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A barbárie será vencida

Este Cafezinho se pretende apartidário, mas não se pode ser isento em face da barbárie. Como diria Rui Barbosa, quando o acusavam de ser parcial no debate acerca da escravidão, da qual ele sempre foi um intransigente inimigo: não existe imparcialidade perante a injustiça.

30 comentários
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O que aconteceu e está acontecendo em Pinheirinho é uma verdadeira barbárie. Um ato indesculpável de violência governamental. A mídia hoje iniciou uma grande operação para abafar e justificar a brutalização de seis mil pessoas, mas vai ser difícil. As injustiças vazam por entre os dedos das mesmas mãos que as querem esconder. O Globo é o mais manipulador, porque acusa, na primeira página, o PT de politizar o caso. Com isso, quem politiza o caso é o Globo. Os políticos do PT fazem o que tem de fazer: política, assim como fazem os do PSDB. Acusar o PT de fazer política é como acusar um violeiro por tocar violão. Não vem ao caso o que fazem os políticos do PT, e sim a realidade insofismável de que o governo de São Paulo deflagrou, mais uma vez, uma ação truculenta contra gente desarmada, pobre, inocente.

O mais impressionante, mesmo, é a falta de sensibilidade social, a incapacidade de se solidarizar com outros seres humanos. É como uma cegueira. Por qualquer ângulo que se olhe a situação,  temos um consumado absurdo. Nem o governo mais odiosamente de extrema-direita de um país minimamente civilizado faria uma coisa assim. Acho que nem o mais truculento ditador árabe teria coragem de arrancar seis mil pessoas de suas casas, num bairro ocupado já há mais de oito anos, com igrejas, praças, quadras, bibliotecas, e jogá-las em abrigos infectos e provisórios.

Em primeiro lugar, se a lei de usucapião já teve qualquer sentido, é justamente para um caso como esse. Havia muito dinheiro investido no local, e dinheiro de pessoas simples, que construíram suas casas, pagaram reformas, instalaram estantes, consertaram vazamentos, adquiriram eletrodomésticos. Construíram um pequeno, modesto, mas valiosíssimo patrimônio familiar, de repente destruído impiedosamente para restituir um terreno a um especulador mau caráter, cujo dinheiro usado para comprá-lo teve origem provavelmente ilícita, visto o proprietário se tratar de um contumaz e famoso estelionatário.

Havia comércio, geração de emprego, crianças estudando, jovens em etapa de formação intelectual, ex-desempregados se estabilizando após décadas de quase indigência…

Dessa vez, não vou sequer linkar as matérias de grandes jornais. Basta informar que milhares de pessoas estão neste momento em abrigos cheios de lama, dormindo em bancos de igreja, e sofreram uma brutal perda de patrimônio. Não preciso nem ir para lá para imaginar as terríveis condições de higiene, já que esses lugares não tem banheiros suficientes para suportar tanta gente. Onde vão trocar de roupa? Expor milhares de famílias a esse tipo de humilhação é uma ofensa aos direitos humanos. Só tínhamos visto uma quantidade tão grande de desabrigados vivendo em condições semelhantes após tragédias da natureza. É incrível que o Estado agora resolva ser ele mesmo uma tragédia.

Uma violência desse quilate não seria justificável sequer se o governo levasse as famílias para um outro bairro, e doasse uma excelente casa para cada uma das famílias que está desajolando, num novo bairro dotado de serviços sanitários, iluminação pública, escolas, bibliotecas. Que deslocasse os comerciantes locais para estabelecimentos vazios onde estes pudessem recomeçar suas atividades. E pagasse uma boa indenização em dinheiro para cada um, para que os custos inevitáveis da mudança não desequilibrassem os frágeis orçamentos das famílias. Nem assim seria justificável, porque obviamente seria muito mais barato para o Estado manter as famílias no local onde já estão estabelecidas. O Estado de São Paulo podia simplesmente comprar o terreno, ou entrar na justiça para desapropriá-lo.

Entretanto, se nem levando as famílias para outro bairro e dando uma nova e bela casa para cada uma seria uma ação justificável, o que o governo fez, retirar as pesssoas à força de suas casas, invadindo o bairro pela madrugada, e amontoá-las em abrigos montados às pressas nas redondezas, consistiu numa completa monstruosidade. Vai na contramão de qualquer mínima racionalidade do ponto-de-vista de um administrador público cuja sensibilidade social não tivesse sido totalmente devorada pelo mais abjeto cinismo e pelo mais agudo desprezo contra a população pobre.

