Chutando a escada é uma metáfora criada pelo sul-coreano Ha Joon Chang para explicar a dificuldade de crescimento econômico em países que ainda estão em desenvolvimento. Ele explica que países desenvolvidos forçam outras nações menos desenvolvidas a adotar políticas que não necessariamente induzam ao crescimento. No governo de Michel Temer, a elite chuta a escada dos mais pobres e impõe um cartel de reformas neoliberais. A classe trabalhadora termina sendo a mais atingida, e a desigualdade deve aumentar.
A revolta das elites brasileiras contra a redução das desigualdades
Por Marcio Pochmann
A receita para a redução da desigualdade no capitalismo industrial pode ser sintetizado por três componentes principais. Especialmente a partir do final da segunda grande Guerra Mundial (1939 – 1945), os países industrializados convergiram para a constituição (1) do fundo público ampliado assentado na tributação progressiva, (2) do Estado de bem estar social de cobertura universal e (3) da regulação da relação entre o capital e o trabalho concomitantemente com o estabelecimento do pleno emprego.
Para a ampliação do fundo público, a concentração da tributação sobre os rendimentos da propriedade (juros, lucros, aluguéis e renda da terra) se destacou, aliviando a arrecadação na base da pirâmide social, especialmente sobre os assalariados. O importo de renda, de herança e de riqueza foram os principais instrumentos tributários a contribuir não apenas com a ampliação da receita pública, mas com o efeito corretivo sobre os segmentos dos maiores rendimentos na sociedade.
No caso do Estado de bem estar social coube superar, inicialmente, o antigo Estado mínimo comprometido com apenas as funções de monopólio da tributação, da violência (ação policial e justiça) e da moeda. Assim, a sua constituição representou a universalização da seguridade social, com a garantia dos serviços públicos de boa qualidade (educação, saúde, transporte, saneamento, entre outros) e transferência de renda aos segmentos sociais, especialmente aos pauperizados da população.
Por fim, a regulação das relações entre o capital e o trabalho permitiu que o pleno emprego se realizasse, com o valor do salário mínimo acompanhando os ganhos reais de produtividade. Também a difusão dos contratos coletivos de trabalho pela atuação dos sindicatos favoreceu a proteção dos trabalhadores mais vulneráveis, cuja conquista da estabilidade no emprego foi perseguida pelo repasse da produtividade aos salários.
No Brasil, todavia, a receita de combate à desigualdade terminou ficando no segundo plano. Somente no período democrático iniciado em 1985, que o conjunto de ações mais efetivas terminou sendo aplicadas.
A começar pela Constituição Federal de 1988, responsável por estabelecer as bases do Estado de bem estar social. Com isso, o gasto social que equivalia a 13,5% do Produto Interno Bruto (PIB), em 1985, saltou para 23,4% do PIB no ano de 2014.
Do ponto de vista do combate à desigualdade, os avanços tributários foram praticamente inexistentes, uma vez que a carga do Estado seguiu concentrada na base da pirâmide social brasileira. Os principais tributos em termos de arrecadação do Estado assentam-se no consumo, sendo aqueles mais regressivos possíveis, o que significa dizer que a ampliação do Estado de bem estar social foi financiado pela maior carga tributária paga pelos pobres, não os ricos.
Para a relação entre o capital e trabalho, o salário mínimo se mostrou essencial, especialmente nos anos 2000, com valores reais crescendo acima da média salarial do país. Assim, não apenas os trabalhadores ativos foram favorecidos, como também os inativos beneficiados pela seguridade social.
Tudo isso, contudo, sofre atualmente um revés inquestionável. A elite do país terminou se rebelando contra o modelo de combate à desigualdade social presenciado somente mais recentemente no Brasil.
O governo Temer, porta voz dos interesses da elite revoltada, deságua um conjunto de reformas neoliberais que torna cada vez mais desigual a situação do conjunto dos brasileiros. A classe trabalhadora termina sendo a mais atingida, com o desemprego em alta, o rebaixamento dos salários, o corte nos gastos públicos, especialmente o social, e o fim da previdência social tal como até então se conhecia.
