Por Luis Edmundo Araujo, editor de esporte do Cafezinho
Antes que o sistema de pontos corridos faça a sua parte, prejudicando os times da Bahia pra cima, obrigados a percorrer milhares de quilômetros a mais que os adversários nas trinta e oito rodadas de ida e volta pelo País; antes que os times de sempre assumam a ponta da tabela, das cidades de sempre, é preciso aproveitar o bom início do Santa Cruz no campeonato, líder nas três primeiras rodadas, terceiro nesta que terminou hoje, ainda invicto, para fazer aqui o registro da incrível trajetória deste que é um dos três grandes clubes de Recife, dono do maior estádio, o Arrudão, e da maior torcida do estado, hoje bicampeão pernambucano e campeão do Nordeste.
Depois de conquistar o acesso a Primeira Divisão do Campeonato Brasileiro em 2005, o Santa Cruz viveu o que nenhum clube do mundo havia vivido até então: três quedas seguidas de divisão, da Série A para a B em 2006; da Segundona para a Série C em 2007; e da Terceira para a Quarta e última divisão do futebol nacional em 2008. No ano seguinte, a eliminação ainda na primeira fase da Série D selava a tragédia com ares de fim de linha para o grande semifinalista do Brasileirão de 1975, o timaço que tinha os hoje técnicos Levir Culpi e Lula Pereira na zaga, o meia Givanildo e os artilheiros Nunes e Ramon no ataque, que bateu o Flamengo no Maracanã, o Palmeiras no antigo Parque Antártica, e só parou no Cruzeiro de Nelinho, Joãozinho, Palhinha e Cia., num jogaço em que vendeu caríssimo a eliminação.
Foram três anos de Série D até o primeiro acesso de divisão, em 2011, à Série C, outros dois anos até subir para a Série B, em 2013, e mais dois anos na Segunda Divisão até o sonhado retorno à Série A, conquistado após a volta de um ídolo que, se não foi formado no clube, como o Rivaldo, se identificou com a camisa tricolor da cobra coral em sua primeira passagem por lá, em 2001, e voltou depois de longo tempo na Europa, depois de disputar a Copa do Mundo de 2010, ainda que na reserva, e mostrando muito serviço.
O bom momento atual inclui tranquilas classificações nas duas primeiras fases da Copa do Brasil, onde medirá forças com o Vasco na terceira fase, além do título estadual e da mais desejada das conquistas, a Copa do Nordeste, que já havia sido vencida três vezes pelo rival Sport (1994, 2000 e 2014) sem que o tricolor pernambucano jamais tivesse conseguido chegar à decisão. Uma semana após ganhar finalmente a taça, o Santa Cruz ainda faturou o bicampeonato pernambucano diante do maior rival e no estádio dele, a Ilha do Retiro.
Agora de volta à elite do futebol nacional, com duas goleadas de 4 a 1 em casa, no Vitória da Bahia e no mesmo grande Cruzeiro de 1975, e dois empates fora, contra Fluminense e Chapecoense, o Santa Cruz talvez não repita a temporada de sonho do Leicester na Inglaterra, é muito provável que não, infelizmente, mas mostra que a saída do fundo do poço, a recuperação gradual e constante do time do Nunes, do Ramon, do Givanildo, do Zé do Carmo, do Rivaldo, do Léo Moura e do Grafite parece consolidada, definitiva, para o bem do futebol brasileiro.
luis.edmundo@terra.com.br
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