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Dançando na rua

Não sei se o movimento Occupy Wallstreet significa o renascimento da esquerda americana (o que para o Uncle Sam é um radicalismo imperdoável), como acham muitos analistas, mas com certeza é um fenômeno social interessante do nosso tempo. Tem um na cinelândia também, dos grandes.

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Não sei se o movimento Occupy Wallstreet significa o renascimento da esquerda americana (o que para o Uncle Sam é um radicalismo imperdoável), como acham muitos analistas, mas com certeza é um fenômeno social interessante do nosso tempo. Tem um na cinelândia também, dos grandes.

Seja como for, o aparatchik conservador já botou seus oficiais mais talentosos para desconstrui-lo. Acabo de ler um texto que é uma obra-prima do cinismo bem-comportado anglo-saxônico.

Só tem uma falha grave. A mentira de que o Tea Party não machucou ninguém. Alguns comentários no blog lembraram o autor de vários atos de violência praticos pelos tea parties. Não tive tempo de ler as centenas de comentários, mas eu mesmo lembro que uma parlamentar americana foi assassinada por um simpatizante do movimento. E logo após uma figurona do partido republicano (ela mesmo, a Sarah Palin) aparecer na tv ou no seu website com miras de tiro envolvendo os democratas mais avermelhados.

Os EUA e Inglaterra produziram um exército assustador de soldados intelectuais. Eles parecem até aqueles monstros em série que o vilão do Senhor dos Anéis forjava em seu castelo. Durante os debates que antecederam a guerra no Iraque, eu lia diariamente os jornais americanos, New York Times, Washington Post, LA Times. Somente em Los Angeles encontrava alguns colunistas fazendo críticas corajosas à guerra. O resto, um bando de carneirinhos obedientes à linha imposta por Washington. É por isso que os americanos estão com raiva. Eles sabem que foram enganados. A turma do Dick Cheney torrou cinco trilhões de dólares para fazer duas guerras idiotas no Iraque e no Afeganistão. Morreram mais de um milhão de pessoas, aumentou a insegurança terrorista no mundo e agora os Estados Unidos estão endividados, com desemprego e serviços públicos falidos. O mais irônico: a direita americana entregou os EUA nas mãos da China, que detêm a maior parte dos títulos do Tesouro Americano.

O dragão chinês dominou o falcão pelo bolso.

O movimento Ocupar reflete inquietação, e não é bem comportado, o que é saudável. Se fossem um bando de mauricinhos fofinhos protestando bonitinhos nas praças americanas seria ainda mais ridículo do que o aspecto meio bandido e autêntico que ele tomou naturalmente em alguns lugares. O desemprego faz todo mundo virar meio punk. O capitalismo produz criminosos, mendigos, prostitutas, corruptos e gente que protesta nas ruas. A maioria dos ladrões começa roubando porque precisa. Os corruptos porque são pilantras por natureza. E as pessoas que protestam desenvolvem algum tipo de loucura santa que as fazem querer mudar a sociedade.

Há forças enormes operando por trás desses eventos. As placas tectônicas da história continuam se movendo, produzindo especuladores cínicos, blogueiros sarcásticos e hippies românticos. Que Deus abençoe a todos. Amém.

PS: Não precisa abençoar os primeiros, não, Deus, porque senão eles vão trocar sua benção por ações da Black Water…

Link da imagem da capa.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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