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Espiando o poder – A luta, agora, é nas escolas

[s2If !current_user_can(access_s2member_level1) OR current_user_can(access_s2member_level1)] Espiando o poder: análise diária da grande imprensa Foto: Guilherme Pupo/Folhapress Luis Edmundo Araujo, colunista do Cafezinho No Estado e na Folha de São Paulo de hoje, as ocupações das escolas públicas em protesto contra a reforma do ensino médio e a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 241 ganham as imagens […]

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Espiando o poder: análise diária da grande imprensa

Foto: Guilherme Pupo/Folhapress

Luis Edmundo Araujo, colunista do Cafezinho

No Estado e na Folha de São Paulo de hoje, as ocupações das escolas públicas em protesto contra a reforma do ensino médio e a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 241 ganham as imagens de maior destaque das capas. Na Folha, ao lado do título, “Prós e contras”, a legenda da foto no alto, do mesmo autor dessa aí de cima, informa que “alunos fazem gesto de resistência em escola estadual de Curitiba”. No Estadão a foto fica também no alto da capa e não só é maior, ocupando as seis colunas da largura da página, como mais sombria. Mostra alunos do colégio Guido Arzua, em Curitiba, encapuzados, um deles com a máscara de Jason, da série de filmes de terror Sexta-feira 13. Os alunos fazem a segurança da escola que sofreu tentativa de reocupação, diz a legenda da foto, e embaixo o jornal avisa que “Facções políticas disputam escolas no PR”. Inflado pelo apoio da grande mídia e de organizações estrangeiras para ajudar a derrubar um governo eleito pelo voto, o Movimento Brasil Livre (MBL) agora forma milícias para atacar as escolas ocupadas, sob o olhar complacente de policiais militares. Enquanto isso, os jornais da imprensa familiar recorrem aos amigos do Supremo Tribunal Federal (STF) contra a concorrência, e a denúncia contra José Serra, que ontem foi manchete e ocupou duas páginas da Folha, hoje virou notícia pequena, em uma coluna apenas, em que “Governo Temer silencia sobre acusação a Serra”.

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“Movimento que ocupou 850 das 2100 unidades no PR em protesto contra a reforma do ensino médio despertou debate entre grupos políticos”, diz a legenda da foto da primeira página da Folha. Na matéria de dentro, “grupos inflamam tensão em ocupações de escolas no PR”. Já o Estadão avisa logo na capa que “o clima de radicalização política entre grupos favoráveis e à ocupação de escolas no Paraná, que protesta contra a PEC do Teto, e militantes do MBL, defensores do governo, se agravou em Curitiba”. O Globo sai de novo pela tangente e dá prioridade à eleição ao dizer, em matéria de pé de página, no noticiário sobre eleições, que “escolas ocupadas estão em 16 dos 20 estados onde terá 2º turno”.

Na editoria Rio, o jornal carioca informa em alto de página que “alunos do Pedro II protestam contra PEC dos gastos”. O colégio é de responsabilidade do governo federal e a matéria do Globo diz que “pais, estudantes e professores do Colégio Pedro II promoveram ontem um abraço simbólico à instituição na unidade da Avenida Marechal Floriano, no Centro. Pelo menos 300 pessoas participaram do ato”. “Das 14 unidades da instituição no Rio, seis estão ocupadas pelos estudantes: Centro, Realengo, São Cristóvão, Engenho Novo, Tijuca e Niterói”, diz o texto. E nem o Globo, nem o Estado nem a Folha de São Paulo publicam hoje a informação do blog de Esmael Morais, de que a estudante Ana Julia defenderá as ocupações até na ONU.

Depois de ganhar notoriedade internacional com seu pronunciamento na Assembleia Legislativa do Paraná, a estudante de 16 anos será, segundo Morais, a porta-voz das denúncias que serão feitas contra o governador paranaense Beto Richa (PSDB) na próxima segunda-feira, “em Brasília, na Comissão dos Direitos Humanos do Senado e da Câmara, no MPF, e em agências internacionais como Unicef – de proteção à infância e à adolescência — ligada à Organização das Nações Unidas (ONU)”.

O blogueiro conta que “na madrugada desta sexta-feira (28), milicianos do MBL, sempre amparados pelo poder público, tentaram à força desocupar os colégios estaduais Leôncio Correia, Lysímaco Ferreira da Costa e Pedro Macedo. Não obtiveram êxito em nenhum, pois o número de estudantes e pais favoráveis às ocupações eram muito superiores”. De acordo com Esmael Morais, “a temperatura se eleva sem que Richa tome providências no sentido de proteger os jovens e adolescentes nas escolas ocupadas – o que é dever do Estado, como bem ensinou a aluna Ana Júlia em seu histórico pronunciamento na Assembleia Legislativa”.

