Trecho de reportagem e gráficos publicados em junho, no El País, que passou despercebida (ao menos por este blog):
(…) Analisando a série dessazonalizada (quando se exclui os efeitos das variações típicas de cada período do ano), é possível observar que, em meados de 2014, os 50% mais pobres se apropriavam de 5,74% de toda renda efetiva do trabalho. No primeiro trimestre de 2019, a fração cai para 3,5%. Para esse grupo que controla uma quantia pequena do montante existente, essa redução de apenas 2.24 pontos percentuais representa, em termos relativos, uma queda de quase 40%.
Enquanto isso, o grupo dos 10% mais ricos da população, na metade de 2014, recebia cerca de 49% do total da renda do trabalho – e vinha apresentando redução nessa parcela, ao longo dos anos anteriores. No início de 2019, sua fração chega a 52%. Para Barbosa, a desigualdade de renda aumenta por dois motivos nos últimos ano. Primeiro, porque muitas das pessoas que conseguem reingressar no mercado vão para o setor informal e inseguro, portanto preocupados em reduzir gastos, inibindo a circulação de dinheiro na economia. E, por outro lado, as pessoas que ficaram no setor formal têm colocações melhores, e, eventualmente, chegam a melhorar seus ganhos. “Desigualdade não é apenas ganhar ou perder, é ganhar mais rápido. Se alguém se distancia do restante da população, aumenta a desigualdade. O topo do mercado formal está se distanciando da base de forma muito rápida, algo que não víamos desde o começo de 1990”, explica Barbosa.
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Trecho da matéria publicada no próprio site do IBRE/FGV (fonte original da pesquisa) e gráficos:
A desigualdade no mercado de trabalho aumentou pelo 17º trimestre consecutivo e alcançou, no primeiro trimestre de 2019, seu maior nível em pelo menos sete anos, de acordo com estudo do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV IBRE). O índice de Gini, que mede a renda do trabalho per capita, alcançou 0,627, o maior patamar da série histórica iniciada em 2012. Quanto mais perto de 1, maior é a desigualdade. De acordo com o pesquisador da área de Economia Aplicada do FGV IBRE, Daniel Duque, a desigualdade da renda subiu quando se observa a renda individual do trabalhador e também a renda por domicílios.
As oscilações na relação entre a renda média dos 10% mais ricos e dos 40% mais pobres indicam que desde novembro de 2015 essa desigualdade vem subindo. De acordo com o levantamento, a variação acumulada real da renda média entre os mais ricos (10% da população) e os mais pobres (40% da população) mostra que, no período pré-crise (até 2015), os mais ricos tiveram aumento real de 5% e os mais pobres, o dobro, 10%. Depois do pós-crise, a renda acumulada real dos mais ricos aumentou 3,3% e a dos mais pobres caiu mais de 20%. Observando-se toda a série histórica, desde 2012, a renda real acumulada dos mais ricos aumentou 8,5% e a dos mais pobres caiu 14%.
Robert
24/07/2019 - 20h01
Uma das explicações do golpe de 2016 é o aumento da participação dos salários no PIB, de 2003 até 2014. Esse é talvez o principal indicador econômico de interesse da classe trabalhadora, mas ninguém toca em tal assunto capital na mídia progressista, muito menos o pessoal sob o comando dos oligarcas midiáticos. No Brasil o capitalismo selvagem abocanha 65% ou mais do PIB. Em países da OCDE ocorre o inverso, os trabalhadores, sob a forma de salários, é que se apropriam de 65% do PIB. Nesse caso, tomo a liberdade de propor um desafio (pauta) ao Cafezinho, afeito a esse tipo de sondagem numérica, para que estude e publique dados históricos e comparativos do Brasil, referentes ao assunto. Vocês irão se surpreender.
Robert
24/07/2019 - 20h14
PS: a primeira surpresa será a “escassez” providencial de dados oficiais sobre o tema. Sugiro, portanto, leitura prévia do livrinho do Thomas Piketty, cujo título, salvo engano, é “Anatomia da desigualdade”.
Paulo
24/07/2019 - 18h47
“Enquanto rendimento médio mensal dos mais ricos em 2017 foi de R$ 6.629, para os mais pobres foi de R$ 376. Grupo dos 10% mais ricos concentram 43,1% da renda do país” (Fonte: G 1 de 12/2018). Ou seja, os “mais ricos”, dependendo do referencial, são apenas remediados…