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Os 10 princípios da concentração de riqueza e poder da plutocracia (ou Réquiem para um Sonho Americano)

por Carlos Eduardo, editor do Cafezinho A desigualdade social é o grande desafio da humanidade no século XXI, inclusive para a nação mais rica e poderosa do mundo. Em meu último artigo publicado aqui no Cafezinho, expliquei as razões que levaram alguns norte-americanos a votarem em alguém como Donald Trump: o crescente empobrecimento da classe média […]

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por Carlos Eduardo, editor do Cafezinho

A desigualdade social é o grande desafio da humanidade no século XXI, inclusive para a nação mais rica e poderosa do mundo.

Em meu último artigo publicado aqui no Cafezinho, expliquei as razões que levaram alguns norte-americanos a votarem em alguém como Donald Trump: o crescente empobrecimento da classe média no país.

Já foi o tempo em que as crises econômicas penalizavam somente os mais pobres. Atualmente a classe média norte-americana é uma das maiores vítimas da excessiva concentração de renda nas mãos de poucos. Tanto que hoje a nova geração de millenials se encontra sem grandes perspectivas de futuro e mais pobre que seus pais.

Desde os anos de 1980, com a implantação do chamado ‘neoliberalismo’, o sonho americano como conhecemos morre lentamente e este é o tema do documentário Requiem for the American Dream, em cartaz no Netflix.

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Ao longo de 75 minutos, Requiem for the American Dream reúne uma série de entrevistas do linguista, filósofo e cientista político, Noam Chomsky, gravadas nos últimos quatros anos.

Professor de uma das mais renomadas universidades do mundo, o Massachusetts Institute of Technology, aos 87 anos de idade este senhor parece estar no seu auge intelectual.

Sereno e com a voz sempre suave, Chomsky cita Aristóteles, Adam Smith e James Madison para dar uma aula de história contemporânea e explicar como a sociedade moldada pelos pais fundadores dos Estados Unidos da América se encontra a beira de um colapso.

Para organizar as ideias, Chomsky separa os ‘dez princípios da concentração de riqueza e poder’, que segundo ele foram postos em prática pela oligarquia norte-americana nestes últimos 40 anos para transformar os Estados Unidos em uma plutocracia, não mais numa democracia.

O princípio mais importante, a meu ver, é o financiamento privado de campanha, origem de toda a corrupção do sistema, haja visto que os ricos financiam políticos para aprovarem leis a favor de seus interesses particulares, não a favor da população.

Como os ricos doam para todos os partidos e políticos, não importa quem seja eleito, este sempre governará em prol de seus financiadores de campanha, ou seja, a plutocracia. Portanto, a democracia deixa de fazer sentido.

O alerta de Chomsky também vale para o Brasil já que a elite brasileira copia as mesmas táticas da plutocracia norte-americana.

OS DEZ PRINCÍPIOS DA CONCENTRAÇÃO DE RIQUEZA E PODER 

Um: Reduzir a Democracia

Uma das características mais belas e admiráveis na democracia norte-americana é de que ela foi concebida por homens que buscavam corrigir as imperfeições e injustiças dos regimes monárquicos europeus. Mas não sejamos ingênuos. A democracia norte-americana é uma criação da elite intelectual de sua época. Todos os pais fundadores dos Estados Unidos eram homens ricos e bem educados, a maioria advogados ou diplomatas. Faltavam-lhes apenas o sobrenome nobre e o título aristocrático, por isso, inclusive, eram desprezados pela corte inglesa.

O objetivo da república fundada por John Adams, Benjamin Franklin, Alexander Hamilton, John Jay, Thomas Jefferson, James Madison e George Washington era acabar com os privilégios dos reis e da aristocracia e entregar o poder para os burgueses. O bem estar do povo pobre e trabalhador nunca esteve em questão.

Tanto que Noam Chomsky chama atenção para o fato de James Madison, durante debate sobre a constituição dos Estados Unidos, afirmar que a nova república deveria criar mecanismos para proteger os ricos do ‘excesso de democracia’.

Por isso a democracia norte-americana se encontra hoje restrita a apenas dois partidos, republicano e democrata, onde o povo tem pouca margem de escolha e qualquer mudança no sistema é pontual, nunca estrutural.

