Victor Lages, pela Fênix Filmes
“Hollywood está sem ideias”. Essa frase é sempre repetida nas rodas de conversa entre críticos, especialistas de cinema e cinéfilos, em clima de descontentamento com a quantidade de remakes que o cinema hollywoodiano faz. A fim de esclarecimento, remake é quando o estúdio pega um filme, um programa de televisão ou algo que já foi feito e grava uma nova versão, às vezes atualizada, de uma história antiga; por exemplo, NASCE UMA ESTRELA recebeu roupagem diferencial pela quarta vez ano passado, agora com a cantora Lady Gaga como protagonista.
Mas por que Hollywood dá tanta atenção para esses remakes? Seria falta de ideias originais no cinema? Não. Naturalmente, todo ano são escritos milhares de roteiros com bastante criatividade e narrativas inovadoras, mas acaba sendo arriscado confiar milhões de dólares em projetos que podem não ter o devido retorno. Nos remakes, existe a vantagem do marketing natural, o que é algo relativamente mais barato: há um conceito já embutido e conhecido do público, há a questão da nostalgia atrelada às histórias antigas que são adaptadas para o contexto atual e o próprio público se sente à vontade para apostar seu tempo e seu dinheiro numa zona de conforto de já saber o que está indo assistir nas salas de exibição.
O problema é quando esses remakes acabam saindo ruins: BEN-HUR foi um fracasso de crítica e de bilheteria e PSICOSE é considerado um desrespeito ao clássico de Hitchcock. E não é só de olho que dizemos isso. Um estudo recente do Rotten Tomatoes, realizado em janeiro desse ano, analisou mais de 400 filmes produzidos de 1978 para cá, comparando as notas dadas pela crítica aos remakes e aos originais.
Vamos mostrar o macrocosmo para depois fecharmos ao micro. Numa pontuação média, os remakes conseguem apenas 47% de aprovação, enquanto os filmes originais alcançam de 81% ao topo de aprovação. Daí tiramos várias derrapadas de clássicos hollywoodianos que foram rearranjados agora no século XXI: CONAN, O BÁRBARO; ROBOCOP (pelo diretor brasileiro José Padilha); O VINGADOR DO FUTURO; PLANETA DOS MACACOS (pelo cineasta Tim Burton); OLDBOY; O DIA EM QUE A TERRA PAROU e segue assim uma lista infinita…
Mas existem certas exceções nessa receita fácil de dinheiro, aqueles 10% que a pesquisa identificou das refilmagens que conseguiram atingir uma nota mais alta que a dos filmes originais. Entram aí ONZE HOMENS E UM SEGREDO (adaptado do longa de 1960 estrelado por Frank Sinatra); BRAVURA INDÔMITA (trazida em 2010 pelos Irmãos Coen); MOGLI: O MENINO LOBO (que apresentou uma tecnologia de ponta na versão live-action da Disney); SCARFACE (com um Al Pacino inspirador); OS INFILTRADOS (que finalmente deu o Oscar para o Scorsese); POR UM PUNHADO DE DÓLARES (clássico do Sergio Leone adaptado de YOJIMBO, outro clássico de Kurosawa) e infelizmente essa lista já não segue tão infinita assim…
O fato é que o portal Medium, para tentar apaziguar as tensões entre quem gosta e quem odeia os remakes, decidiu preparar uma lista com alguns motivos que justificassem a necessidade de uma refilmagem e aqui vai de brinde ainda um exemplo para cada motivo:
- Se o filme for muito velho, é mais perdoável a urgência em atualizá-lo (como as quatro versões de NASCE UMA ESTRELA);
- Se for para corrigir erros de filmes ruins, os remakes podem ser úteis (A MOSCA de 1986, que supera o de 1958);
- Se for para beneficiar os estúdios trazendo de volta um clássico que foi estouro de bilheteria na época do lançamento (podemos facilmente citar KARATE KID);
- Se for para colocar atores contemporâneos e, digamos, mais comercializáveis (ONZE HOMENS E UM SEGREDO é uma boa);
- Se for uma adaptação de um filme estrangeiro, pois é praticamente anti-americano ler legenda de uma obra em outra língua (DEIXE-ME ENTRAR, que traduziu o cult sueco de vampiros);
- Se os efeitos especiais perderam a validade e os remakes alcançaram uma capacidade técnica próxima à perfeição (como foi o último KING KONG lançado em 2005);
- Se é para dar um visual mais moderno ao preto e branco (tal qual o já citado SCARFACE ou o NOSFERATU do Werner Herzog);
- Se for para consertar racismo e sexismo de filmes antigos, refazendo o desconforto que “fazia sentido” naquele tempo (podemos até citar aqui o novo ALADDIN);
- Se for para lançar um olhar contemporâneo sobre o original, mudando o sexo das personagens, por exemplo (como o recente CAÇA-FANTASMAS, com protagonismo feminino);
- Por fim, se o filme original estiver muito vinculado ao momento em que foi lançado (fechamos a lista com o maravilhoso A GRANDE DAMA DO CINEMA, do diretor vencedor do Oscar Juan José Campanella, que refilmou um clássico argentino rechaçado nos anos 70 pela ditadura no país).
Independente da subjetividade, ainda é uma questão de ponto de vista quanto à necessidade de um remake; o consenso é que o dinheiro sempre pauta as decisões dos estúdios, que correm atrás de certas memórias afetivas para trazer de volta algumas histórias que deveriam só ficar no passado mesmo.
Marcus Padilha
05/06/2019 - 15h06
O novo caça-fantasmas é um caça-níquel. Filme horrivelmente chato.