Em outra chamada de capa, o Estadão diz que “acordo prevê 500 desocupações”. “O procurador-geral de Justiça do Paraná, Ivonei Sfoggia, anunciou nesta sexta-feira, 28, um acordo judicial, assinado com líderes do movimento estudantil do Estado, suspendendo as decisões de reintegração de posse das escolas por um prazo de dez dias em troca da desocupação dos cerca de 500 colégios tomados desde o início do mês. ‘Os estudantes permanecerão só no Colégio Estadual do Paraná (CEP), em Curitiba’, afirmou Sfoggia, depois de três horas de reunião. Segundo o procurador, ‘com isso o clima de tensão registrado na cidade nos últimos dias tende a desaparecer’”.

O CEP tem cerca de 5 mil alunos matriculados. O acordo foi assinado por lideranças estudantis e pelo defensor público-geral, Sérgio Roberto Rodrigues Parigot de Souza, que representa os estudantes. A matéria do Estadão avisa ainda que “até as 19h30 de ontem, a União Paranaense de Estudantes Secundaristas (Upes) não havia se manifestado.” No Globo, na matéria sobre as eleições, a “União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) contabiliza, até o momento, 1.177 escolas ocupadas em todo o Brasil.  “Se houver votação nas escolas ocupadas é bom para nós, porque assim nos aproximamos da comunidade e podemos debater nossas ideias”, diz, na matéria, a presidente da Ubes, Camila Lanes.

Enquanto segue a luta agora nas escolas ocupadas, as hostes do golpe acertam os ponteiros, como mostram as outras imagens das capas de Estado e Folha de São Paulo. No Estadão, embaixo da manchete em que “Rio estuda taxação de até 30% em salário de servidor”, a presidente do STF, Cármen Lúcia e o presidente Michel Temer compõem a foto em que o presidente do Senado, Renan Calheiros, é cumprimentado pelo ministro da Justiça, Alexandre de Moraes. Na Folha, Moraes não está na foto em que a presidente do STF é a única a não sorrir, abaixo da manchete avisando que “Reforma de Temer pode taxar todos os aposentados”.

Renan havia brigado com Cármen, e também se desentendera com Moraes por conta da ação da Polícia Federal no Senado determinada por um juiz de primeira instância, que culminou com a prisão de quatro agentes da polícia legislativa. O entrevero incomodou a grande imprensa, que pediu nos editoriais pressa, superação logo dessa crise para que fosse votada a EC 241 no Senado. O ministro do STF Teori Zavascki anulou a ação da PF e hoje os três jornais reproduzem na capa a frase de Renan afirmando que “Cármen Lúcia é o exemplo do caráter que nós precisamos que identifique o povo brasileiro.”

Os jornais também destacam nas primeiras páginas, em chamadas pequenas, que, como diz o Globo, “Luz ficará mais cara em novembro”. “Devido à falta de chuvas no Nordeste, a conta de luz voltará a ter cobrança da bandeira amarela, de R$ 1,50 para cada 100kWh consumidos”, afirma o jornal carioca que, como seus dois maiores concorrentes, nada publicou na capa sobre a denúncia  de que o ministro das Relações Exteriores, José Serra, teria recebido R$ 23 milhões pelo caixa 2 da Odebrecht, na campanha à Presidência de 2010. O dinheiro, segundo a denúncia, foi depositado na Suíça, e depois do estardalhaço feito pela Folha ontem, o assunto já começa a desaparecer, como sói acontecer com qualquer notícia negativa para os amigos tucanos da mídia.

Só a Folha deu alguma coisa sobre o caso, bem pequena, na matéria em que, após a reunião com Cármen Lúcia e Renan, Temer “se calou quando questionado sobre as acusações feitas pela Odebrecht contra Serra”. A matéria vem embaixo de outra maior, cujo título no alto da página informa que “deputados tentarão nova anistia ao caixa 2”. Segundo a matéria, a “ideia é pegar carona no pacote de medidas do Ministério Público que propõe criminalizar o financiamento ilegal”. Qualquer caso anterior à eventual aprovação desse pacote, seria automaticamente anistiado.

E se destaca sozinho a mais nova anulação de provas no STF, ao dizer na capa que “bicheiros não vão a julgamento”, na chamada para a matéria que abre sua editoria Rio, em que “STF suspende julgamento de contraventores até que saia decisão sobre escutas telefônicas”, o Globo não publica sobre caso que interessa demais aos próprios jornais brasileiros. É a Folha, na editoria Mercado, que informa que “ANJ vai ao STF por limite estrangeiro em site”.

“A Associação Nacional de Jornais (ANJ) entrou com uma ação direta de inconstitucionalidade para que o Supremo interprete que sites e portais noticiosos estão sujeitos à lei que limita a participação de capital estrangeiro no setor jornalístico”, diz a matéria logo na abertura. “Entre os sites que poderiam ser afetados pela decisão estão El Pais, Huffpost e Terra”, completa o texto. Na linha de frente do golpe, a mídia corporativo-familiar recorre agora aos aliados do STF para limar a concorrência e garantir, cada vez mais, o monopólio do pensamento único.

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Luis Edmundo

Luis Edmundo Araujo é jornalista e mora no Rio de Janeiro desde que nasceu, em 1972. Foi repórter do jornal O Fluminense, do Jornal do Brasil e das finadas revistas Incrível e Istoé Gente. No Jornal do Commercio, foi editor por 11 anos, até o fim do jornal, em maio de 2016.

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