Pela magnitude de sua injustiça, Pinheirinho representou um marco na história do PSDB. É o momento em que partido aderiu, definitivamente, a uma política fascista.

O mais lamentável é que o governo de São Paulo e o PSDB irão, certamente, encontrar quem os apóie. Criticados duramente pelos movimentos sociais, sindicatos e setores progressistas, a legenda será obrigada a buscar refúgio nas franjas mais conservadoras da sociedade.

O Estadão finalmente fez um editorial sobre o episódio, previsivelmente atacando os movimentos sociais e as famílias, numa tentativa canhestra de proteger o governo Alckmin.

Prefiro, no entanto, não condenar a imprensa, que mal ou bem, fez uma cobertura do episódio. Se houve mortes, estes serão identificados e a mídia irá forçosamente divulgar.

Temos aqui uma questão eminentemente política, diria até mesmo partidária. A responsabilidade recai, com toda a força, sobre os ombros do governador Geraldo Alckmin, que autorizou a ação da PM mesmo sabendo que havia alternativas na mesa. Recai também sobre toda a cúpula tucana.

Foi um gesto estúpido do PSDB, que será obrigado agora, nas eleições municipais, a apelar para uma retórica de extrema-direita para justificar as ações em Pinheirinho.

Bem, talvez não seja uma ação intempestiva. Alckmin sempre representou a direita do PSDB, mas os seus flertes com ações sociais do governo federal nos fizeram pensar que ele poderia enveredar por aquele conservadorismo “social”, seguindo a linha civilizada de seus congêneres na Europa. No Velho Continente, somente Hitler faria uma coisa dessas (um despejo em massa de seis mil pessoas), e apenas se seus habitantes fossem judeus.

Mas não. A ação em Pinheirinho, que chegou a ferir um funcionário graduado da presidência da república, marca uma virada histórica do PSDB, a partir de agora conhecido como um partido radical de extrema-direita. Politicamente, é um gesto arriscado, talvez suicida, mas explicável pelas circunstâncias. Com Dilma seduzindo a classe média, só restou ao PSDB esse radicalismo enlouquecido. Os teaparties paulistas estão agora botando fogo na internet, mais felizes do que nunca com o sofrimento das famílias de Pinheirinho.

Quero acreditar, todavia, que a barbárie será derrotada. Mesmo do ponto-de-vista do capitalismo mais frio, não faz nenhum sentido a brutalidade contra famílias indefesas. Atos como o de Alckmin geram prejuízo não apenas social e humano, mas também econômico, além de estimular a violência urbana. Não é preciso aprender antropologia em Harvard para saber que um governo violento e injusto amplia o banditismo.

Este Cafezinho se pretende apartidário, mas não se pode ser isento em face da barbárie. Como diria Rui Barbosa, quando o acusavam de ser parcial no debate acerca da escravidão, da qual ele sempre foi um intransigente inimigo: não existe imparcialidade perante a injustiça.

Gostaria, portanto, de encerrar esse post com algumas palavras de luta e esperança, para as famílias de Pinheirinho, para todas as pessoas que vivem situações similares no país e para todos os militantes políticos que doam sua vida em prol de dias melhores e mais justos para o nosso povo. Tomo-as de um poeta chamado Bob Dylan. Eu as interpreto da seguinte forma: Dylan fala que “todo homem precisa perder”, ou seja, são as derrotas  que nos ensinam a necessidade de batalhar para mudar o mundo.  Os europeus só conseguiram consolidar-se como uma sociedade humanista após séculos de intensa luta social e política. “Mudar o mundo” sempre soa pretensioso, mas quando se consegue viver sob governos minimamente comprometidos com o bem estar social e, sobretudo, embuídos de um humanismo que não os permitiria jamais brutalizar seus próprios cidadãos com atos estúpidos como vimos na desocupação de Pinheirinho, já se pode afirmar que o mundo mudou. “Todo homem precisa de proteção”, continua o poema, lembrando que o fim de uma sociedade organizada, desde sua origem, sempre foi proteger seus membros mais fracos, e que não é agora, que vivemos numa sociedade próspera, que vamos esquecer isso. “Eu me lembro de todo rosto, de todo homem que me pôs aqui”, fala o poeta, indicando que as comunidades devem ser conscientes politicamente, jamais esquecer aqueles que a trataram com injustiça e se manter leais aos que as ajudaram. Assim se faz política, assim se derrubam tiranos. Mais dia, menos dia, o governador Geraldo Alckmin terá necessidade de votos e apoio popular, e os que sofreram em Pinheirinho e todos que acompanharam o processo poderão dar o devido troco. Por fim, o refrão consiste num mantra de esperança, que é fundamental para levar adiante qualquer luta.

