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Mídia continua apoiando Clube Nextel

Quer dizer que agora só bandidos podem grampear?

10 comentários
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Um desembargador do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, Tourinho Neto, declarou as escutas envolvendo Carlinhos Cachoeira ilegais porque as justificativas do juiz foram “insuficientes”. Em artigo publicado hoje na Folha, o professor de Direito Público, Joaquim Falcão, explica o negócio:

Indício, diz o dicionário, é sinal aparente de algo que existe. O juiz achou que havia desde o início aparência de ilícitos. Seu cálculo de probabilidade parece se confirmar. Mas o desembargador acha que os indícios só se confirmaram após a escuta.

Ou seja, a Polícia Federal consegue desbaratar uma das mais sinistas máfias políticas da República, e Tourinho Neto diz que “os indícios só se confirmaram após a escuta”. Se outros desembargadores seguirem Tourinho Neto, Carlos Cachoeira, um dos maiores bandidos do Brasil, será solto e a operação Monte Carlo, que desbaratou uma das maiores máfias políticas que já atuaram na república, estará praticamente morta, com reflexos óbvios sobre a CPMI em curso.

É como se os EUA descobrissem os reais autores do 11 de setembro, baseados em escutas telefônicas, prendessem-nos, e um juiz os mandasse soltar porque os “indícios só se confirmaram após a escuta”.

E a mídia, que pressionou o STF a julgar o mensalão às pressas, em pleno período eleitoral, tem dado um apoio tácito à posição de Tourinho Neto. Ninguém manifesta contrariedade. Ao contrário, Jânio de Freitas, para minha grande decepção, vem com aquela conversinha pra boi dormir sobre “uso abusivo de escutas policiais de telefones”.

É a mídia, mais uma vez, dando uma forcinha ao Clube Nextel.

Ora, ontem publicou-se notícia de que as escutas representam um percentual mínimo nas investigações da Polícia Federal! Todas as escutas da PF são autorizadas judicialmente, e embasadas em indícios levantados por competentes investigadores.

A situação é particualrmente absurda porque o esquema desbaratado caracterizou-se justamente por fazer escutas clandestinas.

O modus operandis da organização quadrilheira baseava-se na realização de grampos ilegais, com os quais abasteciam órgãos de mídia, cumprindo dois objetivos centrais:

1) Fortalecer seus prepostos políticos, como Demóstenes Torres, que ia para tribuna brandir discursos éticos contra adversários fragilizados pelos grampos clandestinos e pelas reportagens relacionadas.

2) Chantagear funcionários públicos, forçando-lhes a entrar no esquema.

3) Descobrir segredos de Estado que facilitavam suas operações.

Já se sabe hoje como funcionava a organização Cachoeira. Ela tinha três braços: o político, liderado por Demóstenes Torres, Marconi Perillo e vários outros políticos; o financeiro, liderado pela Delta, que obtinha contratos milionários e derrubava concorrentes a partir das ações da quadrilha; o administrativo, que era comandado por Carlinhos Cachoeira, seus assessores e arapongas.

Sendo que o braço político tinha ramificações no Executivo (Marconi Perillo), no Legislativo (Demóstenes), no Judiciário (Gilmar Mendes?) e na mídia (revistas Veja, Época e jornalistas a serviço). Os nomes entre parêntes são os mais importantes, mas a quadrilha era grande. Tinha no bolso muitos deputados, delegados, funcionários federais, jornalistas, etc.

A grande pergunta que se faz agora é: cade a pressão da opinião pública para impedir que membros corruptos ou incompetentes do judiciário apliquem um profundo golpe contra a democracia brasileira? Cadê os movimentos de corrupção? Onde estão os paladinos da ética? Nenhum estrela da mídia irá se manifestar? Quer dizer que agora só bandidos podem grampear?

Não, Merval Pereira hoje faz a sua bilionésima coluna sobre o… mensalão. Dora Kramer saúda a “concorrência salutar” entre petistas e tucanos, e Fernando Rodrigues repete que a CPMI “perdeu o rumo“.

*

Na verdade, quem parece ter perdido o rumo são os jornalões, que voltaram a bater cabeça (o que é raro: em geral caminham sempre de mãozinhas dadas, com as mesmas opiniões, mesmos colunistas, mesmas fontes). Enquanto Dora Kramer elogia justamente o fato de haver concorrência política na CPMI, o que impede “acordões”, Ilimar Franco critica petistas e tucanos por terem transformado a CPI num ringue de “galos de rinha”.

O raciocínio de Franco, porém, traz um equívoco baseado no pressuposto de que há similaridade entre Agnelo e Perillo. Não há.

Ninguém jamais disse que Agnelo é santo, mas sim que não há nada que o ligue ao esquema Cachoeira. Muito pelo contrário. Ontem isso ficou bem claro, ao se fazer um levantamento dos fatos durante o seu depoimento. O Clube Nextel tentou derrubar Agnelo porque não conseguiu o que queria de sua administração. Pouco depois de Cachoeira e Dadá protestarem contra seus insucessos junto ao governo do Distrito Federal e externarem desejos de retalização contra Agnelo, Demóstenes Torres sobe a tribuna, pau mandado que era de Cachoeira, para pedir o impeachment do governador. E a revista Época inicia ataques sistemáticos a Agnelo.

