Por Christiele Dantas, exclusivo para O Cafezinho
Hoje, três dias após a revogação da lei Áurea pela aprovação da terceirização irrestrita, podemos dizer que os trabalhadores brasileiros estão sendo empurrados para à dualidade de “afogados” e “sobreviventes”. Esses termos, empregados por Primo Levi, importante escritor judeu que sobreviveu a Auschwitz e narrou seus horrores, descrevem a condição dos judeus capturados pelos nazistas – “afogados” foram os dizimados pela lógica assassina do sistema, e “sobreviventes” os que, por serem úteis à manutenção do regime, foram poupados enquanto podiam ser utilizados. É nosso dever resistir a esse massacre e escapar desse alternativa criminosa.
A Reforma da Previdência, no contexto de crise que atravessamos, que, guardadas às devidas proporções, cria um Estado de Exceção assemelhado aos dos regimes totalitários, será a maior tragédia histórica para a ampla maioria dos trabalhadores brasileiros. Contra ela uma mobilização significativa ocorreu em 15 de março, com a reunião das lutas em prol da pauta reivindicatória e contra um inimigo em comum. Diante da repercussão dos atos ocorridos em 22 capitais, reunindo milhares de manifestantes, com destaque para a multidão de 200 mil pessoas na Avenida Paulista, o governo ilegítimo de Michel Temer enviou nesta semana propostas de alteração do texto da PEC, como forma de promover um racha na unidade do movimento.
A primeira proposta foi a exclusão da categoria de servidores públicos estaduais e municipais do texto da reforma. Apesar de ser considerado um ‘constitucionalista’, Temer pareceu desconhecer o item da Carta Magna que certifica à União a definição de regras gerais da Previdência para servidores públicos.
Procurando superar o entrave da barreira constitucional exposto pela primeira proposta de mudança (afinal a Constituição Cidadã de 1888 tem se apresentado como uma barricada contra o avanço do rolo compressor sobre os direitos sociais), os golpistas se empenham na desarticulação da luta unificada ao sugerirem como segunda proposta salvar professores e policiais civis do terror dos 49 anos de contribuição e do limite mínimo de 65 anos para aposentadoria. Gerando a revolta de setores do judiciário que se debatem, procurando um bote para também escaparem da tempestade, a proposta que garantiria a sobrevivência dos professores e policiais civis (já que os militares já estão ancorados em terra firme), ainda está sob análise da relatoria.
Outra forma de blindar a Reforma seria viabilizar pequenas concessões, tais como, a desvinculação dos Benefícios de Prestação Continuada (BPC) concedidos a idosos e deficientes da baixa renda do reajuste baseado no salário mínimo (porém mantendo a idade mínima de 65 anos), e no caso do trabalhador rural haveria uma flexibilização (termo generalizante, que deixa vaga qual a verdadeira proposta para a categoria) no que trata da forma da contribuição.
Pressionado também por partidos da base aliada e por integrantes de seu próprio partido, tendo isso gerado uma preocupação maior do que os protestos (mesmo porque no mesmo dia das manifestações, Temer declarou que o povo estava começando a aceitar a necessidade da Reforma), o desgoverno articula meios de aprovar a PEC, utilizando-se de subterfúgios, tal qual o fez com a terceirização irrestrita, quando desengavetou o projeto de FHC, de 1998, dependendo apenas de maioria simples no plenário. Desta vez, Michel Temer, o soldado raso da Gestapo, representada pelo capital, pretende criar uma cisão no movimento contra a desumana Reforma da Previdência, isentando categorias de trabalhadores de participarem das novas regras.
Ao contrário dos judeus submetidos a mais torpe forma de degradação moral, cerceados da possibilidade de resistirem, por um motivo ou outro, confinados aos campos de concentração que os transformaram em mortos-vivos, obrigando-os a escolherem entre afogar-se ou sobreviver, nós trabalhadores brasileiros ainda temos a chance de não permitir que tal fronteira seja estabelecida. Não podemos conceber o arbítrio de salvarmos a própria pele e deixarmos nossos irmãos à deriva. Ou sobrevivemos todos ou nos afogamos na mesquinhez da falta de solidariedade.
