Por Lia Bianchini, repórter especial do Cafezinho
Nos noticiários e na boca do povo, o assunto do momento é o preço do dólar no Brasil. Se, há poucos anos, a moeda norte-americana brilhava aos olhos brasileiros com preços que giravam em torno de R$2, atualmente, seu valor causa espanto: no último dia 23, o dólar comercial chegou a R$ 4,14, a maior cotação, em valores nominais, desde a criação do Plano Real, em 1994.
Ainda que os números sejam assustadores, há uma lógica por trás deles. Segundo o economista Richard Rytenband, a elevação do preço do dólar deve-se a uma política cambial do governo. “Crise cambial é quando o país está sem reservas internacionais, está vulnerável e sob ataque especulativo, além de ter uma saída de capitais. Se pegarmos 2002 (de abril a outubro), quando teve uma grande desvalorização cambial, houve saída de US$10 bilhões do país. Agora, de setembro de 2014 até os dias de hoje, a gente teve uma entrada de recursos, ou seja, entraram dólares. Então, o dólar não está subindo porque está havendo uma fuga de capitais, o dólar está subindo porque faz parte da política econômica”, afirma.
O ano de 2002 é usado como comparativo porque foi o maior pico já contabilizado, se descontadas as inflações brasileira e norte-americana no valor do dólar. Naquele ano, o dólar chegou a R$ 4, o que equivaleria, atualmente, a R$ 6,50. A cotação atual do dólar, segundo Rytenband, está próxima a de 1999, quando o câmbio passou a ser flutuante.
O economista explica, ainda, que o valor atual do dólar é um reflexo da política que o Banco Central brasileiro vinha tomando de represar o câmbio em um patamar artificial, mantendo-o apreciado, com o objetivo de conter a inflação. Essa política pôde ser sentida pela população, à época, através do aumento do poder aquisitivo, que facilitou as viagens ao exterior e a compra de produtos importados.
No entanto, ainda que fizesse bem aos sonhos de consumo de alguns brasileiros, tais medidas econômicas tornavam o Brasil mais vulnerável externamente e dependente da moeda norte-americana, fatores que determinaram a necessidade de se fazer um ajuste externo, que reflete-se, hoje, justamente nas viagens e nos produtos importados.
“Se parasse de entrar capitais, de onde o Brasil iria tirar dólares? Das reservas internacionais. Em 2002, as reservas internacionais eram de US$ 35 bilhões, contando com o dinheiro do FMI; agora, temos US$ 370 bilhões de reserva, dez vezes mais poder de fogo. Então, é mais um argumento mostrando como faz parte de uma política cambial. Mas porque fazer isso? Para fazer o chamado ajuste externo, que é fazer com que o país não precise tanto de dólares. E como fizeram isso? Com redução do gasto de turismo no exterior, queda brusca nas importações e com a diminuição da remessa de lucros de empresas estrangeiras às matrizes.”, explica Rytenband.
Porém, apesar da lógica, as medidas alertam para questões mais graves relacionadas à economia brasileira. Para o economista do BNDES e professor associado da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Marcos Fernandes Machado, outro grave fator para o aumento do dólar é a perda de expectativas dos investidores em relação ao país. “O problema maior está nas expectativas que se deterioraram muito nos últimos meses, especialmente com relação à desconfiança quanto a capacidade do governo em controlar seus gastos e mesmo sua capacidade de administrar a economia e, consequentemente, impedir que o déficit público cresça de forma descontrolada. Esses fatores levaram, por exemplo, à perda do grau de investimento do Brasil por uma agência de risco (Standard & Poor’s), e esse rebaixamento pode ter continuidade” diz Machado.
Segundo o professor, o governo deveria ter tomado medidas preventivas que impedissem o crescimento da dívida pública, ao invés de deixar que os gastos públicos acelerassem. “O problema crucial é como voltar a controlar as finanças públicas. Sem isso, o risco-Brasil vai aumentar cada vez mais, e se isso acontecer o dólar vai se manter nas alturas, aumentando a inflação e a recessão”, afirma.
O dólar no dia-a-dia da população brasileira
Quando o assunto é economia, a teoria influencia diretamente na prática. E os brasileiros devem começar a sentir os efeitos da alta do dólar em seu cotidiano nos próximos meses.
A tendência é de que haja aumento na inflação e diminuição no poder de compra. Além disso, produtos importados e até mesmo alguns produzidos no Brasil devem ter seus preços elevados.