Dois: Moldar a ideologia

No mundo ideal da plutocracia, o povo precisa ser passivo e despolitizado. Deve saber o seu lugar na sociedade e não fazer nada para mudar isto. Nos anos de 1960 e 1970, os Estados Unidos vivenciaram uma explosão de movimentos sociais, com os negros, as feministas, os gays e os ambientalistas, exigindo voz ativa na política e lutando por seus direitos.

Isto assustou a elite política e econômica, que começou a questionar o que era ensinado nas escolas, universidades e igrejas do país.

Qualquer semelhança com a lei promulgada recentemente em Alagoas, proibindo professores de opinarem sobre política em sala de aula, não é mera coincidência. Definir o modo como os cidadãos comuns devem pensar e agir faz parte da estratégia de dominação das elites.

Três: Redesenhar a economia

Desde a década de 1970 a economia dos Estados Unidos vem gradativamente reduzindo sua atividade industrial e aumentando sua atividade financeira. O economista francês, Thomas Piketty, autor do célebre livro ‘O Capital do Século XXI’, alerta para o perigo da financeirização da economia global.

Quando a especulação de capitais gera mais dinheiro que a produção de bens e serviços, sinal de que o capitalismo real está doente.

Resultado: em 2007 os grandes bancos norte-americanos eram responsáveis por 40% dos lucros corporativos. A desregulamentação desenfreada da economia produziu concentração de renda e graves falhas que resultaram na crise econômica de 2008, obrigando o governo a resgatar empresas irresponsáveis que puseram a nação mais poderosa do mundo na iminência de um colapso – os tais ‘grandes demais para falir’ (ou too big to fail, em inglês).

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Chomsky explica que no ‘neoliberalismo’ o capital é livre, mas o trabalho não. O industrial pode facilmente fechar sua fábrica nos Estados Unidos – onde os custos sociais e trabalhistas são maiores – e transferir a produção para a China – onde o salário mínimo gira em torno de US$1 dólar a hora de trabalho.

A globalização redesenhou a economia mundial de tal modo que tornou os trabalhadores reféns do que Alan Greespan, ex-presidente do banco central americano, o Federal Reserve, chamou de “insegurança no trabalho”.

Para competir de igual para igual com a China, os sindicatos norte-americanos se viram obrigados a aceitar corte nos direitos trabalhistas e piores condição de trabalho.

Deixar os trabalhadores em constante medo de perder o emprego é fundamental para mantê-los em seu devido lugar.

Quatro: Deslocar o fardo de sustentar a sociedade para os pobres e classe média

O sonho americano foi uma concepção criada nas décadas de 1950 e 1960. No pós-guerra, tanto os ricos quanto os pobres enriqueceram porque na época os impostos sobre altos salários de executivos e sobre o lucro e dividendos das empresas era elevado o bastante para distribuir a renda de forma igualitária.

No entanto, desde os anos de 1980, os impostos sobre a parcela mais rica da sociedade diminuíram drasticamente e a desregulamentação total do fluxo de capitais permitiu a plutocracia pagar ainda menos impostos – ou simplesmente sonegá-los.

Estamos retornando ao período pré-revolução francesa, em que a alta corte de reis, rainhas e nobres famílias aristocráticas eram isentos de impostos, enquanto o fardo de sustentar a sociedade recaía somente sobre os pobres e a burguesia, no caso a classe média da época.

A única diferença é que hoje a nova aristocracia é formada pelos super-ricos com acesso a paraísos fiscais e outros mecanismos financeiros reservados à elite econômica global que lhes permite fugir dos impostos.

No Brasil mais da metade da carga tributária é cobrada justamente daqueles que possuem menos, os mais pobres. Segundo um estudo do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT), 53,8% do total de impostos arrecadado no país é pago por brasileiros com renda de até três salários mínimos, que representam 79% da população.

Na prática são os mais pobres quem sustentam os programas sociais, o SUS e as escolas e universidades públicas. Pois 28,5% da arrecadação vêm da dita ‘classe média’, famílias com renda entre três e dez salários mínimos, enquanto míseros 17,7% vem da classe média alta e da elite: brasileiros com renda superior à dez salários mínimos.

Cinco: Atacar a solidariedade

Do ponto de vista da plutocracia, a solidariedade entre os povos é muito perigosa. Você deve se preocupar somente consigo mesmo.