Escolhi essa gravação de Dylan com Norah Jones, porque a voz de Jones enriquece a música com sua doçura juvenil e graça feminina, estabelecendo um delicioso e emocionante contraste à voz embargada do cantor.

A barbárie será vencida e, em qualquer dia desses, teremos liberdade.

http://www.123video.nl/playvideos.asp?MovieID=678084

 

Eu terei liberdade
(Tradução e Original)

Dizem que tudo pode ser substituído
dizem que a distância ainda é grande
Assim eu me lembro de todo rosto
De todo homem que me pôs aqui
Eu vejo minha luz vir tão forte
Do oeste até o leste
Mais dia menos dia mais dia menos dia
Eu terei minha liberdade

Dizem que todo homem precisa de apoio
dizem que todo homem precisa perder
assim, eu juro, eu vejo meu reflexo
Em algum lugar bem acima dessas paredes
Eu vejo minha luz vir brilhando
Do oeste até o leste
Mais dia menos dia mais dia menos dia
Eu serei libertado

Perto de mim nesta solitária multidão
Está um homem que jura que não é o culpado
O dia todo eu o ouço gritar tão alto
Clamando que foi vítima de uma armação
Eu vejo minha luz brilhar tão forte
Do oeste até o leste
Mais dia menos dia mais dia menos dia
Eu terei a minha liberdade.

 

(Obs: dei uns retoques na tradução)

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Comentários

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Emily

26/04/2012 - 16h12

i simply wished to say greetings! wonderful web site incidentally .http://www.listadeemail.org

junior

02/02/2012 - 17h41

Vcs não fazem idéia de como SOBRA DINHEIRO NA PREFEITURA DE SJC!!!
Em 2010 o PT denunciou o governo tucano por não empregar a sobra de 2009 no auxílio aos desabrigados pelas enchentes.
Aliás, o Prefeito Eduardo Cury (PSDB) quer levar os desalojados do Pinheirinho para uma área de risco próxima, na divisa com Jacareí, onde famílias foram retiradas recentemente.

NÃO DÁ P ENTENDER O POVO DE SJC ELEGER O PSDB 4X SEGUIDAS!!!!

Rogerio Rais

25/01/2012 - 20h45

… uma parte do PT paulista – quatrocentão (in ou out), ofi corce, nesse terrível episódio do Pinheirinho, especialmente na figura do Sr. Zé Cardoso, atua como muito bem disse o Chico Buarque: … falam grosso com a Bolívia e fino com os eeuu; no caso, a Bolívia somos nós, o povo todo do país, exceto com aqueles que representam os interesses das elites paulistas… … um ministro da justiça omisso, pois assistimos, atônitos, o que ocorreu: uma grave injustiça, uma imperdoável injustiça… um ministro da justiça cagão…
Triste são paulo …
… mas, como disse o Miguel, há esperança… o povo de são paulo pode começar a reintegrar suas cidades ao que está acontece em quase todo o país: um momento de construções, de cimentos e de valores humanistas…

Rogerio Rais

25/01/2012 - 20h44

Os paulistas votam nessa gente há muito tempo, né … não há engano nisso não … a maioria dos paulistas, que elegeram esses governantes, são sim cúmplices e agentes dessas tragédias humanas que temos acompanhado em são paulo, protagonizados pelos mesmos atores … são paulo, definitivamente, tem se afastado do resto do Brasil … e pelas portas dos fundos …

