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Abutres bancários já rondam os restos mortais do Museu

Por J. Carlos de Assis Não se deixe enganar pelo que o oligopólio bancário privado do país chama de participação no financiamento da reconstrução do Museu Nacional. É pura hipocrisia. O que querem é dar, mediante PPP, mais uma tacada na área da cultura mediante financiamento de projetos, muitas vezes lucrativos, para em seguida sacar […]

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Por J. Carlos de Assis

Não se deixe enganar pelo que o oligopólio bancário privado do país chama de participação no financiamento da reconstrução do Museu Nacional. É pura hipocrisia. O que querem é dar, mediante PPP, mais uma tacada na área da cultura mediante financiamento de projetos, muitas vezes lucrativos, para em seguida sacar o dinheiro correspondente junto ao governo, na forma de dedução do imposto de renda pela Lei Rouanet.

Não só isso. Se a reconstrução seguir o modelo do Museu do Amanhã, teremos aí mais um elefante financiado por dinheiro público que o distinto público vai pagar sob a forma de ingressos com preços abusivos. Portanto, é quase certo que o projeto de reconstrução do Museu Nacional ativou o apetite da banca no sentido de sacar logo um projeto privatista dessa excepcional oportunidade, embutindo-se descaradamente o propósito de cobrar ingressos.

A iniciativa da banca me provocou nojo. É incrível como se tenta tirar dinheiro do povo mesmo num momento de comoção social. Se houvesse um mínimo de sinceridade na proposta os bancos teriam dado um tempo mínimo para o velório. Não, nada. As cinzas ainda estavam quentes e os abutres do sistema bancário já estavam sobrevoando as brasas do Museu. Pior. Recobriram seus interesses escusos com uma suposta oferta generosa.

Acaso você tem dúvida disso? Então me explique a pressa dos bancos em anunciar a oferta de financiamento. Eles são entidades muito sóbrias, cuidadosas. Não tomam decisões precipitadas. Primeiro calculam todas as probabilidades de perda e de ganho antes de colocar o dinheiro dele no jogo. Se agiram com toda a pressa é porque sabem que não tem nenhuma chance de perder. Não querem financiar museu nenhum com seu lucro, e sim com IR público.

Mas os bancos estiveram também entre as forças que empurraram o Museu Nacional para o desastre. A Globo falou em cortes orçamentários, mas não mencionou a razão profunda disso, a Emenda 95. Para quem ainda não sabe, a Emenda 95 estabeleceu o congelamento do orçamento federal por 20 anos. Não existe nada tão estúpido no mundo, exceto por um radicalismo neoliberal exacerbado, obcecado pela idéia do Estado mínimo.

Bom, aí está o Estado mínimo pregado e praticado por Henrique Meirelles, que agora quer votos do povo. Talvez algum idiota argumente que não há relação entre a Emenda 95 e o incêndio do Museu. E é patético como a rede Globo omite qualquer consideração sobre esse tema. Foi a maior impulsionadora ideológica da Emenda 95. Agora, fala em omissão genérica das autoridades, como se autoridades não tivessem um nome.

Mas nem de tudo Meirelles é culpado. Alguém comprou mais de 300 parlamentares, deputados federais e senadores, para aprovarem a Emenda 95. As eleições estão aí. É hora desses trânsfugas prestarem contas. O site frentepelasoberania.com.br tem todos os nomes e como votaram a Emenda 95 na Câmara e no Senado. O momento é de ir à forra. Vá ao site e veja o nome e a forma como votou cada um dos parlamentares em todos os Estados. E depois o liquide metaforicamente.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Comentários

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Alan Cepile

05/09/2018 - 10h50

Excelente matéria Miguel.

Brasileiro da Silva

04/09/2018 - 20h43

Verdade. Devemos deixar que os governos cuidem da reconstrução. Pelo cuidado que eles tiveram com o Museu Nacional nas últimas décadas, é fácil imaginar que a reconstrução sera feita em tempo curto e de modo exemplar.
#SQN


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