No Brasil este princípio fez com que uma parcela da classe média fosse contra o Bolsa Família, por exemplo. Já nos Estados Unidos fez a classe média se opor a previdência social e ao Obamacare.

Um dos motivos que levaram os Estados Unidos a obterem um extraordinário crescimento econômico e humano no pós-guerra foi a G.I Bill (conhecida como Lei de Reajuste dos Militares, ou Servicemen’s Readjustment Act, em inglês), projeto de lei sancionado pelo presidente Frankin D. Roosevelt em 1944, que oferecia ensino superior gratuito aos ex-combatentes da Segunda Guerra Mundial.

Isto possibilitou aos norte-americanos tornarem-se uma nação próspera e desenvolvida, com uma classe média rica e bem qualificada.

Desde então todo o sistema de políticas públicas desenvolvido durante o New Deal, calcado nos ideais de solidariedade entre ricos e pobres, foi completamente desmantelado pela plutocracia.

A crise educacional nos Estados Unidos é tão gigantesca, que em 2016 a dívida de empréstimos estudantis alcançaram o patamar de US$ 1.3 trilhões de dólares.

O problema é tão preocupante, que Hillary Clinton promete criar um fundo governamental para renegociar a dívida dos mais de 40 milhões de norte-americanos endividados com grandes bancos e propõe ainda uma espécie de FIES ‘versão americana’, para que os novos estudantes possam pegar dinheiro emprestado direto do governo a juros baixos.

Quando o acesso ao ensino superior se torna exclusividade das famílias ricas que podem pagar pela educação de seus filhos, o discurso da meritocracia repetido aos quatro ventos pelos liberais conservadores não vale de nada.

Seis: Controlar os reguladores

Segundo Chomsky, a história americana mostra que na maioria das vezes as agências reguladoras foram incentivadas ou criadas pelas próprias empresas do setor, para proteger seu oligopólio da entrada de novos competidores. Para a estratégia funcionar, o lobby das empresas em Washington tem papel central, pois é através dele que as companhias conseguem aprovar leis de seu interesse.

Quando o financiamento privado de campanha é permitido por lei, como acontece nos Estados Unidos, as leis são escritas a favor da plutocracia, que através de seu poder econômico elege deputados e senadores alinhados com seus interesses particulares controlando assim os rumos do país.

A última crise econômica, em 2008, mostrou bem porque é importante para a plutocracia controlar os reguladores. Num sistema verdadeiramente capitalista, as crises econômicas acabariam com os investidores que fizeram escolhas de alto risco. Mas não é isto que a elite quer.

A plutocracia quer um capitalismo de mentirinha, com um Estado-babá sempre pronto para socorrê-la nas crises causadas por elas mesmas, enquanto a conta, é claro, fica para a classe média e os pobres.

Sete: Controlar as eleições

Como foi explicado anteriormente, o financiamento privado de campanha cumpre um papel central na estratégia de dominação da plutocracia.  Deste modo a concentração de riqueza gera concentração de poder.

Oito: Manter a ralé na linha

Até hoje a formação de sindicatos e associações de classe foi a melhor saída encontrada pelos trabalhadores para combater os abusos do capitalismo. Por isso a plutocracia global não vê a hora em regulamentar a terceirização do trabalho em todas as áreas e profissões possíveis e imagináveis, tal qual o Congresso Brasileiro, durante a presidência de Eduardo Cunha.

O objetivo é desmobilizar os trabalhadores, deixa-los fracos e impotentes.

Nos anos dourados do sonho americano, nas décadas de 1950 e 1960, um terço dos trabalhadores eram sindicalizados. Atualmente apenas um em cada dez é sindicalizado. Sinal de que a plutocracia está vencendo esta batalha.

Nove: Fabricar consensos e criar consumidores

Curioso como a técnica de criar consensos por meio da mídia surge exatamente nos países mais livres do mundo, como explica Noam Chomsky.

Uma vez que a plutocracia percebe que não há mais volta, a democracia e a liberdade são conquistas definitivas da sociedade, ela busca outras formas de controle social. Uma delas é a ditadura do pensamento único e a fabricação de consensos por meio das grandes empresas de mídia, controladas pela plutocracia.

