Segundo estudo, se o petróleo continuar cotado na faixa dos US$ 30 o barril, pelo menos 150 companhias poderão quebrar
no Estadão
No 15.º andar de um edifício de escritórios em Midland, no Texas, há um troféu de 1,6 metro de altura, um urso preto, morto pelo filho de um executivo da Caza Oil & Gas. Mas foi a Caza que recentemente caiu presa de um tipo diferente de predador que persegue as companhias de petróleo: o excesso de dívidas.
Embora os preços do petróleo bruto tenham caído mais de 70% nos últimos 20 meses, a vasta indústria petrolífera dos Estados Unidos começa agora a fazer os seus cálculos. Até pouco tempo atrás, as companhias conseguiam driblar a crise usando operações de hedge (proteção) para vender o seu óleo por preços superiores aos do mercado, em queda livre.
Entretanto, nos últimos meses, a maioria dessas operações expirou, deixando várias petrolíferas com o caixa baixo e sem conseguir pagar suas dívidas. Em termos mais gerais, os executivos do setor de energia e as suas instituições de crédito começam a perceber que uma recuperação dos preços do petróleo demorará pelo menos um ano, tempo demais para muitas companhias se aguentarem.
Os executivos e seus banqueiros estão às voltas com uma crise prolongada que poderá modificar a estrutura do setor energético de uma maneira que não era vista desde que o tumulto do final dos anos 90 gerou megafusões, como a Exxon Mobil.
Se os preços se mantiverem nesses patamares – na terça-feira, o petróleo foi negociado a US$ 28 o barril – nada menos que 150 companhias de petróleo e gás poderão quebrar, segundo a IHS, empresa de pesquisa da área de energia.
Embora isso represente uma fatia relativamente pequena da indústria como um todo, há centenas de outras companhias que se apoiaram numa montanha de dívidas para se transformarem de minúsculas startups em participantes significativas do boom do óleo de xisto da nação. Agora, nada menos de um terço do setor petrolífero poderá se consolidar como resultado da crise, de acordo com uma estimativa.
“Hoje, nossa meta é sobreviver”, disse Danny Campbell, presidente do conselho da Permian Basin Petroleum Association, ao iniciar seu discurso de boas vindas num jantar para executivos do petróleo no mês passado. “Mantenham seu nome no catálogo telefônico e seu endividamento reduzido.”
Hoje, não há praticamente poços lucrativos para perfurar nos EUA. Isso fez com que algumas companhias entrassem numa espiral mortal, produzindo petróleo simplesmente para saciar seus credores. Outras estão ficando desesperadas. No final de dezembro, a Caza praticamente se vendeu a uma empresa de investimentos de Nova York, para pagar os credores.
Ciclo. Os investidores estão no limite. A notícia de que a Chesapeake Energy, uma grande empresa do setor de óleo e gás, contratou advogados para ajudar na reestruturação de sua dívida de mais de US$ 10 bilhões derrubou as ações da companhia na segunda-feira, e ela teve de ir a público negar que estivesse se preparando para a bancarrota.
A indústria do petróleo atravessa regularmente períodos de altos e baixos. Mas o abalo do atual ciclo pode ser mais extremo, por conta do dinheiro fácil que inundou a indústria, vindo dos fundos de hedge e de private equity e de estruturas de investimento com vantagem fiscal. “A indústria será permanentemente danificada”, disse Steven H. Pruett, presidente da Elevation Resources, empresa de petróle de Midland.
A Energy & Exploration Partners of Fort Worth, por exemplo, pegou financiamentos com pelo menos 24 fundos de hedge para ajudar na compra de milhares de hectares de terra no Texas, quando o petróleo estava a US$ 100 o barril. Em dezembro, a empresa acabou tendo de pedir falência.
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