Mas para isso é preciso luta e determinação contra um governo que, paradoxalmente, aprova as medidas mais duras que já se viu no campo social e trabalhista no país e, no entanto, é o mais fraco e desprezível que a República já produziu.
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Andre Massao Noce
26/03/2017 - 02h09
Kkkkk… Golpista de direita, que nunca frequentou, as aulas de história… Só consegue falar asneira…
Maria Luisa Rosas Bassinelli
26/03/2017 - 01h06
parei de ler no petralha
Raphael Fernandes
25/03/2017 - 13h12
Metade dos problemas que vivemos hoje é culpa dos “hebreus” e seu amor incondicional a dinheiro e sua eterna gratidão aos EUA.
Julio Cesar
25/03/2017 - 11h37
Sem comentários!
Clá
25/03/2017 - 08h05
Christiele Dantas: belo artigo!
No meu entender, o problema da solidariedade é central: as pessoas não estão entendendo que, mesmo que escaparem à PEC 287, não escaparão ao Estado Mínimo que está sendo instaurado e que, se tiver sucesso, vai submeter TODA a população brasileira às regras do capitalismo financeiro, ou seja, ao salve-se quem puder. É óbvio que a solidariedade é a única ferramenta capaz de derrubar essa PEC. Veja as fragilidades:
1) ano pré-eleitoral
2) parlamentares desesperados para garantir o foro privilegiado para se salvarem do “justiceiro de Curitiba”
3) Fragilidade do núcleo duro do governo, todo envolvido em denúncias
4) grande parte da população que lutou a favor do impeachment já recobrou a consciência e está se posicionando contrária a muitas medidas que estão sendo propostas pelo “postiço”.
5) o recuo (ilusório) do “postiço” diante das manifestações do dia 15 de março – retirando categorias do alcance da PEC, como se desconhecesse o princípio da isonomia – é a medida da fragilidade de sua posição.
Ou seja: nós, cidadãos brasileiros – e agora não importa a categoria a qual pertencemos – temos a faca e o queijo nas mãos. Já ficou claro que, se nos unirmos, teremos poder para derrotar a maldita PEC. Não fazê-lo, seria assinar nosso atestado de resignação em relação ao futuro que virá. Isso seria de uma placidez bovina.
sergio caravelas
24/03/2017 - 21h07
SE EMPREGADO ENTENDESSE ALGO DE ECONOMIA EO QUE É MELHOR PARA O FLUXO ECONOMICO , ESTE NAO SERIA O EMPREGADO E SIM O PATRONN..
SOU A FAVOR DA TERCEIRIZAÇÃO SIIIIMMMM
QUEM É CONTRA SÃO OS COITADOS ANALFABETOS MORTADELAS.. QUE AGORA TERÃO QUE SE ESFORÇAR P MANTER SEU EMPREGO.. E NAO MAMAR SEGURO DE 6 EM 6 MESES
Jhonny Rot
27/03/2017 - 10h19
Se os “patrões” brasileiros entendessem de economia teríamos mais empresas brasileiras de ponta, conhecidas no mundo inteiro, é não empresas que são ou foram estatais como Petrobrás,Vale e Embraer.
Ou você acha que fora do Brasil alguém conhece alguma empresa daqui, nem a Ambev…
No que dependesse dos patrões ainda estaríamos na escravidão e exportando pau Brasil…classe com a mente retrógrada…pequenininha como as empresas que dirigem…
Gustavo Pacheco
24/03/2017 - 23h45
Que comparação mais bizarra. O grande problema nas relações do trabalho é a altíssima carga tributária cobrada, ou seja, o governo diz que protege o trabalhador, mas na verdade está se apropriando de dinheiro tanto do empregado quanto do empregador.