Claro que na democracia norte-americana os eleitores ainda podem escolher entre republicanos e democratas, mas as diferenças entre os partidos são tão sutis, que no final não faz muita diferença. Não custa repetir: qualquer mudança no sistema será sempre pontual, nunca estrutural.

De acordo com Chomsky, a sociedade idealizada pela plutocracia transforma os eleitores em meros consumidores. Escolher entre republicano ou democrata torna-se o mesmo que escolher entre Coca-Cola ou Pepsi, Nike ou Adidas, Windows ou Apple.

Dez: Marginalizar a população

Um estudo da Universidade de Princeton mostrou que 70% da população norte-americana não têm meios para influenciar a política em Washington – principalmente brancos de classe média baixa e minorias pobres, como negros e latinos.

Tamanha impotência diante do sistema gera frustração e ódio contra as instituições. Como a mídia fabrica consensos, gerando uma massa sem senso crítico e com um pensamento único, o povo compra facilmente o discurso das elites e passa a culpar o governo por todos seus problemas.

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Segundo Chomsky, o objetivo é fazer as pessoas odiarem ‘tudo o que está aí’ e temerem umas as outras.

A indignação contra a democracia cria terreno fértil para o surgimento de lideranças antidemocráticas, servindo de válvula de escape para a raiva da população, ao mesmo tempo em que atende aos interesses econômicos das elites.

Conclusão

O alerta de Noam Chomsky é direcionado para a sociedade norte-americana, mas muito do que ele diz serve também para nós brasileiros, visto que a elite tupiniquim replica exatamente as mesmas estratégias da plutocracia norte-americana.

Soa até irônico ver um documentário estrangeiro, gravado em 2015, citar passo a passo a estratégia utilizada pela grande mídia (leia-se Rede Globo) e oposição (leia-se PSDB) para derrubar o governo da presidenta Dilma Rousseff.

Devido aos últimos acontecimentos, Requiem for the American Dream é um documentário que todo brasileiro deveria assistir. Fica a dica.

