Philip Dick, um dos maiores escritores de ficção científica de todos os tempos, autor de clássicos que vem sendo, sistematicamente, convertidos em filmes e séries de grande sucesso de bilheteria e crítica, como Blade Runner, O Vingador do Futuro, Minority Report, The Man in the High Castle, para citar apenas alguns, era um homem de esquerda. Engajou-se na campanha contra a guerra no Vietnam, participou de reuniões do partido comunista, e casou-se com uma militante socialista.
Entretanto, mesmo que não o fosse, sua ficção, desde o primeiro romance, tinha um objetivo libertário: denunciar as novas formas de opressão com as quais o capitalismo tardio, tecnológico, vinha ameaçando a humanidade.
Na orelha de um de seus livros que tenho na estante, li um trecho de entrevista dele, de 1974, com o qual sempre me identifiquei.
Como criar um livro de resistência, um livro de verdades em meio a um império de falsidade, ou um livro de retitude em meio a um império de odiosas mentiras? Como alguém poderá esfregar isso na cara do inimigo? Não seria através dos métodos tradicionais de escrever no banheiro, mas como fazer isso num futuro, que virá necessariamente, dominado por novas tecnologias? Será possível, à liberdade e à independência, erguerem-se sob novas formas sob novas condições? Quer dizer, as novas tiranias irão abolir esses protestos? Ou haverá novas maneiras de reagir, através da criatividade, que nós ainda não podemos prever?
Cada um tem seu seu próprio entendimento acerca da função da literatura, de ficção ou não-ficção, no mundo em que vive.
No meu entendimento, no mundo que vivemos, particularmente no país que vivemos e, sobretudo, nestes sombrios tempos que vivemos, a função mais importante de qualquer trabalho de inteligência é denunciar o golpe, combater o regime de exceção, e defender a liberdade política de elegermos nossos governantes, sem que estes sejam derrubados logo em seguida por mecanismos ilegais.
Sobre este último ponto, trata-se de uma questão simples: se as elites financeiras tiverem o poder de derrubar os governantes eleitos pelo povo, quem estará sendo atacado não são os governantes, e sim o povo.
Quando o judiciário e a mídia ampliam seu controle sobre a classe política, a vítima não é a classe política. A vítima é o povo, que mal ou bem elege a classe política, e não elege o judiciário e a mídia.
A defesa dessas bandeiras democráticas orienta meu trabalho como jornalista e minha vida como cidadão. Porque entendo o jornalismo e a cidadania como uma militância por liberdade política, direitos civis e justiça social (e esses três conceitos só valem se caminharem juntos).
Muita gente não sabe, mas a Federação Nacional de Jornalistas tem um código de ética muito bom, que diz, entre outras coisas, que:
Art 9º A presunção de inocência é um dos fundamentos da atividade jornalística.
O jornalista, diz o mesmo código, em seu artigo 6º, tem o dever de:
(…) opor-se ao arbítrio, ao autoritarismo e à opressão, bem como defender os princípios
expressos na Declaração Universal dos Direitos Humanos;
Ora, o golpe foi montado justamente sobre a negação radical, por parte da mídia, de qualquer respeito à presunção de inocência! E o regime de exceção instalado após o golpe, com suas perseguições políticas intermináveis, é marcado pelo arbítrio, autoritarismo e opressão!
Não há, em nenhum lugar do código, orientação sobre imparcialidade, isenção ou partidarismo. O jornalista pode tomar o partido que lhe aprouver, porque isso também é um direito seu. Tampouco precisa ser isento ou imparcial: seu dever, neste sentido, é apenas ser honesto e transparente consigo mesmo e com o público.
Transformar o jornalista num eunuco ideológico tem sido uma das mais crueis violências das grandes empresas de mídia contra seus profissionais.
Por estas e outras que aceitei, como uma honra, o convite do professor Wilson Ramos Filho, de ser um dos coordenadores editorais do volume 2 da Enciclopédia do Golpe: o papel da mídia, que terá lançamentos, a partir da próxima semana, em inúmeras cidades do país.
O livro tem a participação de mais de vinte intelectuais. Jornalistas, professores, cientistas escrevem sobre o papel da imprensa brasileira na idealização, articulação, realização e sustentação do golpe em curso.
A luta política sem teoria é apenas um agitar estéril de bandeiras. A leitura atenta deste livro, cujo conteúdo já está sendo divulgado gratuitamente na internet, e a participação no debate por ele suscitado, é condição essencial para darmos substância e força ao processo de resistência ao golpe.
Sim, houve um golpe. Há um golpe. Um golpe que já é um dos mais brutais vividos pelos brasileiros em toda a sua história. O Estado está sendo impiedosamente desmontado, desossado, destruído, em tempo recorde, como se seus operadores corressem contra o tempo. Eles tem noção de que o que estão fazendo não seria jamais aprovado pela sociedade, então se apressam em fazê-lo antes de qualquer eleição. Estatais, recursos naturais, direitos sociais e individuais, liberdades civis, tudo está sendo tragado com uma violência que nos deixa, a todos, estarrecidos, indignados, e, o que é o pior de tudo, impotentes.
E a mídia é, talvez, o seu principal responsável, de maneira que vivemos o pior dos pesadelos: um golpe que, por dominar e ser dominado pela grande imprensa, não se diz golpe, o que explica as tentativas desesperadas do governo e da mídia de censurar qualquer debate que o denuncie no campo que o novo regime considera mais estratégico: o domínio do símbolo, do conceito, da semântica, da mídia enfim.
Entretanto, se não há dúvidas de que houve golpe, é igualmente certo que há resistência.