Andre Massao Noce
26/03/2017 - 02h08
Kkkkkk… Capitalista reclamando do próprio sistema é hilário… Até agora os capitalistas, não quiseram fazer reforma, pois preferem não ter concorrência…
Leidy Hair
24/03/2017 - 23h45
Eh pior que o holocausto.BrillHante a materia do Cafezinho.
Leidy Hair
24/03/2017 - 23h41
Continuano
Leidy Hair
24/03/2017 - 23h40
Pois na mina opniao a reforms da previdencia
marcosomag
24/03/2017 - 20h24
Creio que o Brasil que a elite quer é a África do Sul do “apartheid”. Conseguiram isso de forma relativa durante muito tempo, com o povo pobre confinado nos “bantustões” das periferias, saindo de lá apenas com o “cartão de passe” (a carteira de trabalho devidamente assinada). No caminho ao estados de coisa atual, a Polícia matando cada vez mais e mais os excluídos de tal sistema perverso. Agora, nem a carteira de trabalho servirá mais como “passe”. Por exemplo, nos fins de semana da Grande São Paulo há sempre as interdições de linhas de trens suburbanos para “reformas” de um sistema de transporte que nunca melhora, apesar de tanto “esmero” da CPTM em sua “melhoria”. É uma forma de isolar o povo na periferia para que não tenha a ousadia de “invadir” espaços da camada média da população, que é eleitora dos governos do PSDB que se sucedem no Estado, como o Parque do Ibirapuera. Alijados de qualquer possibilidade de ganhar a vida sem ser perseguido pelo Polícia, o povo é mantido sob vigilância nos “bastustões” periféricos e, qualquer tentativa de contestação a barbárie é reprimida com violência “justificada” pelos apresentadores de programas policiais na televisão. Ou reagimos agora ou seremos escravos por muito tempo.
C.Poivre
24/03/2017 - 19h58
Desigualdade sem precedentes liga o alerta vermelho da plutocracia mundial:
https://caviaresquerda.blogspot.com.br/2017/03/conheca-o-esquerdopata-nick-hanauer.html
Sidnei
24/03/2017 - 19h41
Os golpistas são espertos.
Recuaram na Reforma da Previdência e, via terceirização conjugada com Pec 55, deram um golpe fatal no INSS.
Não precisa de reforma. O sistema foi ferido de morte. Uma morte lenta.
A aposentadoria tende a ser uma bolsa-família pra poucos. É uma questão de tempo.
Katinha Ladeira
24/03/2017 - 21h54
Resistiremos
Patricia Kilza Araujo
24/03/2017 - 20h58
Agora podemos reagir! Essa situação política pode ser revertida
Anônimo
24/03/2017 - 20h03
Patrícia, que engraçado! Seu primeiro comentário foi antes das 18.30hs, mas saiu como 20.56hs! Daí quase uma hora depois você fez outro comentário, e saiu como 20.58hs!! Que estranho.