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Comentários

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Alexandra de Alvim Pinto

13/03/2018 - 17h53

O jovem Marx percebeu que a luta pela sobrevivência define o processo de transformação da história. Entretanto, o experiente Marx compreendeu que as forças produtivas e os meios de produção não são exclusivamente propulsores do processo de transformação. Em correlação, se faz necessário promover a extensão da consciência de classe, a formação política dos trabalhadores: a qual passa pela compreensão do processo de transformação dos modos de produção na história: o materialismo histórico dialético.
Com quase duzentos anos de antecedência, Marx percebeu que pela primeira vez na história, a máquina, ao produzir mais em menos tempo e cuja transformação resultaria em processo de automação da produção, poderia resolver a questão primordial da necessidade material para sobrevivência humana, libertando o trabalhador do “labor intensivo”, possibilitando, ao mesmo, tempo livre para, aí sim, evoluir, progredir enquanto ser social, dedicando-se ao saber, ao lazer, às artes, à criatividade, à organização do processo produtivo e à formação política em sociedade. Isto, obviamente, mediante a socialização da riqueza gerada pelos meios de produção.
No contexto das revoluções burguesa e industrial, os liberais afirmaram ser o trabalho a fonte de riqueza “da nação”, em substituição à lógica mercantilista de acumulação dos metais preciosos. Pela primeira vez na história, o trabalho é concebido como atividade positiva, de dignificação. O ato de não trabalhar passa a ser, ideologicamente, associado a valores pejorativos (vagabundagem, vadiagem) e não mais uma condição de “nobreza”. Entretanto, é justamente nesse mesmo momento que, também, pela primeira vez na história, o controle do processo de produção da mercadoria (saber, tempo e ferramentas) sofre uma “transferência de poder”: sai das mãos do trabalhador para ser apropriado/controlado pelos donos dos meios de produção.
Eis porque, no século XVIII, a Economia Política Inglesa reconhece a força de trabalho como fonte propulsora de riqueza, porém, não questiona por que o trabalho socialmente necessário se transforma em mercadoria (barata e descartável) na lógica capitalista? Somente Karl Marx fará este questionamento.
Portanto, segundo os pressupostos do materialismo histórico, a classe burguesa, constituindo-se ao longo dos séculos XV, XVI, XVII, XVIII…, ocupou o lugar do poder porque cindiu o saber produtivo imediato do trabalhador, isto é, o saber que este detinha sobre as etapas do processo de produção da mercadoria e porque se apropriou do saber mediato ou ainda do saber cumulativo, historicamente determinado pela luta de classes.
A tecnologia e a maquinaria, tal como é utilizada na lógica da classe dominante, representa um paradigma para a própria lógica do sistema, por dois motivos: primeiro porque desapropria o trabalhador do saber produtivo, ao passo que necessita de um trabalhador qualificado para o exercício do trabalho tecnológico; segundo, porque ao criar trabalho excedente e expropriar o trabalhador da riqueza produzida pela extração de mais-valia, quebra a tríade produção-distribuição-consumo à medida que, promovendo o desemprego, trabalhador desempregado e/ou mal remunerado, representa consumidor a menos: gerando crise de superprodução e engendrando as condições de sua própria destruição.
Se o “locos” privilegiado da dominação é o lugar separado, entre Estado e sociedade, sujeito e objeto, texto e contexto, teoria e prática, conceito e ação, tempo e poder, saber e fazer, ensino e pesquisa, concebendo a história como processo temporal linear e positivista, para a não extensão pública da riqueza socialmente produzida; isto não significa que devemos pensar o Estado enquanto lugar de poder que encerra o exercício exclusivo da dominação.
Os lugares de poder, contextualmente múltiplos e processualmente dialéticos, não podem prescindir da possibilidade de através dos mesmos lugares (ocultos – que hão de ser evidenciados pela análise crítica da realidade ou dos documentos), dos não ditos locados nas tentativas políticas de dominação/cisão, vislumbrar a possibilidade do talvez que nos conduza à transformação da lógica imposta pela dominação de classe em sociedade, restaurando assim, “… a história como movimento e não como sucessão de fatos” (LARA, 1993); ou ainda, ampliando as estratégias de luta e resistência da classe trabalhadora, na construção dos conceitos, lugares e ações de poder, diferentes do poder de Estado (mas não fora dele); reconhecendo, portanto, que “… a história é tempo de possibilidade e não de determinismo, que o futuro é problemático e não inexorável” (FREIRE, 2002).
Dessa forma, ao pensar numa outra lógica para a tríade produção-distribuição-consumo, faz-se necessária a construção e a organização dos espaços e saberes produtivos de maneira que a memória e as experiências de classe (ou da luta de classes) sejam legadas enquanto memória histórica. A possibilidade de almejar um novo sentido para a oposição paradigmática entre crescimento tecnológico e qualidade das relações humanas, encontra-se na construção de conceitos e ações que promovam a compreensão de ser a vida humana possível somente em sociedade, analisando as relações sociais em seus respectivos tempos históricos e as consciências políticas circunscritas às mesmas, atentando para o problema da cisão entre saber-produção-lugar ou ainda, da concepção de educação a ser produzida-transmitida-vinculada e o da separação do produto daquele que o produz, isto é, da tríade produção-distribuição-consumo.
Não há democracia sem distribuição de riqueza, assim como não há socialismo sem liberdade de criação. Autonomia política e consciência de classe em projeção universal são fundamentos conceituais para evidenciar o trabalhador como sujeito da história e para a construção da qualidade de vida humana em sociedade. Entretanto, o capitalismo é sistema hegemônico, cuja dominação de classe se mantém pela alienação e controle da produção de riquezas, negando assim a evidência e a compreensão do contraditório na história. Já o socialismo é modo de produção em construção, onde cada geração ou nação deve apresentar novas questões ou conceitos para efetivação do projeto revolucionário.
Alexandra de Alvim Pinto
“A história (quando examinada como produto de investigação histórica) se modificará, e deve se modificar, com as preocupações de cada sexo, cada nação, geração, cada classe social…” (Thompson; 1981).
“Marx não regressará como inspiração política para a esquerda até que se compreenda que seus escritos não devem ser tratados como programas políticos, mas sim como um caminho para entender a natureza do desenvolvimento capitalista”. (Carta Maior, “A crise do capitalismo e a importância atual de Marx”, entrevista em 29/09/2008).