Leonardo Abecassis

25/01/2012 - 12h40

Será mesmo, Miguel? Não somos tão diferentes, cara. Vamos supor que o terreno do especulador valha 300.000. Vamos supor que você tenha um terreno de 300.000 com pessoas morando irregularmente. Você abriria mão desse dinheiro para as pessoas continuarem com os barracos dela? Mal ou bem, brutal ou não, o governo de SP simplesmente cumpriu a lei. Está na constituição o direito de propriedade privada. É um símbolo do liberalismo. E todos nós concordamos. Quem de nós cede a casa para pessoas desabrigadas? Pois é…

E o exército de Pinheirinhos conta com 500 pessoas: http://www.youtube.com/watch?v=sWg77XhW2rU&fe

    Miguel do Rosário

    25/01/2012 - 12h55

    Errado Leonardo. A lei da propriedade privada não é a única lei da Constituiçao Brasileira. Existem outras leis que falam de dignidade e direito à moradia. Existe inclusive a lei do usocapião, feita justamente para situações como esta. A sua comparação é descabida. Uma coisa é uma família ocupar um terreno particular, outra é o estabelecimento de mais de seis mil pessoas num grande espaço vazio, construindo casas, igrejas, padarias, arborizando as ruas. Não vem com esse papo de liberalismo ou capitalismo. A Europa é capitalista e nenhum governante faria algo assim, nem mesmo com imigrantes ilegais. Pinheiro não tinha exército nenhum, tanto que não houve reação. Havia é uma quantidade imensa de velhos, crianças e doentes, que foram brutalizados.

      Leonardo Abecassis

      25/01/2012 - 16h22

      Comparação descabida? Uma, duas, três, famílias desabrigadas, para mim, já é extremamente chocante.

      A lei do usocapião exige que não haja oposição do proprietário. Não é o caso. Há 2 anos que a população de lá se recusa a sair.

      E por que não falar em capitalismo ou liberalismo? Não estou nem entrando em méritos se isso é bom ou ruim. Só estou falando fatos. Liberalismo defende as liberdades individuais. Uma das suas principais premissas é a propriedade privada. Estou errado? E o capitalismo não tem nada a ver? Nem vou entrar em méritos, mas o fato é que em países socialistas isso não existe.

      Europa não faria algo assim? Não sei. Mas dá uma olhadinha nas condições dos imigrantes em Paris…E também não há como comparar a Europa com o Brasil. Guardamos desigualdades sociais que eles nem sonham, mesmo nas áreas mais pobres.

      Enfim, não acho que essa discussão vá render muito mais. Mantenho minha posição. Não sou a favor e nem defendo o que fizeram lá, mas essa é a sociedade em que vivemos e a sociedade que apoiamos. Se não fosse este o caso, acolheriamos as pessoas que ficaram desabrigadas em nossas próprias casas. Mas preferimos o conforto e a liberdade que temos sós ou com a nossa família. Querendo ou não, brutal ou não, é a lei que está sendo cumprida. Lei que respeita o direito individual da propriedade privada que o proprietário tem. Isso, felizmente ou infelizmente, não está errado.

      Essa é a minha opinião. Espero que respeitem, embora, claro, não sejam obrigados a concordar. Ah, e eu não sou marxista, rs, mesmo com esse discurso de esquerda.

      Parabéns pelo blog e obrigado pelo debate!

        Miguel do Rosário

        25/01/2012 - 16h29

        Nenhum país capitalista civilizado, na Europa ou EUA, faria algo assim. E os moradores de Pinheirinho não eram imigrantes ilegais, eram cidadãos brasileiros.

        Para piorar, havia uma decisão da Justiça Federal vetando a operação para desocupar Pinheirinho.

        Entendo a propriedade privada, mas não é esse o caso. Quando se tem uma sociedade já constituida, estabelecida, é preciso atentar para o uso social da propriedade.

        Existem outras leis regendo a nossa Constituição além daqueles que protegem a propriedade privada. Aliás, as próprias leis que regulam a propriedade privada, tem muitos capítulos sobre o seu uso social.

        Além do mais, o terreno pertencia a Naji Nahas, que deve milhões ao governo, e foi comprado com dinheiro de corrupção.

