por Kelmenn Freitas, publicado aqui.
Homem, com idade entre 35 e 59 anos e o ensino médio completo. Esse é o perfil da maioria dos filiados ao PSL em Alagoas, partido que tem o deputado federal Jair Bolsonaro como pré-candidato a presidente da República, numa perigosa empreitada vendida ao público como o novo Messias para combater a corrupção. Os filiados com esse perfil respondem por 35,6% do total. No estado, são 4.102 filiados ao partido, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) – para efeito de comparação, o MDB, maior partido em número de filiados em Alagoas, reúne hoje 16.194 apoiadores.
Apesar do partido projetar um discurso de oxigenação política e renovação em Brasília, o eleitorado mais jovem de Alagoas parece ter percebido que algo não bate nessa equação, já que o PSL tem à frente um pré-candidato a presidente que está desde o início da década de 1990 num mandato estéril e inócuo de deputado federal. Essa tendência pode ser notada ao se debruçar sobre os números de filiados mais jovens, com idades entre 18 e 24 anos. Em números precisos, somando-se homens e mulheres, são 14 filiados de 18 a 20 anos, e 89 com idades entre 21 e 24 anos. Um universo de pouco mais de 2%.
Cooptar os mais jovens para o seu quadro partidário também não é o forte do PSL em âmbito nacional. A legenda reúne em todo o país 227.590 filiados, dos quais só 2,4% têm idade entre 18 e 24 anos. O que chama a atenção nesses números é que o discurso “melhor Jair se acostumando”, uma alusão a possível vitória de Bolsonaro nas urnas nas eleições de outubro, é quase sempre entoado pelo público mais jovem, especialmente nas redes sociais – Facebook e afins.
Para a cientista política Luciana Santana, professora da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), atualmente a sociedade passa por um processo de muito desgaste político e da representação política, o que tem ocasionado o aumento da desconfiança e credibilidade das pessoas nas instituições políticas, de uma forma geral.
“Além dessa conjuntura impactar a credibilidade das pessoas em relação a instituições políticas como os partidos políticos, por exemplo, observamos que, nas últimas duas décadas, não houve um processo de ampla renovação dos quadros políticos partidários. Há um investimentos em ações de marketing nas redes sociais, no uso de linguagem mais simples, dos convites e criação de núcleo de juventude no interior dos partidos, sejam eles intitulados de esquerda ou de direita, mas os resultados ainda não têm sido satisfatórios, o número de filiados ainda é muito baixo se compararmos com a porcentagem de jovens na população brasileira”, analisa.
Ainda segundo ela, ao mesmo tempo podemos observar que os jovens têm sido muito atuantes e participativos nas diferentes redes sociais, participando de muitos debates virtuais, discussões, comentários, posts, reivindicações etc.
“Quanto a isso, é importante enfatizar que o maior acesso à informação e facilidade de difusão de ideias pela internet tem contribuído para que muitos desses jovens acreditem que não precisam necessariamente de um representante na política para defender suas posições ou ideias. Esse tipo de suposição, a meu ver, é muito problemático. É possível ter uma boa participação/atuação nas plataformas virtuais e contribuir com a melhoria da representação política. Para isso, o jovem, bem como outros eleitores, podem e devem se engajar politicamente em diferentes espaços na política e contribuírem com a mudanças na qualidade da representação”, destaca Luciana Santana.
O PSL vinha passando por um aumento de participação de jovens via uma ala que se intitulava de “Livres”, com posições políticas mais liberais de direita. “Mas soube que eles se desligaram do partido quando o Bolsonaro se filiou e foi indicado como pré candidato [a presidente da República]”, observa a professora da Ufal.
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