São exemplos disso o pão e o macarrão, cuja matéria prima, o trigo, vem, majoritariamente, exportada de Estados Unidos, Canadá, Rússia e Argentina. Outros exemplos que também deverão sofrer aumento de preço são soja, carne, café, açúcar e milho, que, apesar de serem produzidos no Brasil, estão atrelados ao dólar pelo ganho do produtor com exportação. Logo, quando destinados ao mercado interno, tais produtos devem compensar o lucro que trariam aos produtores caso fossem exportados.
Produtos de higiene e beleza, como desodorantes, cremes e maquiagem que possuem componentes químicos importados também têm previsão de aumento de preços.
Para Maria Beatriz de Albuquerque, doutora em crescimento e desenvolvimento econômico, o atual cenário já era previsto. “A queda do preço das commodities iria ocorrer cedo ou tarde. O país não aproveitou o período de bonança, que foi atipicamente longo para realizar os investimentos necessários e melhorar sua competitividade. O efeito positivo imediato é tornar o preço dos produtos nacionais mais baratos, mas não é de fato um ganho de competitividade duradouro, não está relacionado ao aumento da eficiência e da produtividade”, explica.
A economista analisa, ainda, que há riscos de que a moeda norte-americana permaneça elevada. “Se não houver melhora das expectativas [de investimento no Brasil] e se, além disso, os juros subirem nos Estados Unidos, o dólar tenderá a permanecer elevado, pois a subida dos juros nos Estados Unidos reduziria a entrada de capitais no Brasil”, diz.
Porém, segundo o economista Richard Rytenband, a política cambial deve surtir efeitos positivos, mesmo em um cenário de aumento de juros nos Estados Unidos. “Essa é a mecânica do ajuste externo. Tem prós e contras, mas é muito pior ter uma crise externa e ficar vulnerável. Para o ano que vem, até mesmo em um cenário de aumento da taxa de juros norte-americana, o Brasil acabou com a vulnerabilidade externa, então isso foi resolvido. Mas com um custo. Economia é isso: você não consegue agradar a todos nem prejudicar a todos. A escolha que a equipe econômica fez foi do ajuste externo o mais rápido possível. Agora falta o outro, que é o ajuste interno, das contas públicas”, diz Rytenband.
Anônimo
30/09/2015 - 00h19
Realmente, o governo dilma tem que tomar um novo rumo urgente para a economia, em defesa dos menos favorecidos. É isso aí miguel.
Tulio Almeida
29/09/2015 - 15h08
FIS-CA-LI-ZA-ÇÃO. Essa é a palavra. O Brasil desde sempre carece de fiscalização financeira séria, para citar apenas uma área, o que mais existe são fiscalizações distorcidas, ou seja, muita burocracia encarecedora e inútil, essa área parece muito corrompida e vem deixando o país deteriorado em contas públicas de todas as esferas: Federais, estaduais e municipais, deixando também o setor privado fracamente monitorado, onde ocorrem fugas bilionárias de divisas e sonegações, vide um dos exemplos, o caso ZELOTES/HSBC de quase 20 BILHÕES de reais escondido pela mídia e essa muda o foco apenas para a operação Lava-jato de menor monta, mas que também precisa ser investigado em todos os lados. As falhas de fiscalizações somadas as impunidades, que é outro problema relacionado, fazem que o Brasil tenha um deficit fiscal de mais de 500 BILHÕES por ano. Com uma fiscalização mais eficiente, podíamos tornar mais fácil até a abertura e manutenção de novas empresas no Brasil, seria um crescimento enorme.
Reportagem de Abril de 2015:
http://noticias.r7.com/economia/sonegacao-de-impostos-no-brasil-ja-supera-r-128-bilhoes-em-2015-01042015
Diego
29/09/2015 - 09h59
Falando em itaú como empresa que agora tem um partido, será que nós trabalhadores podemos escolher um banco para receber nossos proventos em vez da empresa que nos contrata? Existe alguma lei que nos dê liberdade de escolha?
Diego
29/09/2015 - 09h52
SÓ PRA RELEMBRAR: ZELOTES R$ 565 BILHÕES
http://democraciapolitica.blogspot.com.br/2015/09/os-misterios-da-operacao-zelotes.html
Daniel
29/09/2015 - 08h18
O problema que eu vejo na questão é que a nossa economia é informalmente dolarizada (ou seja, TODOS os preços são atrelados ao dólar), com exceção dos salários é claro. Como que o mercado interno vai conseguir continuar funcionando se os preços sobem de repente por causa do dólar e os salários abaixam automaticamente na mesma medida? É receita certa para fazer o país inteiro virar um mero “rincão exportador de produtos agrícolas” com uma massa de miseráveis sem ter aonde morar por não terem como pagar aluguel (dolarizado).