          Leonardo Abecassis

          25/01/2012 - 16h41

          Sem essa que não somos civilizados, por favor. Esse é o discurso que a grande mídia e a população mais conservadora adota para criticar o governo e os seus eleitores. Critique a decisão, que não foi civilizada, mas não posso aceitar essa que "os EUA são civilizados e o Brasil não". Quem fala isso também fala que o povo brasileiro é burro, que nordestino não sabe votar porque elege o PT, que nada no Brasil presta, etc…

          Miguel do Rosário

          25/01/2012 - 17h15

          Em alguns pontos, somos menos civilizados sim. E admitir isso é o primeiro requisito para evoluirmos. Não disse que o Brasil não é civilizado, disse que em nenhum país capitalista civilizado, um governo praticaria, gratuitamente, uma violência tão grotesca contra um número tão grande de famílias. No mínimo, ficaria com medo de perder votos.

          Leonardo Abecassis

          25/01/2012 - 18h09

          Então você está dizendo que o Brasil não é um país capitalista civilizado, já que um governo fez isso aqui. Dá no mesmo!

          Mas enfim. Só é engraçado falar de civilidade quando se trata dos Estados Unidos, ainda mais nessa de 'violência grotesca contra famílias'. É no mínimo exótico usar um país que interviu, direta ou indiretamente, em inúmeros países para promover seus interesses, inclusive no Brasil, ou esqueceu que até porta-aviões os norte-americanos mandaram em caso de resistência ao golpe de 64? Isso sem falar nas invasões ao Iraque, Afenganistão, Guatemala, Panamá, Vietnã, etc. E o embargo a Cuba, que toda a comunidade internacional condena? Ainda é um país extremamente racista, que só teve as leis raciais abolidas na década. Enfim, isso já está fugindo do tema inicial, mas só para pensarmos duas vezes antes de falarmos que algum país é menos ou mais 'civilizado', seja lá o que isso quer dizer no final das contas.

          Miguel do Rosário

          25/01/2012 - 18h27

          Tá certo, Leonardo. Mas estou falando no tratamento a cidadãos em seu próprio território. O que aconteceu em Pinheirinho não foi um ato civilizado. Ponto.

Leonardo Abecassis

25/01/2012 - 12h10

Miguel, vou ter que discordar de você dessa vez.

Eu acho o caso de Pinheirinho triste, porém por mostrar a sociedade em que escolhemos viver. Casos de desocupação como o em questão ocorrem todos os dias todas as horas. Aqui no DF o tempo todo estão desocupando moradores em condição de irregularidade. O diferencial de Pinheirinhos foi justamente que a população não ficou indefesa, como você colocou no post, e sim se armou com pedaços de pau, facas, escudos, pedras e até pitbulls! Por isso deflagrou-se essa 'guerra' toda. No mais, é um caso como milhares outros que acontecem todos os dias. São 1600 pessoas a mais nas já existentes 32 milhões (dados do IBGE).

E por mais que critiquemos a situação, em que medida fariamos algo diferente? Crescemos em uma sociedade liberal/capitalista. Portanto pensamos como um cidadão liberal/capitalista. Vamos a uma situação hipotética. Você tem uma casa na praia. Após três anos sem visitá-la, descobre que duas famílias a ocuparam. As famílias não tem outro lugar para ir e só tomaram essa medida por isso. Sinceramente? Eu gostaria, sim, de ter a minha casa de volta e sem ninguém. E creio que quem disser o contrário é hipócirita. Nem precisamos ir tão longe. Quantos de nós aqui já ajudaram algum dos inúmeros miseráveis que cruzamos na rua? Não falo de dar moeda, mas de dar comida, roupas e moradia em um tempo considerável.

Meu ponto é o seguinte. A condição dos moradores de Pinheirinho não é culpa do PSDB, de São Paulo, do PT, da PM, etc. É da própria sociedade liberal-capitalista. De todos nós, inclusive. Em Cuba, por exemplo, não há outros 'Pinheirinhos', como no Brasil. Uma das medidas da Revolução foi justamente essa, alojar moradores de rua em casas de outras famílias já abrigadas.

Na minha opinião, Pinheiros não é tão diferente da violência que vemos e promovemos todos os dias.

