Por João Ricardo W. Dornelles
Há menos de um ano víamos faixas de fundamentalistas evangélicos, fascistas, pretensos moralistas de plantão, pessoas de bem e de bens, todos com panelas nas mãos, camisas amarelas, olhos injetados, ódio no coração. Muitas faixas exigiam a intervenção militar, a morte da presidenta da República, a morte de um ex-presidente operário, a morte de bandidos, a morte da democracia. Exigiam uma sociedade pura, santa, imaculada.
Faixas exigiam “Menos Paulo Freire, mais Olavo de Carvalho”; “Fora Simone de Beauvoir”, “Fora as cotas”. O fascismo societal aparecia com toda a sua crueza e força.
Exigiam impeachment, o fim da era petista, comunista, bolivariana. Exigiam o deus mercado e o fim das cotas raciais, a volta das Jéssicas para os quartinhos de empregada, os aeroportos vazios de povo pobre, a volta das mulheres para o lar.
E todo este movimento, com estímulo de recursos estrangeiros, de apoio da mídia corporativa, do capital internacional, exigiu também a volta de um velho modelo de mulher, “bela, recatada e do lar”. Uma mulher submetida à insignificância e sem poder, liberdade, autonomia. As outras mulheres não seriam puras, belas, recatadas, do lar. Seriam descartáveis, corpos para se usar, marcar, violentar.
A caixa de pandora foi aberta e enterrou esperanças, sonhos, desejos e imagens de um futuro emancipado.
A barbárie venceu.
E é sintomático deste momento, de morte da razão emancipatória, que no mesmo dia em que o Ministério da Educação de um governo golpista, usurpador e anti-povo, recebe um homem truculento, machista, estuprador confesso, primário, uma menina de 16 anos seja violentada, estuprada, ofendida, machucada no corpo e na alma por mais de 30 homens.
É o Brasil da barbárie, do machismo, sexismo, escravismo, opressor, injusto, cruel que volta a mostrar a sua cara.
O sofrimento dessa menina é o de todas e todos os oprimidos. É o sofrimento de todas as mulheres, é a derrota de todos os nossos sonhos. Ali, a humanidade morreu mais um pouco e seu medo, suas lágrimas, sua humilhação é a mesma de milhões de mulheres que diariamente são obrigadas à diferentes formas de submissão, silêncio, violências explícitas ou sutis.
Nenhuma palavra do governo ilegítimo ou seus ministros sobre a violência vivida pela menina. Afinal, o que esperar de um governo que surge de forma violenta , que também estuprou a democracia, a constituição, um governo que acha que um Alexandre Frota é um interlocutor legítimo?
Parabéns aos que exigiram a volta deste Brasil pré-moderno, vocês venceram. Venceu a barbárie, a irracionalidade, o fascismo, o medo, a falta de futuro.
27/maio/2016
Em nome das minhas filhas, Renata, Julia, Maria Antonia e Maria Victoria
Marcos Augusto Neves
31/05/2016 - 06h39
Texto excelente, parabéns!
Rachel
30/05/2016 - 23h50
Fulminante teu texto. O melhor que li a respeito do assunto. Dói, machuca, provoca lágrimas (reais).
Marivane
30/05/2016 - 23h10
GOLPISTA GERA GOLPISTA
Mônica Peres
30/05/2016 - 21h54
=(
C.Pimenta
30/05/2016 - 20h09
O Congresso Nacional (talvez o Senado) deveria apresentar, urgentemente, uma PEC, que se torne cláusula pétrea na Carta Magna, criminalizando a conspiração contra o Estado Democrático. E se essa conspiração envolver contatos prévios com agentes estrangeiros, ficaria caracterizado o crime de traição ao país. Os condenados deveriam ter seus direitos políticos cassados perpetuamente, sem prejuízo das demais penalidades, que deveriam ser as mais severas que as nossas leis permitirem.
cousinelizabeth
30/05/2016 - 19h46
Venceram. E trouxeram com eles todos os seus mitos: torturadores e estupradores, racistas e machistas. Mas é uma vitória ilusória. Só está morto quem desiste da luta e nós, mulheres, não vamos desistir. Eles é que serão obrigados a bater em retirada. Não passarão!