Começa hoje, 30 de novembro, a reunião do G 20 em Buenos Aires, capital da vizinha Argentina. Antes mesmo de começar efetivamente o encontro de cúpula, já se sabe que uma reunião marcada entre Trump e Xi Jinping deve dominar as atenções do evento. Aliás, o G 20 em si fica muito pequeno diante do duelo global que se dá hoje entre ocidente e oriente pelos rumos da economia global e consequentemente pelos rumos de um equilíbrio global da convivência entre as nações. Para além desse embate, há vários outros subjacentes e interconectados que desfilarão pelos corredores do encontro, como entre Turquia e Arábia Saudita, Rússia e Ucrânia, Reino Unido e União Europeia, entre outros.
O G 20 é uma herança do antigo sistema de Bretton Woods, criado no pós-segunda guerra mundial e para o qual nunca se conseguiu um arranjo substitutivo, apesar da tentativa, inclusive do Brasil, de mudar a dinâmica da gestão financeira global com estabelecimento de novas cotas e aportes, de modo a salvaguardar os países em desenvolvimento. A origem do G 20 vem da formação do G 6 (França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido e EUA) em 1975 na França, que logo se transformou no G 7, com o ingresso do Canadá. Ao final dos anos 80 será G8, com a incorporação da Rússia e em 1999 ampliado para G20 no âmbito dos Ministros da Fazenda. O G 8 ampliado, para o que hoje conhecemos como G 20 dos Chefes de Estado, se consolidou em 2008, diante da crise econômica global que até hoje o sistema capitalista não conseguiu superar a seu contento.
Conformado pelas 19 maiores economias do mundo (África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coreia do sul, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia, Turquia) mais a União Europeia, o G 20 reunido em 2018 representa dois terços da população global, 85% do PIB mundial e 75% do comércio internacional. É como se uma espécie de governo mundial estivesse concentrado, nas próximas 48 horas, na sul-americana Buenos Aires, com todos os efeitos que a conjunção de suas lideranças possui nos dias de hoje.
De todos os participantes, aquele que mais tem causado desconforto e contrariedade no conjunto do encontro é Donald Trump e sua agenda anti-multilateralismo e em especial seus ataques ao Acordo Climático de Paris e o protecionismo comercial. O grande aliado de Trump no G20, o príncipe saudita Mohammed bin Salman, também não está entre os convidados mais a vontade do encontro. Com fortes suspeitas de ter mandado matar um jornalista, Jamal Kashoggi, em território turco, e de ter arrasado o Iêmen, levando 8 milhões de pessoas à fome extrema, em três anos, o príncipe está isolado entre os ocidentais.
O gigante na sala chama-se Xi Jinping. Há poucas semanas, o líder chinês chegou a se manifestar de forma mais contundente ao dizer que a guerra comercial imposta por Trump não terá vencedores. Que o mundo precisa de regras comuns de governança global que não responda a “agendas egoístas”. Referiu-se a exemplos históricos para dizer que nas confrontações, sejam de guerra fria, quente ou comercial, não há vencedores. Seria necessário, portanto resolver conflitos por meio do diálogo e de consultas e não formando “blocos exclusivos”, referindo-se ao novo Nafta, ou “impor critérios a outros países”, referindo se às taxações do aço e do alumínio pelos EUA. “Os países em desenvolvimento deveriam ter mais voz nesse sistema para estarem melhor representados nesse processo”, afirmou Xi, em tempos de descenso do Brics e de países, como o Brasil, que outrora tiveram mais espaço nos fóruns multilaterais.
Uma Argentina quebrada financeiramente e refém do FMI, um EUA que poucas horas antes do encontro diz que “pode firmar um acordo com a China, mas que não sabe se quer”, uma União Europeia que tenta colocar panos quentes no conflito entre Rússia e Ucrânia, um príncipe saudita que tenta se reabilitar, um México que empossará o novo presidente no mesmo dia de encerramento da Cúpula, um Brasil representado por uma já ultrapassada postura multilateralista. Uma Rússia que enfrenta a OTAN e o isolamento geopolítico. Uma França que tenta criar um exército europeu. Ruas lotadas de manifestantes. Este é o cenário da Buenos Aires que tenta comportar o cambaleante G 20, palco de um grande dissenso entre as maiores lideranças mundiais.
Paulo
30/11/2018 - 19h51
Há atores (países) que mudarão de gestão, proximamente, e com agendas antípodas aos atuais governantes, o que dificulta a validação de eventuais acordos porventura celebrados. No fundo, a única coisa importante é a discussão EUA/China…