    Natanael Sarmento

    18/10/2019 - 17h31

    Excelente resenha, precisa e concisa. Tem o mérito de dialogar com a realidade brasileira, quando em vez. Melhor ainda com o aporte sobre o materialismo histórico da Alexandra de Alvim que coloca o guizo no pescoço do gato, a história, na história, no campo da luta de classes.

Marcos Kniess

14/12/2017 - 10h21

Excelete. Chomsky está mais lúcido que nunca.

JOÃO EVANGELISTA FERREIRA ALENCAR

27/11/2017 - 10h25

Acredito que a terceirização dos serviços é sim para ter domínio sobre os trabalhadores e não ajustar gastos públicos. Principalmente sobre os servidores públicos que têm uma certa estabilidade de emprego. Eu, particularmente, saí do Sindicato porque vi que estes estavam defendendo os interesses do governo a quem estava ligados politicamente. No momento de defender os servidores durante uma greve faziam “corpo-mole” e tentavam desestabilizar a greve mudando o foco da mesma. Entendo que o Brasil tem condições de ser um a país muito bom para se viver. Recursos tem. Bastava que estes chegassem 100% nas obras-serviços e que não fossem utilizados materiais de 3ª ou 4ª categoria ou que fossem utilizados materiais em qualidade e quantidade adequadas.

Paula Patricia zunino

01/10/2017 - 19h48

Prezado, obrigada pelo artigo. O senhor tem o link do documental gravado no 2015 ao qual faz referência?

rodrigo

22/07/2017 - 10h38

O FIM DO SONHO AMERICANO – A Concentração Riqueza e Poder.

https://www.youtube.com/watch?v=eygAlutORMk&t=543s
Bom dia…deveria ser compartilhado pois reflete plenamente a sociedade brasileira atual!Obrigado.

Elza Dias Tosta

07/07/2017 - 16h49

Fiquei deveras impressionada com as semelhanças das colocações do Chomsky para os estadunidenses e os acontecimentos atuais no Brasil.
Sim todo brasileiro deveria conhecer este extraordinário documentário.
Creio que se deva assistir integralmente o documentário “Requiem for the American Dream” e mais do que assistir divulgar e discutir.
ESTA ´E A PRIMEIRA VEZ QUE COMENTO ESTE DOCUMENTARIO

Elza Dias Tosta

07/07/2017 - 16h47

Fiquei deveras impressionada com as semelhanças das colocações do Chomsky para os estadunidenses e os acontecimentos atuais no Brasil.
Sim todo brasileiro deveria conhecer este extraordinário documentário.
Creio que se deva assistir integralmente o documentário “Requiem for the American Dream” e mais do que assistir divulgar e discutir.

Eduardo

29/03/2017 - 00h05

Infelizmente o eles fazem isso porque o povo é individualista não pensa em sociedade ai os governantes usa isso a seu favor e aprova tudo que pode acabar com os direitos da sociedade.

Lucas

20/03/2017 - 14h04

Chomsky é um ótimo linguista mas como pensador político/econômico é o famoso esquerda caviar. Enquanto não está investindo em ações e condenando o capitalismo está produzindo merda fora da realidade

Fonseca

16/03/2017 - 21h07

Concordo plenamente que todos os brasileiros deveriam esse documentário, para o quanto tendenciosa é a mídia brasileira.
O pior e que a sociedade acredita nos falsos profetas.
as considerações são espetacular.

MARTINS

02/03/2017 - 05h52

O que é bom para elite americana é bom para a elite brasileira. Eles vivem bem no inferno.

Jonathas Rocha

31/05/2016 - 14h43

Aguardando o Termidor pro povo acertar umas contas.

Macau

18/05/2016 - 09h35

Esses princípios estão todos desgastados. A situação dos super-ricos juntando tudo é absolutamente insustentável.

Quando o povo se levantar contra eles, será uma nova Revolução Francesa. E começará, mais uma vez, pelo Grande Medo. Quem lembra de como a Revolução foi vai saber do que eu estou falando.

    Coelho Bruno

    27/05/2016 - 20h24

    Ah, eu lembro como se fosse hoje! Eu estava com um bróder, chamado Jean Valejan, ali na esquina do Palácio de Versalhes… e lembro bem que foi um salseiro, meu amigo, nunca antes visto!


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