Hilario Muylaert
21/12/2016 - 17h49
Na verdade, Torres, a queda nas receitas ( impostos ), causada, tanto pela desaceleração econômica, quanto pela excessiva desoneração de impostos para a industria (erro estratégico de Dilma )são as responsáveis maiores pelo descompasso entre receitas e despesas. E, também, as pautas-bomba do Congresso, a campanha “contra o Brasil”, e sua economia orquestrada pela Globo e cia.
Como sugere o Márcio Pochmann, ao invés de cortar gastos, temos que criar e elevar alíquotas dos impostos diretos ( capital, renda, herança, riqueza, etc…. ). Ou seja, equilibrar pelo flanco da receita.
Os coxinhas ainda não se deram conta( pelo menos, a maioria deles) de que o projeto ora imposto à sociedade brasileira vai penalizar diretamente as classes C, D e E, ou seja a expressiva maioria da população —— que ficou omissa e/ou apoiou o golpe contra si mesma……Coisa de maluco…….
Hilario Muylaert
21/12/2016 - 12h06
Excelente. Mas é necessário lembrar que as concessões feitas pelo Capital ao Trabalho estão embutidas na conjuntura internacional da guerra-fria, ou seja, os vencedores da “2ª guerra” US foram benevolentes com seus aliados. Havia a sombra da URSS ( vide guerras e golpes ).
Salientar, também a visão eurocêntrica — que é muito comum entre nós, ocidentais. O Oriente tem a maioria da população mundial, e sequer é considerada nas análises ocidentais.
A dívida pública líquida —- que é a que interessa —- no período de expansão dos gastos sociais ficou na casa dos 35% do PIB.
Ou seja, o período 2003-2014, certamente e mais adiante será conhecido como uma “época de ouro” da economia brasileira recente. É esperar para ver. A coxinhada das clasess C e D ainda vai se lamuriar muito…….tipo…”se eu soubesse que seria assim….não apoiaria, nem ficaria omisso quando deram o golpe ………..”
Daniel Pearl Bezerra
21/12/2016 - 11h09
Galera, assista a um extraordinário comentário sobre a importância das massas das periferias do Brasil: Este mano expõe toda a podridão do sistema! https://www.facebook.com/BlogDilmaRousseff/videos/1334469443261599/
Torres
21/12/2016 - 10h57
Dívida pública saltou 20%.
Beleza, hein…
Hilario Muylaert
21/12/2016 - 12h07
A dívida pública líquida —- que é a que interessa —- no período de expansão dos gastos sociais ficou na casa dos 35% do PIB.
Torres
21/12/2016 - 12h11
A partir de 2014 aumentou muito, tanto nos estados como no governo federal.
Engessaram o Estado com gastos.
Hilario Muylaert
21/12/2016 - 17h52
Torres, na verdade, a queda nas receitas ( impostos ), causada, tanto pela desaceleração econômica, quanto pela excessiva desoneração de impostos para a industria (erro estratégico de Dilma )são as responsáveis maiores pelo descompasso entre receitas e despesas. E, também, as pautas-bomba do Congresso, a campanha “contra o Brasil”, e sua economia orquestrada pela Globo e cia.
Como sugere o Márcio Pochmann, ao invés de cortar gastos, temos que criar e elevar alíquotas dos impostos diretos ( capital, renda, herança, riqueza, etc…. ). Ou seja, equilibrar pelo flanco da receita.
Os coxinhas ainda não se deram conta( pelo menos, a maioria deles) de que o projeto ora imposto à sociedade brasileira vai penalizar diretamente as classes C, D e E, ou seja a expressiva maioria da população —— que ficou omissa e/ou apoiou o golpe contra si mesma……Coisa de maluco…….
Torres
21/12/2016 - 18h14
Sou contra mais impostos e à favor de menos Estado.
Hilario Muylaert
21/12/2016 - 18h43
Sim. Mas qual sua argumentação ??
Torres
21/12/2016 - 18h47
Menos poder ao Estado.
Hilario Muylaert
21/12/2016 - 18h58
Liberais, ultraliberias que apoiaram o golpe…….
Torres
21/12/2016 - 19h01
Eu não apoio nada.
Dilma e Temer, Aécio…
Todos marginais que merecem cadeia.
Não faz diferença alguma.
Por isso mesmo quero menos Estado.
O poder estatal tem que ser pequeno para que esses crápulas possam roubar menos.