*

Os jornalões hoje repetem ainda a estratégia de levantar suspeitas sobre a casa de Agnelo Queiroz. Ora, em primeiro lugar, o caso não tem nada a ver com o esquema Cachoeira, então não é escopo da CPI. Se quiserem façam uma CPI da Casa do Agnelo. Para um profissional bem sucedido, médico, deputado federal, ministro, diretor de agência federal e depois governador, comprar uma casa própria para si próprio, com ajuda da esposa, no valor de 400 mil reais, não é evidentemente nenhum absurdo.

O caso Perillo é totalmente diverso. Ele vendeu a casa ao principal bandido investigado pela CPI! Carlos Cachoeira, o homem central da organização criminosa que é o foco da CPI, morava na casa que o governador lhe vendeu! Ou seja, a casa de Perillo tem obviamente ligação com o esquema Cachoeira. A casa de Agnelo, não.

*

Assine a petição que pede à Justiça que não comete esse crime contra a democracia. Que não considere ilegal as escutas da Monte Carlo, o que praticamente anularia todo o inquérito e libertaria os principais bandidos.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Comentários

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Mauricio

18/06/2012 - 11h34

O Tourinho tá compradinho.

Mucuim

15/06/2012 - 06h36

Stanley Burburinho: Genealogia de Tourinho

1 – Nome do desembargador que autorizou a transferência de Cachoeira do presídio de segurança máxima no RN para a Papuda, em BSB: Tourinho Neto -http://www.jornalopcao.com.br/posts/ultimas-noticias/carlinhos-cachoeira-sera-transferido-para-brasilia

2 – Nome do desembargador que quer anular os grampos das operações Vegas e Monte Carlo: Tourinho Neto – http://www.aredacao.com.br/noticia.php?noticias=13948

3 – Nome do relator que desbloqueará os bens da Vitapan, empresa de Cachoeira: Tourinho Neto -http://www.jornaldotocantins.com.br/20120613123.128592#13jun2012/politica-128592/

4 – Desembargador acusado de querer “soltar todo o crime organizado de Goiás, DF e adjacências” – http://www.dignow.org/post/desembargador-tourinho-neto-quer-soltar-todo-o-crime-organizado-de-goiás-df-e-adjacências-4206743-57849.html Tourinho Neto

5 – Desembargador que, antes de tomar posse, já estava na mira Eliana Calmon e de conselheiros do CNJ – http://veja.abril.com.br/blog/radar-on-line/judiciario/chegada-vigiada/ Tourinho Neto

6 – De qual Tribunal Regional Federal é o desembargador Tourinho Neto? Ele é do TRF-1 do DF.

Link: http://maureliomello.blogspot.com.br/2012/06/stanley-burburinho-genealogia-de.html

Zapper

14/06/2012 - 22h40

Uma observação: A grande mídia é diversionista mas os chamados “blogs sujos” mais engajados tb são culpados pela dispersão de forças. Ao invés de persistirem incansavelmente nas acusações e cobrarem resultados, facilmente perdem o foco e vão pulando de galho em galho acompanhando os direcionamentos que lhes é imposto pela grande mídia, o chamado PIG. Veja o caso da Privataria Tucana, a gande mídia não deu bola e as redes sociais deixaram o assunto minguar e pararam de falar nele. O tema simplesmente morreu sem que fosse cobrada uma posição do Judiciário, que por sinal é uma piada (de péssimo gosto). Os blogs acabam sendo acuados no corner tentando defender, por exemplo, o Mensalão e deixam de atacar as verdadeiras mazelas dos corruptos de plantão. A grande mídia pauta os blogueiros e assim caminha a humanidade…

    admin

    15/06/2012 - 00h04

    Zapper, os blogs sujos fazem análise da situação política. Quem tem de fazer e acontecer são as autoridades responsáveis.

    admin

    15/06/2012 - 02h04

    mas você tem uma pontinha de razão. a gente percebe esse dilema. é uma fragilidade nossa, ainda somos pautados. mas é uma etapa. aos poucos vamos nos libertando.

Zapper

14/06/2012 - 21h38

É óbvio que os indícios se confirmaram após as escutas, senão não seriam “indícios” e sim “evidências”. Se para se iniciar uma investigação fossem necessárias evidências, então a própria investigação seria desnecessária e ela própria seria a conclusão.

    admin

    15/06/2012 - 02h05

    incrível como precisamos repisar o obvio, não? mas acho que foi assim em todas as épocas. o óbvio às vezes é o mais difícil de provar.

      admin

      15/06/2012 - 02h06

      digo, instâncias de poder concentrado sempre temeram o óbvio.

Elson

14/06/2012 - 19h43

As escutas seriam ilegais, se, não apontassem para crime algum, e, a PF tivesse vazado. Como, as escutas mostram membros da quadrilha, políticos e jornalistas praticando diversos crimes, isso não aàs tornam ilegais.

Adriano Matos

14/06/2012 - 14h42

O que se confirmaram após as escutas foram os elementos de convencimento pro MP denunciar. As suspeitas vêm desde antes da operação Monte Carlo…

O Juiz que autorizou as escutas via indícios claros de conduta criminosa. A operação está sendo boicotada na segunda instância que é um colegiado. Temos que ficar de olho nas declarações dos outros desembargadores.

Esse é um caso semelhante à operação Satiagraha. Naquele tempo eu percebi, os inimigos da pátria estavam todos juntos agindo e torcendo contra: veja, globo, etc.


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