    Miguel do Rosário

    25/01/2012 - 12h22

    Leonardo, no caso de outras desocupações, analisemos no papel cada situação em detalhe. Eram quantas famílias? Era uma comunidade estabelecida há quanto tempo? Houve indenização? Houve negociação? Havia uma boa razão de interesse social para a desocupação? Pinheiro armou-se? Ora, o jornal publicou uma foto com meia dúzia de jovens vestindo capacetes de motocicleta, escudos de PVC e facões enferrujados, e você fala em armamento? Qualquer favelazinha vagabunda do Rio tem mil vezes mais armas que isso. Tubo de pvc é arma? Não vamos confundir a ocupação de um grande terreno baldio, desocupado há décadas, e ainda por cima pertencendo a um especulador bandido com dívidas de milhões com a Receita, além de condenações judiciais, com a ocupação de uma casa de praia de um particular! Há diferenças sempre. Tudo é uma questão de qualidade e quantidade.

Sandro

25/01/2012 - 11h32

E pensar que o governo federal se ofereceu pra comprar o terreno…
Nesse caso o governo do estado disse que não podia deixar de cumprir decisão judicial, já no caso da jornada dos professores o Alckimim não cumpriu a decisão judicial.
O PSDB sempre tem dois pesos e duas medidas.

Mucuim

25/01/2012 - 10h37

A legião dos esquecidos (Pequena memória de um tempo sem memória)
Autor: Gonzaguina

Link: http://www.youtube.com/watch?v=SJ_1pjnW2Lg

Memória de um tempo onde lutar
Por seu direito
É um defeito que mata …

Carlos Veloso

25/01/2012 - 08h36

Disse tudo. Parabéns pelo post!

elson

25/01/2012 - 07h10

Miguel , eu sei oque aquelas pessoas estãp passando , já passei por uma experiencia como essa , num dia voce tem seu teto e luta para melhoraá-lo , no outro vem a policia derruba sua casa e toma todos os seus sonhos .

Maria

24/01/2012 - 21h49

A música do Dylan é linda. Um dos comentaristas, Hélio Oliveira, falou do tempo que gostava de ler os jornais do avô. Diante da tragédia de Pinheirinho o que veio a minha cabeça foi o filme argentino Um Conto chinês, com Ricardo Darin e as circunstâncias que mudam um homem. Ás vezes a mudança é quase imposta a nossa consciência, a gente quer dar as costas mas não pode. Porque o outro poderia ser a gente. Uma lição de solidariedade.

    Miguel do Rosário

    24/01/2012 - 22h05

    Bela referência, Maria, ao filme Um Conto Chinês, um filme argentino lindo que também assisti. Tem razão.

érico cordeiro

24/01/2012 - 21h35

Esse vídeo de apenas 35 segundos é mais eloquente que um milhão de textos. http://www.youtube.com/watch?v=VoiYydTMvc8
Infâmia!

Mucuim

24/01/2012 - 20h40

O horror e a opção preferencial contra os pobres.

Nada mais precisa ser dito para descrever a operação de despejo de Pinheirinho, em São José dos Campos, e a ação policial contra os usuários de crack no centro da capital, na chamada Cracolândia. Mas existem muitas explicações para a truculência, a desumanidade, a destituição do direito de cidadania aos pobres pelo poder público paulista.

Leia mais: http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMost

Marola1

24/01/2012 - 19h02

Como não condenar a imprensa? Hoje, enquanto almoçava, assisti um desses bonecos de ventríloquo da Globo anunciando a conclusão da "desocupação de um terreno em SJC", assim mesmo, sem fazer a mais tênue menção ao fato que lá viviam seres humanos que foram sumáriamente escorraçados pelos podres poderes da direita fascista que governa SP, num verdadeiro "whitewashing" quase tão vergonhoso quanto o arbítrio praticado contra os indefesos moradores de Pinheirinho. Chega de ficar aliviando a barra desses crápulas Miguel!

    Miguel do Rosário

    24/01/2012 - 20h56

    Marola 1, eu acompanho os jornais todos. Eles não condenaram, mas publicaram bastante material que permite a qualquer um constatar o absurdo da situação.

    Hoje no Panorama Político do Globo, destaca-se a frase do presidente da OAB do Rio: “Mais uma vez uma gravíssima questão social é tratada como caso de polícia.”

    Nossa mídia é bem conservadora, tem mil problemas. mas não foi a mídia quem deu a ordem pra invadir Pinheirinho. Então devemos focar a indignação nos verdadeiros culpados, para não dispersá-la.