Patricia Kilza Araujo
24/03/2017 - 20h56
Cafezinho, não é correto usa o holocausto, para esse tema, aquilo que aconteceu, é absurdamente incomparável, acho melhor, vocês reverem
Bajonas Teixeira
24/03/2017 - 18h30
Kilza, não creio que seja incorreto. Ao contrário. Se você leu Hannah Arendt, Eichmann em Jerusalém, o que caracteriza o holocausto é justamente a sua trivialidade, o fato de que um bandido medíocre como o Eichmann, intelectualmente muito limitado, tenha desempenhado o papel que desempenhou, arquitetando a logística do transporte de milhões para os campos. Ele e milhares, e centenas de milhares iguais a ele foram arquitetos da solução final. Por isso, Arendt cunhou a noção de “banalidade do mal”. Pois bem. O nosso Temer, o nosso Jucá, o nosso Moreira, e todos aqueles iguais a eles que estão trabalhando pelo golpe, fazem coisa semelhante. Só que, inseridos no nosso cotidiano cinzento, tendemos a ver a nossa história de hoje como mera banalidade, convencidos de que não é nada demais – afinal temos um mundo tão moderno, com celulares, smartphones, etc., etc. Seria impossível, não? Não, não é. É preciso olhar abaixo da máscara do cotidiano, ou seja, do meramente familiar. Hoje vivemos um ataque assassino, fisicamente assassino (através da retirada das condições materiais de sobrevivência, salário, emprego, etc., e através do reforço da violência policial insana) contra uma possibilidade de país. É um assassinato histórico, não simplesmente desse ou daquele indivíduo, mas de um país que seria possível, não fosse o canibalismo das nossas elites. Leia, se algum dia tiver oportunidade, o texto de Grossman, “Treblinka, julho de 1944”, e o livro de Primo Levi, É isso um homem? e, depois, o de Rajchman, Eu Sou o Último Judeu – Treblinka (1942-1943) . Depois de se familiarizar com todos esses horrores, pergunte se eles tem alguma coisa a ver com o que temos de mais banal. Pense nas rebeliões nos presídios no início do ano, pense nas decapitações, nas violências de todo tipo de praticas. Por fim, reflita sobre o sistema prisional brasileiro, com centenas de presos amontoados e torturados diariamente pela superlotação. São mais de meio milhão de pessoas em condições subumanas. Mas serão dois ou três milhões assim que esse novo Brasil, o Brasil do golpe, estiver protinho. Ai, você pode perguntar: por que não somos sensíveis a tudo isso? A resposta é a banalidade do mal. Abç
Jhonny Rot
24/03/2017 - 18h33
Desculpe mas não acho.
Essas “reformas” acabarão com mais vidas do que o Holocausto.
Só de trabalhadores que devem perder direitos básicos estão previstos mais de 15 milhões
Lili Brown
24/03/2017 - 20h09
Dia 31 todos nas ruas do brasil inteiro mzndando uma mensagem clara ais golpistas: NAO A TERCEIRIZACAO! NAO A REFORMA DA PREVIDENCIA! NAO ACEITAMIS ILEGITIMOS NO PODER! NAO A VENDA DO PRE SAL E DAS RIQUEZAS BRASILEIRAS! NAO AO IMPEACHMENT COMPRADO PARA PROTEGER CORRUPTOS, ENTREGAR NOSSAS RIQUEZAS NATURAIS, DESTRUIR EMPRESAS NACIONAIS E ESCRAVIZAR O POVO BRASILEIRO!
Orlando Rocha
24/03/2017 - 16h41
Vc acha exagero comparar a situação brasileira atual da Alemanha de quase 80 anos atrás ?
Para refrescar memórias, o nazismo colocou judeus prisioneiros para trabalharem em suas fábricas a trouco de uma comida miserável e roupas recicladas de pessoas mortas. Alguns guetos ou campos de concentração eram construídos ou criados em voltas das fabricas, o inverso tb acontecia.
Muitos empresários alemães ficaram milionários com estas terceirizações, como os donos das fábricas de Jazeronac na Croácia, além de outras em Praga e Budapeste.
Esta é a privatização implantada a partir de agora no Brasil. Quem viver verá
Atreio
24/03/2017 - 16h40
o levante já começou. o poder emana do povo, abriremos os portões!
não vai levar 21 anos de novo.
sem cirme, sem impeachment.
pra corrigir erros, reDILMA-se!
Laercio Ferreira
24/03/2017 - 19h31
A DEFORMAÇÃO D SEGURIDADE SOCIAL ,SÃO CALAMIDADES PRO VELHOS DA PREVIDÊNCIA , MAS O PERIGOSO MESMO É A DEFORMAÇÃO DA CLT , DEFORMAÇÃO TRABALHISTA , QUE SÃO PESSOAS NO AUGE DA CARREIRA SENDO SURRUPIADAS POR ESTES VAGABUNDOS DOS GOVERNOS?? ESTADUAIS E FEDERAIS, TERÇA E QUARTA EXPEDIÊNTE NORMAL DO CONGRESSO?/