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Estadão: As universidades de Lula

“Estamos discutindo Hegel e a molecada está no recreio, fazendo correria ao lado.”

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Editorial do O Estado de S. Paulo – 04/06/2012

Nas centenas de discursos que o presidente Lula pronunciou nos últimos meses de seu mandato, em 2010, um dos temas mais recorrentes foi a educação. Em diversas oportunidades afirmou ter criado mais universidades que o presidente Juscelino Kubitschek. Em cinco anos de governo, JK criou 10 instituições, enquanto Lula, em seus dois mandatos, criou 14, sendo 10 voltadas para a interiorização da educação superior e 4 para promover a integração regional e internacional.

Um ano e meio depois de ter deixado o governo, algumas das universidades por ele inauguradas com muita pompa, circunstância e rojão funcionam em instalações emprestadas e prédios improvisados, sem água, refeitório, biblioteca e professores em número suficiente. O câmpus da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) em Guarulhos é uma boa amostra do tipo de instituições de ensino erguidas pelo presidente “recordista” com a preocupação precípua de “mostrar serviço”.

O acesso ao câmpus é difícil e não há ônibus suficientes. As salas de aula são abafadas. O refeitório funciona num galpão de madeira. Cerca de 30 mil livros destinados à biblioteca continuam encaixotados. A biblioteca tem 240 mil livros mas, como não há lugar onde colocá-los, só 70% do acervo pode ser consultado. Por falta de infraestrutura, o laboratório de informática não tem como ser ampliado. A demora para se tirar uma fotocópia é de 40 minutos, em média. E quando os 50 computadores são operados simultaneamente, a velocidade da internet cai.

Projetado originariamente pela prefeitura de Guarulhos para abrigar uma escola técnica, o câmpus funciona desde 2006, oferecendo cursos de ciências sociais, filosofia, história, letras e pedagogia a cerca de 3,1 mil alunos. Mas, como um edifício prometido desde 2007 jamais saiu do papel, os poucos prédios disponíveis estão superlotados e algumas aulas tiveram de ser transferidas para uma escola municipal que atende cerca de 700 crianças.

Nessa escola, os cursos da Unifesp são dados à tarde e à noite, mas o número de salas também é insuficiente. “Estamos discutindo Hegel e a molecada está no recreio, fazendo correria ao lado. Como não há ventilação e o prédio pega sol o dia inteiro, no verão é insuportável”, diz o estudante Michael de Santana. Por causa da falta de salas climatizadas, a ilha de edição de vídeo financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo não pode ser usada. Além disso, há carência de professores em muitos cursos e o quadro administrativo tem menos da metade do número de servidores necessários.

Para exigir que o governo da presidente Dilma Rousseff terminasse o que Lula “inaugurou”, os alunos deflagraram uma greve no final de março, que perdura até agora. Em maio, ocuparam a reitoria acadêmica por três dias. A direção do câmpus da Unifesp em Guarulhos alega que o uso das dependências da escola municipal do bairro dos Pimentas foi planejado de comum acordo com a prefeitura de Guarulhos, como contrapartida pela instalação do câmpus na cidade, em 2007. As salas serão devolvidas quando o prédio novo – cuja licitação só foi concluída este ano – for construído. Para amenizar os problemas, a Unifesp alugou um prédio em frente ao câmpus, para servir de sala de aula.

Outras universidades federais criadas por Lula enfrentam problemas semelhantes. Na própria Unifesp, um dos prédios da unidade da Baixada Santista está interditado desde o final de abril, por causa de uma forte chuva. Em Minas Gerais, o câmpus avançado da Universidade Federal do Vale do Jequitinhonha, também criada em 2007, só tem um quinto de suas instalações construídas. Na Universidade Federal do ABC, os problemas de gestão e logística desestimularam os alunos – em 2009, a instituição registrou uma taxa de evasão de 42%, uma das mais altas do País.

Esse é o cenário de muitas das universidades criadas por Lula. Suas primeiras turmas estão tendo fortes prejuízos em sua formação acadêmica, como reconhecem os professores e dirigentes dessas instituições.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Luiz Monteiro de Barros

07/06/2012 - 12h59

Tive tempo para dar uma “pesquisadinha” e da 1ª pagina do Google a ultima noticia é esta de 19/11/2011 http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/a-avaliacao-das-novas-universidades-federais

E a discussão entre o H.C Paes com uma tal de Aliança Liberal de onde concluo – Como se aproxima a eleição para prefeito de SP tanto o Aliança como o Estadão estão simplesmente sempre contra Lula/Dilma/Haddad e a favor de Serra. Sempre seja o Serra o que for, pois estão contra de forma radical aos governos de esquerda.

Assim aquela conclusão simplória – Vindo do Estadão se for para criticar o governo Lula/Dilma /Haddad-ENEM é campanha política a favor de Serra. Ponto.

O Cafezinho ao repercutir serve para que eu comente sempre; Não perder o tempo para responder aos trolls que apóiam Serra.

Eduardo Lima

05/06/2012 - 16h51

É duro admitir mas políticos de um modo geral não se importam com a Educação. Querem apenas estatísticas. nº de matrículas; aprovação alta (mesmo que automática). Sérgio Cabral faz com a Educação no RJ o mesmo que os tucanos fazem em SP. Mas o PT é aliado de Cabral, então não critica o que ele faz. Esse é o lado podre da política.

Luiz Monteiro de Barros

04/06/2012 - 13h23

Reflexão sobre o editorial do Estadão. Pensamento linear = vindo do Estadão apoiador explicito e eterno do Serra (seu direito) lógico que busca desqualificar o êxito de Lula. Lembro da conclusão otimista pois que precisamos cultivar otimismo devido a “natural” negativa da realidade pela midia, ou seja noticia ruim vende mais jornal.

“A avalanche de indicadores positivos durante o governo Lula soterrou o pessimismo” de Wanderley Guilherme dos Santos.

Por hora este pensamento linear, simplório me satisfaz plenamente enquanto não pesquisasse pela internet o estado das outras 13 universidades o que seria um pensamento estratégico.

Explico; Talvez o Estadão seja neste caso aquilo que esperamos da verdadeira imprensa, a critica objetiva para melhorar a atuação do Estado.

Só que não gostamos de perder tempo. Pesquisar para contraditar o Estadão que as outras 13, 12, 11, 10……universidades estão a funcionar a contento como explica o Wanderley Guilherme dos Santos.


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