Este livro é mais um tijolo numa imensa obra de resistência, uma obra que todos os brasileiros vem construindo desde o dia em que detectaram o início das agitações golpistas.
Esta grande obra de resistência, que não sabemos quando será terminada, irá configurar a muralha de proteção contra novos ataques similares. Nossa muralha da China. Uma grande muralha contra as manipulações que fazem o Estado se voltar contra o Estado, empresários se voltarem contra empresas, e cidadãos irem às ruas contra seus próprios direitos e interesses.
Quando esta muralha alcançar certa magnitude, e isto é apenas uma questão de tempo, a sociedade organizada irá contra-atacar. E aí, talvez não tão distraídos, como escrevia Leminski, e aí venceremos.
Se você quiser organizar o lançamento deste livro em sua cidade, basta falar com a gente, comentando no formulário abaixo.
Até o momento, temos os seguintes lançamentos confirmados:
– 06/março: Curitiba, na Reitoria da UFPR, com a Ministra Eleonora;
– 07/março: São Paulo, evento da APEOESP, com a Presidenta Dilma;
– 10/março: Santos, com Paulo Rovai e Maria Inês Nassif, na Casa Forum (da revista Forum);
– 14/março: Salvador, com a Presidenta Dilma, no Fórum Social Mundial.
Compareça e ajude a divulgar!
Entretanto, há muitos outros sendo organizados, inclusive um no Rio de Janeiro, que ficou sob minha responsabilidade.
— QUERO AJUDAR A ORGANIZAR O LANÇAMENTO DO LIVRO EM MINHA CIDADE —
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Abaixo, o material de divulgação do livro, com o prefácio de Inês Nassif e uma introdução de Mino Carta.
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Como “pagamento” pela coordenação editorial do livro, ganhei algumas centenas de exemplares do livro. Se você quiser ajudar o Cafezinho, compre o livro aqui mesmo no blog. Eu vou começar vendendo, porém, apenas um combo contendo os volumes 1 e 2 da Enciclopédia do Golpe.
O volume 1 da Enciclopédia do Golpe, que traz artigos mais gerais sobre o golpe, também é um clássico importante dessa literatura de resistência política que vem florescendo com muita força. Tem verbetes escritos pelos historiadores Luiz Alberto Moniz Bandeira (é um de seus últimos textos, antes de falecer) e Fernando Horta, o sociólogo Jessé Souza, o jornalista Luís Nassif, o ex-ministro da Justiça, Eugênio Aragão, desembargadora Magda Biavaschi, e o economista Luiz Gonzaga Belluzzo. Os juristas Lenio Luiz Streck, Martonio Mont’Alverne Barreto Lima e Beatriz Vargas Ramos também assinam artigos no livro.
Compre aqui os dois livros! Para agregar valor ao produto, o editor do Cafezinho vai adicionar ao combo um recado assinado por ele mesmo, personalizado para cada comprador, numa folha de papel à parte, que irá junto com os livros.
O tempo de entrega deverá ser de duas a três semanas.
Compre aqui o combo dos volumes 1 e 2 da Enciclopédia do Golpe
Pedro Cândido Aguarrara
02/03/2018 - 12h28
Já passou da hora, há MUITO TEMPO, do Senado da República falar GROSSO com esses cartéis de juízes, policiais federais e procuradores de MPF. O Judiciário não pode TUDO!!! Se o Senado quiser dissolve esse STF (Somos Todos Fascistas) que está aí, CHEIO DE IRREGULARIDADES, recebendo até Auxílio Gasolina Aditivada, e com os ministros sentados em cima de processos “sensíveis”, como os de Serra e Aécio, como se estivessem sentados num vaso sanitário!!!
Já passou da hora dos políticos entenderem que quem tem PODER POLÍTICO é quem tem VOTO!!! E enquadrar o Judiciário e a Mídia que estão querendo mandar mais que os políticos ELEITOS sem ter VOTO!!!
BASTA DE MÍDIA IDEOLÓGICA EM CONLUIO COM JUDICIÁRIO IDEOLÓGICO!!!
“Existem leis para proteger a Liberdade de Imprensa. Mas também deveria existir leis para defender a população da Imprensa.”
Mark Twain
José Ricardo Romero
02/03/2018 - 09h20
O golpe de 64 tinha um discurso para se justificar, livrar o país do comunismo, pura balela, que nunca colou. Os livros de história, o senso comum, o conhecimento geral da história das américas cristalizou conceitualmente aquele período como ditadura e seus generais, Castelo Branco, Figueiredo, Costa e Silva e outros, como ditadores, tão ou mais sanguinários como os demais que se espalharam por países como Chile, Argentina e Uruguai. O conceito atribuído às FFAA é o de ter traído e vendido o país aos EEUU e traído, torturado e matado o seu povo. Não adianta discurso contrário, esta é a narrativa oficial, dos livros, do que é ensinado nas escolas, do senso comum.
O golpe de 2016 perdeu a guerra da narrativa. Livros, a divulgação das ideias e agora estes cursos universitários que ainda vão se multiplicar com imprevisíveis consequências na cristalização de ideias, consolida conceitualmente o momento político brasileiro como uma ditadura jurídica/midiática, agora transformada em milico/jurídico/midiática, cujo objetivo foi recolocar no poder partidos que não ganham eleições para entregar o país, as conquistas dos trabalhadores e suas riquezas, aos interesse do moribundo neoliberalismo econômico e a uma geografia política de interesse do hemisfério norte. Não há mais retorno. Nada poderá reverter conceitualmente o governo de ladrões e seus protagonistas institucionais, partidários e de pessoas. Eles têm o poder e fazem o que estão fazendo. Mas a história universal já escreve as suas biografias.