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Janio de Freitas: Dois pesos e dois mensalões

procurador-geral da República, Roberto Gurgel, com seu gosto de medir o tamanho histórico dos escândalos, daria ali muito trabalho à sua tortuosa trena. Já não será por passar sem que a imprensa e a TV noticiosas lhes ponham os olhos, que o mensalão do PSDB e as protetoras deformidades policiais e judiciais ficarão encobertas.

2 comentários
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Observação: andei criticando Janio de Freitas, por seu posicionamento estranho no caso do Cachoeira, defendendo a anulação dos áudios, mas nas mesmas críticas faço elogios ao jornalista, um dos poucos a ostentar, em função de sua idade e história, um pouco de independência opinativa na grande mídia.

Dois pesos e dois mensalões

DE SÃO PAULO, na Folha.com (Via Azenha)

Na sua indignação com o colega Ricardo Lewandowski, o ministro Joaquim Barbosa cometeu uma falha, não se sabe se de memória ou de aritmética, que remete ao conveniente silêncio de nove ministros do Supremo Tribunal Federal sobre uma estranha contradição sua. São os nove contrários a desdobrar-se o julgamento do mensalão, ou seja, a deixar no STF o julgamento dos três parlamentares acusados e remeter o dos outros 35, réus comuns, às varas criminais. De acordo com a praxe indicada pela Constituição.

Proposto pelo advogado Márcio Thomaz Bastos e apoiado por longa argumentação técnica de Lewandowski, o possível desdobramento exaltou Barbosa: “Essa questão já foi debatida aqui três vezes! Esta é a quarta!” Não era. Antes houve mais uma.

As três citadas por Barbosa tratavam do mensalão agora sob julgamento. A outra foi a que determinou o desdobramento do chamado mensalão mineiro ou mensalão do PSDB. Neste, o STF ficou de julgar dois réus com “foro privilegiado”, por serem parlamentares, e remeteu à Justiça Estadual mineira o julgamento dos outros 13.

Por que o tratamento diferenciado?

Os nove ministros que recusaram o desdobramento do mensalão petista calaram a respeito, ao votarem contra a proposta de Márcio Thomaz Bastos. Embora a duração dos votos de dois deles, Gilmar Mendes e Celso de Mello, comportasse longas digressões, indiferentes à pressa do presidente do tribunal, Ayres Britto, em defesa do seu cronograma de trabalho.

A premissa de serem crimes conexos os atribuídos aos réus do mensalão petista, tornando “inconveniente” dissociar os processos individuais, tem o mesmo sentido para o conjunto de 38 acusados e para o de 15. Mas só valeu para um dos mensalões.

Os dois mensalões também não receberam idênticas preocupações dos ministros do Supremo quanto ao risco de prescrições, por demora de julgamento. O mensalão do PSDB é o primeiro, montado já pelas mesmas peças centrais -Marcos Valério, suas agências de publicidade SMPB e DNA, o Banco Real. Só os beneficiários eram outros: o hoje deputado e ex-governador Eduardo Azeredo e o ex-vice-governador e hoje senador Clésio Andrade.

A incoerência do Supremo Tribunal Federal, nas decisões opostas sobre o desdobramento, é apenas um dos seus aspectos comprometedores no trato do mensalão mineiro. A propósito, a precedência no julgamento do mensalão do PT, ficando para data incerta o do PSDB e seus dois parlamentares, carrega um componente político que nada e ninguém pode negar.

A Polícia Federal também deixa condutas deploráveis na história do mensalão do PSDB. Aliás, em se tratando de sua conduta relacionada a fatos de interesse do PSDB, a PF tem grandes rombos na sua respeitabilidade.

Muito além de tudo isso, o que se constata a partir do mensalão mineiro, com a reportagem imperdível de Daniela Pinheiro na revista “piauí” que chegou às bancas, é nada menos do que estarrecedor. O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, com seu gosto de medir o tamanho histórico dos escândalos, daria ali muito trabalho à sua tortuosa trena. Já não será por passar sem que a imprensa e a TV noticiosas lhes ponham os olhos, que o mensalão do PSDB e as protetoras deformidades policiais e judiciais ficarão encobertas.

É hora de atualizar o bordão sem mudar-lhe o significado: de dois pesos e duas medidas para dois pesos e dois mensalões.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Mucuim

08/08/2012 - 15h18

O programa Roda Viva, TV Cultura, São Paulo-SP, entrevistou o jornalista Jânio de Freitas, nesta segunda-feira, 06-08-2012. Assista ao vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=N0ZJ1ZFRA3Y

spin

08/08/2012 - 11h45

Aqui no sul do Maranhão, em Sambaíba, há anos existe uma TV na praça da matriz. Corri para lá para ver, in loco, a reação do povo diante do “julgamento do século”. O que vi foi a indiferença diante do tema exibido à exaustão pelos belos e belas da Globo. Depois que o JN gastou um longo tempo sobre o tema, reservou uns poucos segundos para o Cachoeira, o que foi uma pena pois, a par da ausência de notícias sobre a rede criminosa, percebi de cara o interesse das pessoas pelo assunto. O JN não falou quase nada sobre este tema, nenhuma palavra sobre a convocação de Gurgel, Civita e Policarpo. Como se explica que um caso tão grave como o Cachoeira não mereça a devida atenção da Globo? Não é por outro motivo que, nestes poucos dias o show do mensalão já desperta sono até nos ministros, imagina só aguentar isso por 30 dias. As Olimpiadas de Londres tem despertado interesse dos sul maranhenses. Em termos de mídia, os jovens estão ligados no facebook via celular, não exatamente acompanhando o mensalão mas a disputa eleitoral local, o PT não apresentou candidatos por aqui, o que me dá a impressão de que o partido preferiu investir em grandes municípios, em São Luis está concorrendo, talvez em Imperatriz, em Balsas não não vi nenhum sinal, pode ser que essa ausência tenha a ver com 2014. Por aqui há muita compra de votos, os candidatos gastam horrores para se manter no páreo. Que o “mensalão” sirva ao menos para por fim no financiamento privado de campanhas eleitorais, o que duvidododo que acontença, pois a mídia e PSDB não querem, imagina só abrir mão do caixa 2. Enfim, uma hipocrisia só.


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