Os números do Datafolha divulgados neste fim de semana não provocaram exatamente surpresa. Outras pesquisas já haviam apontado que as crises ministeriais não afetaram a popularidade da presidente. Entretanto, mesmo não sendo uma surpresa, não deixa de ser impressionante. Não é tão fácil, como às vezes pode parecer, manter uma popularidade tão alta, sobretudo num ambiente político tão pesado como o brasileiro. No Chile, o Piñeras – um bilionário que pode pagar os melhores analistas em comunicação – enfrenta os piores índices de confiança desde a redemocratização do país. Em quase todo os países democráticos, governantes perderam pontos nas pesquisas de opinião nos últimos meses. A exceção, além do Brasil, é outra mulher, a argentina Cristina Kirchner, recentemente eleita no primeiro turno numa vitória esmagadora.
A pesquisa mostra que Dilma conseguiu a proeza de se tornar popular junto a todas as classes sociais. O perfil fortemente classista que caracterizou a aprovação de Lula durante boa parte de seu mandato (nem considero o seu momento final, quando esta atingiu píncaros absurdos) diluiu-se bastante neste primeiro ano da gestão Dilma.
O percentual de pessoas que consideraram o governo ruim ou péssimo é o mesmo para todas as faixas sociais, entre 5 a 6%.
Para Dilma, esses números não poderiam chegar em hora mais conveniente, porque lhe dá o prestígio de que necessita para se posicionar frente aos partidos de base, na longa e dura guerra que ela iniciou contra o fisiologismo.
Claro, há sempre o risco de acomodação. De o governo entrar na chamada zona de conforto. Estamos longe do frenesi desenvolvimentista sulcoreano, que soube dar um sentido de urgência às suas políticas de educação, formação de mão-de-obra e investimento em tecnologia.
Por outro lado, não seria justamente esse conforto, essa estabilidade, a condição necessária para o Brasil se desenvolver sem os sobressaltos?
Ao governo, cabe prover crédito, criar programas sociais, investir em educação, saúde e infra-estrutura. É preciso, porém, que nossos empresários saiam de baixo da saia do governo e usem a sua criatividade para se posicionarem melhor globalmente.
A alta popularidade de Dilma serve ainda para ampliar o poder de atração do poder central sobre as forças regionais, dificultando a vida das oposições.
Otimismo da população com economia ajuda a sustentar popularidade, que não foi afetada por escândalos no governo
BERNARDO MELLO FRANCO, DE SÃO PAULO (FOLHA)
A presidente Dilma Rousseff atingiu no fim do primeiro ano de seu governo um índice de aprovação recorde, maior que o alcançado nesse estágio por todos os presidentes que a antecederam desde a volta das eleições diretas. Pesquisa Datafolha realizada na última semana mostra que 59% dos brasileiros consideram sua gestão ótima ou boa -um salto de 10 pontos percentuais em seis meses.
Outros 33% classificam a gestão como regular, e 6% como ruim ou péssima -cinco pontos a menos que na pesquisa de agosto. Não responderam 2% dos entrevistados. A nota média do governo é 7,2. Os números atestam que a presidente não teve a imagem afetada pelos escândalos que marcaram o início de sua gestão. Ela demitiu sete ministros em 2011, seis deles sob suspeita de corrupção.
Ao completar um ano no Planalto, Fernando Collor tinha 23% de aprovação. Itamar Franco contava 12%. Fernando Henrique Cardoso teve 41% no primeiro mandato e 16% no segundo. Luiz Inácio Lula da Silva alcançou 42% e 50%, respectivamente. De acordo com o novo levantamento, a avaliação de Dilma melhorou entre homens e mulheres e em todas as faixas de idade, renda familiar e escolaridade. Sua aprovação agora é de 62% no eleitorado feminino e de 56% no masculino.
A presidente alcançou um equilíbrio entre os eleitores da base e do topo da pirâmide social. Tem 61% de ótimo e bom entre os que estudaram até o ensino fundamental e 59% entre os que chegaram ao ensino superior. Na divisão por renda familiar, o maior avanço foi na faixa de cinco a dez salários mínimos: 16 pontos de melhora, atingindo 61% de aprovação.
Para o diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino, a chave para entender a evolução dos números nos últimos meses está na economia. “É o fator que mais explica as mudanças em relação à pesquisa anterior”, afirma. “A população estava preocupada com a crise internacional, mas percebeu que ela não mexeu no seu bolso.”
A fatia de entrevistados que acredita que sua situação econômica vai melhorar subiu de 54% em junho passado para 60% neste mês. O otimismo sobre a economia do país foi de 42% para 46% no período. Em 2011, a inflação chegou a 6,5%, a maior em sete anos. A alta de preços atingiu o pico em setembro, mas agora segue tendência de queda.
A imagem pessoal de Dilma também melhorou. Ela é considerada “decidida” por 72% dos brasileiros. Para 80%, ela é “muito inteligente”, e para 70%, “sincera”. Entre os eleitores que apontam o PSDB como seu partido preferido, a petista alcança 40% de aprovação. Neste grupo, 69% a consideram “muito inteligente”, e 57%, “decidida” e “sincera”.
“Dilma demonstrou firmeza nas crises e passou a imagem de que é rápida para decidir e não titubeia para demitir quem se envolve em irregularidades”, diz Paulino. O Datafolha ouviu 2.575 pessoas nos dias 18 e 19. A margem de erro do levantamento é de dois pontos para mais ou para menos.
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