ELEITORES OUVEM RUBIO EM COMÍCIO DE CAMPANHA NO ESTADO DE NEW HAMPSHIRE
por João Paulo Charleaux, no Nexo Jornal
“Experiente” é um adjetivo que qualquer político busca associar à sua candidatura, especialmente quando o cargo em disputa é a Casa Branca, responsável por administrar a maior potência militar, econômica e política do mundo.
Mas, nas primárias de 2016 – processo em que nomes do mesmo partido disputam entre si a vaga de candidato -, os principais concorrentes têm se apresentado como figuras alternativas, críticas ao sistema. Como os americanos dizem: todos querem ser “outsiders”, alguém de fora.
Na primária realizada nesta terça-feira (10) em New Hampshire – a segunda de uma série de 50 – os dois maiores “outsiders” saíram vencedores: Bernie Sanders e Donald Trump. Sanders recebeu 60% dos votos democratas . Trump, 35% dos republicanos.
Entre o cansaço e o descrédito
Parte do apelo se dá pelo fato de o eleitorado demonstrar cansaço com o discurso dos políticos profissionais, e também por certa desconfiança numa estrutura política que demora, ou reluta, em responder aos desafios atuais de representatividade.
A aposta na figura de “outsider” se tornou um artifício sedutor para as equipes de campanha. Sua chance de convencimento é tanto mais fácil quanto mais novato é o pré-candidato.
Entre os republicanos
TRUMP, O EMPRESÁRIO DURÃO
A imagem de alternativo se encaixa facilmente em alguém como o megaempresário Donald Trump. Líder nas pesquisas nacionais entre os republicanos, ele é um dos que mais duramente criticam o sistema. Por não ter ocupado qualquer cargo eletivo na vida, fica mais fácil apontar o dedo para os vícios da política, embora não seja imune à associação da sua imagem com os vícios do poderio econômico – o que pode ser tanto um mérito, aos olhos do eleitorado republicano, quanto um demérito, para os democratas.
CRUZ, O CRÍTICO DOS CRÍTICOS
Grande vencedor das primárias republicanas no Iowa (a primeira de uma série de 50), Ted Cruz é senador pelo Estado do Texas, mas não tem muito mais a apresentar como currículo político. O advogado nascido em Alberta, no Canadá, é conhecido pela ferocidade com que critica não apenas os rivais democratas, mas os próprios correligionários republicanos, segundo ele, claudicantes demais em se assumir como conservadores de verdade. A crítica interna faz com que ele seja visto por alguns como um pré-candidato quase tão irascível e imprevisível quanto Trump. Mas, por isso mesmo, sua postura agrada os que, por outro lado, consideram os políticos e os partidos quase todos iguais.
Entre os democratas
SANDERS, O SOCIALISTA IDEALISTA
O democrata Bernie Sanders foi senador por Vermont por 16 anos seguidos, mas o cargo não lhe coloca exatamente na primeira linha da política nacional. O Estado é um dos menos populosos e mais rurais do país. Sanders critica principalmente a influência dos grandes grupos econômicos no financiamento das campanhas e se diz imune à pressão de Wall Street. Suas referências ao modelo de bem-estar social dos países nórdicos fazem sucesso entre os jovens democratas, como uma radicalização do legado do presidente Barack Obama. Seu trunfo é a crítica ao super-liberalismo americano.
HILLARY, A FEMINISTA TARDIA
Para a favorita entre os democratas, Hillary Clinton, a tarefa de se apresentar como uma figura novata ou alternativa é mais difícil. Ainda assim, nem o fato de ter sido senadora, primeira-dama e secretária de Estado a impediu de explorar o feminismo como identidade e plataforma, se colocando, por esse viés, do lado de quem tem menos espaço na política. Madeleine Albright, primeira mulher a ocupar o cargo de secretária de Estado nos EUA, pediu votos em nome de Hillary dizendo que há um “lugar no inferno para mulheres que não ajudam outras mulheres”. A declaração revela, ao mesmo tempo, a estratégia feminista da campanha e a inabilidade em construir mensagens que criem identificação real com esse público, especialmente entre as eleitoras mais jovens.
No caso de Hillary, o debate acabou tomando um caminho inesperado. Além da declaração dura de Madeleine Albright, outra figura de peso, Gloria Steinem, líder feminista desde os anos 1960, saiu em defesa da candidata, dizendo que as eleitoras se engajaram na campanha de Sanders, e não na de Hillary, por que estão atrás de namorado. “Elas serão mais ativistas quando ficarem mais velhas. Quando você é jovem, você pensa ‘onde estão os garotos?’. Os garotos estão com Bernie”, disse, antes de vir a público se desculpar pelo que ela classificou como um “mal entendido”.
Lista de alternativas
Outros pré-candidatos correm por fora, com maior ou menor apelo ao perfil “outsider”. Como as primárias são realizadas em 50 Estados, ainda é cedo para prever quem tem chances reais numa eleição que só acontece em novembro.
Outro fator de incerteza é a própria persistência dos pré-candidatos na aposta por esse perfil de “outsider”. Com a disputa se afunilando, o mais provável é que a retórica de azarão anti-sistêmico ceda espaço para debates que exijam um perfil mais executivo no final da campanha, especialmente em temas complexos da agenda externa americana, frequentemente vinculados a debates difíceis na área de defesa e de segurança.
Os quatro pré-candidatos listados acima são, por enquanto, os mais bem cotados nas pesquisas. Além deles, Marco Rubio aparece como uma surpresa republicana capaz de virar o jogo. Ele terminou em terceiro lugar na primária de Iowa.
O senador pelo Estado da Flórida é tido como a aposta segura, conservadora dentro do campo conservador – não no sentido de radicalizar as propostas, mas de se mostrar previsível o bastante se comparado a Donald Trump e a Ted Cruz.
Em novembro de 2015, o “Wall Street Journal” publicou um perfil de Rubio cujo título era ilustrativo de sua condição: “Marco Rubio atravessa a linha entre insider e outsider”.
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