      Marola1

      25/01/2012 - 02h22

      Mas estão fazendo tudo para encobrir, reduzindo o episódio à mera briga eleitoral entre PSDB e PT com o último fazendo como sempre o papel de vilão. Hoje, enquanto almoçava, assisti um desses bonecos de ventríloquo da Globo anunciando a conclusão da "desocupação de um terreno em SJC", assim mesmo, sem fazer a mais ligeira menção à sofrida situação em que se encontram os pobres seres humanos que viviam no local. Esse seu jactado apartidarismo está levando vc a cometer um grave erro que é o da omissão. O buraco é muito mais embaixo e passa sim, pela manipulação da informação levada aos lares de milhões de brasileiros. Por que a imprensa não chiou contra o cerceamento de sua atividades durante a operação da PM? Porque tanto quanto eu, vc sabe que ela está comprometida no livrar a cara dos tucanos e da Justiça paulista (vide o editorial escroto do Estadão recheado de inverdades). Até agora, só vi um único jornalista do PIG (Paulo Moreira Leite) criticando os desmandos do governo paulista. E além do mais, o que vc vê como atenuante, pra mim não é mais do que obrigação da imprensa, reportar o que está acontecendo de relevante no país, ou vc acha que seria perfeitamente plausível que êles ignorassem solenemente o episódio? Seu nível de exigência está muito baixo Miguel.

        Miguel do Rosário

        25/01/2012 - 10h22

        Marola, são muitas mídias, muita gente, muitas situações. A entidade mídia não tem um rosto fixo. Você viu o depoimento do Boechat? Um depoimento duríssimo, e comovente, de um jornalista da Band. Não estou sendo pouco exigente. Eu critico esses caras dias e noite. Abri até um blog especializado em fazer essa crítica.

        A Folha publicou ótimas reportagens sobre Pinheirinho, mostrando o sofrimento das famílias e o estado precário dos alojamentos. http://www.ihu.unisinos.br/noticias/506044-reinte… Ponto para ela nesse ponto. Mas não fez nenhum comentário editorial, ponto contra.

        A mídia concentrada e partidária é um dos principais problemas políticos do Brasil e da América Latina. Estou me referindo, porém, a um caso específico: a barbárie governamental em Pinheirinho.

        Por outro lado, admito uma coisa: Alckmin talvez não teria feito o que fez se tivesse medo das consequências desse ato na mídia.

        Acho que você tem razão. Mas entenda meu lado. Não posso satanizar a mídia, senão perco a condição de fazer uma crítica racional.

        Abraço,
        Miguel

helio oliveira

24/01/2012 - 18h10

Toda manhã vejo na banca de jornal perto de casa, estampados o Globo, Extra, o Dia, recheados com manchetes mentirosas, crimes, denuncismos, namoros de celebridades, sexo e mais recentemente big brothe.Quando era menino gostava de folhear os jornais do meu avô. Ele gostava de o dia.`As vezes no metrô vejo aqueles caras exibindo O globo, a Folha e outros Pigs, com se fossem os “ jênios “.Penso como podem digerir tantas mentiras, sem nenhuma visão crítica. Tem anos que não leio nenhum jornal impresso aqui no Rio.Faço leitura diária dos blogs sujos.Como você sempre demonstra nos seus posts analisando esta mídia, a chamada é uma coisa e o conteúdo e outro.Fico imaginado como deve ser na redação o relacionamento do editor com o repórter ?Será que eles combinam : " vamos distorcer este texto assim e assado, sabe como é " ? Miguel, espero que os Pinherinhos tenham acesso a esse texto.Para mim pode perfeitamente ser usado como um panfleto. Um grande abraço.

Vera Silva

24/01/2012 - 16h02

Sempre é necessário nos lembrarmos do que é liberdade.
Sempre é necessário nos lembrarmos do que é justiça.
Sempre é necessário nos lembrarmos do que é fraternidade.
Obrigada pelo post.

José Policarpo Jr.

24/01/2012 - 12h42

Excelente, Justo e Belo, Miguel do Rosário!

Não é preciso dizer mais nada.

Lucas

24/01/2012 - 12h00

Você deu uma tradução mais politizada à música do Bob Dylan

Sempre julguei essa canção um exemplar da fase gospel do cantor

Parabéns pelo post, muito bom mesmo!


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