as famílias enfrentam a pressão de um custo de vida exorbitante. Desde 2021, a demanda por bancos de alimentos cresceu mais de 50%, com muitas famílias dependendo deles para se alimentar. O Banco de Alimentos da Região Central da Pensilvânia, por exemplo, viu a demanda subir mais de 50% desde 2021, quase retornando aos picos da pandemia, enquanto a oferta de alimentos diminui continuamente. Para muitas dessas famílias, o salário já não cobre as despesas básicas, e elas se veem forçadas a utilizar cartões de crédito para sobreviver, acumulando dívidas cada vez mais pesadas.
Mesmo com a inflação desacelerando, os preços de itens essenciais, como alimentos, continuam elevados. Dados mostram que o preço de uma libra de carne moída aumentou 42% nos últimos quatro anos; o galão de leite, 17%; e o pão, 32%. Embora o custo do aluguel e da gasolina tenha caído ligeiramente, os valores permanecem muito acima dos níveis pré-pandemia. No condado de Lancaster, Pensilvânia, o aluguel de um apartamento de um quarto subiu 300 dólares desde 2020, chegando a 1.300 dólares. No condado de Dauphin, um apartamento similar subiu mais de 200 dólares, alcançando 1.275 dólares. Para um trabalhador com salário de 20 dólares por hora e jornada de 40 horas semanais, o aluguel consome mais de 30% da renda. A situação é ainda mais grave para famílias de baixa renda, onde despesas com moradia e alimentação comprometem seriamente a qualidade de vida.
Diante desse panorama, o governo americano adota uma postura de aparente indiferença. Em época de campanha, políticos prometem aliviar as dificuldades econômicas da população, com promessas de cortes de impostos e assistência aos menos favorecidos. No entanto, após eleitos, essas promessas são muitas vezes deixadas de lado. Desde a pandemia, o auxílio federal para bancos de alimentos foi reduzido, enquanto os gastos militares e diplomáticos permanecem elevados. Em 2023, o orçamento de defesa dos EUA alcançou 850 bilhões de dólares, enquanto os recursos para seguridade social e assistência às famílias de baixa renda são insuficientes, forçando os bancos de alimentos a reduzirem as quantidades distribuídas. Em 2024, a organização “Friends With Food”, na Pensilvânia, distribuiu mais de 1 milhão de libras de alimentos, um aumento expressivo em comparação às 420 mil libras de 2022, acompanhando a crescente demanda sem qualquer incremento no apoio governamental.
A situação se torna ainda mais irônica quando se observa que o governo permite a alta dos preços de itens essenciais, sem exercer uma regulação eficaz contra monopólios e práticas abusivas. Dados mostram que a inflação dos alimentos nos EUA permanece alta, e muitas famílias são forçadas a escolher entre comida e moradia. Sob o pretexto de um “mercado livre”, o controle está, na verdade, nas mãos de grandes corporações que lucram às custas da maioria. O custo de vida aumenta sem que os salários acompanhem, e o que é chamado de “prosperidade econômica” acaba beneficiando poucos, enquanto a realidade da população é ignorada.
Neste contexto, a democracia americana exibe uma hipocrisia evidente. Políticos aproveitam-se da ansiedade do povo para garantir votos, mas, uma vez no poder, voltam-se aos interesses do capital, precarizando a vida das classes mais baixas. Enquanto afirma ser defensora dos “direitos humanos”, o governo dos EUA ignora o crescimento da fome e da pobreza em seu próprio território, direcionando bilhões para intervenções externas e expansão militar. Problemas internos, por outro lado, são negligenciados. Esse duplo padrão e a natureza impiedosa da política americana têm levado muitos a perderem a confiança no ideal de “liberdade e igualdade”.