O economista-jornalista Carlos Alberto Sardenberg é um operário esforçado da comunicação. É do tipo que possui vários clones na mídia: um fala no Jornal da Globo e Globonews; outro tem um programa na CBN; e um terceiro escreve asneiras nos jornais Globo e no Estadão.
Eu tive a pachorra de ler o texto pela manhã, e agora arrisco uma análise, escrevendo em negrito itálico nos intervalos do artigo.
Geisel e Lula
Por Carlos Alberto Sardenberg
Publicado no O ESTADO DE S. PAULO e no Globo.
Não foi por acaso que parte da esquerda brasileira se encantou com a política econômica do presidente Ernesto Geisel, na década de 70. O general, que trazia uma bronca dos americanos, a qual caía muito bem para o figurino, tinha uma visão de economia muito ao gosto do que se chamou de ala desenvolvimentista da América Latina: o Estado comanda as atividades econômicas, investindo, financiando, subsidiando, autorizando (ou vetando) os negócios e a atuação de empresas, determinando ainda quais setores devem ser estimulados. Mais ainda: com a força das estatais e seus monopólios, o governo organizava empresas para atuar em determinadas áreas.
De fato, o Brasil cresceu em ritmo recorde naquela época. Mas é errado dizer que “a esquerda” se encantou. A esquerda da época, por exemplo, estava sendo massacarada. As medidas de Geisel encantaram, se é que se pode usar esse termo, a todos os campos ideológicos desde que deu resultados extraordinários.
O presidente Geisel, como se vê, tinha mais poderes do que o presidente Lula. Todos os setores importantes da economia estavam nas mãos de estatais, de modo que o controle era mais direto. Além disso, havia o AI-5, instrumento de poder absoluto. Quando o presidente dizia a um empresário ou banqueiro o que deveria fazer, a proposta, digamos assim, tinha uma força extra.
Lula, mesmo com menos poderes, tenta fazer do mesmo modo. Geisel era o dono da Vale. Lula não é, mas pressiona os atuais controladores da mineradora para que ajam deste ou daquele modo.
O governo brasileiro é um dos principais acionistas da Vale, e a empresa tem importância estratégica. Lula tem obrigação de pressionar os atuais controladores em função dos interesses nacionais, que extrapolam os privados.
Geisel montou empresas, como as famosas companhias da área petroquímica, tripartites, constituídas por uma companhia estrangeira, uma nacional privada e uma estatal, na base do um terço cada. Aliás, convém notar: não faltaram multinacionais interessadas. O capital não se move por ideologia, mas por… dinheiro. Devia ser um bom negócio entrar num país sem competição e com apoio do governo local.
Do mesmo modo, as multinacionais do petróleo vão topar (ou não) o novo modelo de exploração do pré-sal não por motivos políticos, mas pela possibilidade de ganhar (ou não) dinheiro. E pela segurança do negócio.
Não tem nada “do mesmo modo”. As circunstâncias são totalmente diferentes. Temos outro modelo jurídico, mas o que incomoda Sardenberg é que o pré-sal privilegia o interesse nacional.
De certo modo, o ambiente todo era mais seguro no tempo de Geisel. Não havia como se opor às determinações do presidente. Fechado o negócio com o seu governo, estava fechado. Com o Legislativo, o Judiciário, partidos e imprensa manietados, como se opor ou mesmo discutir?
Hoje, o presidente Lula tem as limitações de um regime democrático, além de seu poder econômico ter sido muito reduzido depois das privatizações e da rearrumação da ordem econômica. Ainda assim, tem instrumentos poderosos, como o BNDES, e a possibilidade de manipular a carga tributária, aumentando e reduzindo conforme seu interesse neste ou naquele setor.
Certo. Mas Lula não tem só “limitações de um regime democrático”. Ele tem as liberdades de um regime democrático, pelo qual o povo exerce o poder através de seus representantes. Então quando Lula usa “instrumentos poderosos”, quem está, por trás de Lula, manipulando-o, é o povo.
Ora, o financiamento do BNDES, por ser subsidiado pelo contribuinte brasileiro, é o mais vantajoso da praça. Num país de carga tributária tão elevada, qualquer redução dá uma vantagem enorme ao setor beneficiado. Assim, em vez de se concentrar em seu negócio, pode ser mais útil para o empresário fazer o lobby em Brasília.
Tá certo. Concordo. Sardenber podia ser mais direto e acusar a Fiesp.
De certo modo, Lula até organizou essa ida a Brasília, ao pôr representantes dos empresários no Conselhão (o Conselho de Desenvolvimento) e em diversos comitês, como este mais recente, de avaliação da crise.
Ótima ideia de Lula: ouvir os empresários. Com isso, evitou que seu governo imitasse o autismo revoltando do governo anterior, que sequer representava os empresários. Semelhava mais uma máfia financeira, que não ouvia ninguém e conduzia uma política econômica desconectada da vida real.
Geisel fortaleceu a Petrobrás, da qual, aliás, havia sido presidente. Verdade que a esquerda não gostou dos tais contratos de risco de exploração de petróleo, criados pelo presidente numa tentativa de atrair mais capitais. Mas não funcionou. O que funcionou foi a enorme expansão da Petrobrás, que então já era dona exclusiva do monopólio do petróleo.
Geisel levou-a à petroquímica, ao comércio externo e ao varejo dos postos de gasolina. Com privilégios. Geisel reservou para a estatal a instalação de postos de gasolina em determinadas estradas e áreas.
O presidente Lula trata de devolver à Petrobrás privilégios que perdeu com a Lei do Petróleo de 1997.
A Petrobrás foi criada por Vargas, numa grande campanha nacionalista. Os militares representavam a direita que era contra a sua criação. Depois que a estatal deu certo, porém, os generais viram que podia ser uma mina de ouro.
Outra coisa comum aos dois governos é o apreço por obras grandiosas. Não é por acaso que Lula tenta retomar alguns programas de Geisel, como as usinas nucleares.
Mediocridade assumida. O Brasil é um país grande, que precisa de obras grandiosas. JK também foi grandioso, ao construir Brasília. Vargas idem. Os bons governos – não é o caso dos militares – fazem as obras necessárias para as grandes necessidades do país.
Mas há aí uma grande diferença. Geisel fazia, punha os projetos na rua, como a Ferrovia do Aço, o programa nuclear (feito com os alemães, para bronca dos americanos) e tantos outros. Mais fácil, claro: não tinha licença ambiental, não tinha Ministério Público, nem sindicatos, nem juízes para parar obras na base de liminares.
Hoje, Lula tenta driblar esses “estorvos”, mas vai tudo mais devagar.
Lula tenta tocar as obras. As instituições de controle procuram tornar a obra perfeita, o que de fato atrasa e até mesmo inviabilizaria a obra. Daí resulta uma dialética que produz a solução possível.
E – quer saber? – pode até ser bom para o País. O estrago será menor. Porque, esse é o resultado geral, o governo Geisel deixou uma ampla coleção de cemitérios fiscais e empresariais. Enquanto o Brasil conseguiu financiamento externo – com os bancos internacionais passando para os países em desenvolvimento os petrodólares, a juros baratos -, o modelo ficou de pé.
Com a crise mundial dos anos 70 – com inflação e recessão, consequência da alta dos preços do petróleo, de alimentos e, em seguida, do choque de juros – a fonte secou e o Brasil quebrou.
Resultaram estatais tão grandes quanto ineficientes. Lembram-se das teles? Havia a Telebrás e uma estatal federal em cada Estado. E uma linha fixa de telefone, em São Paulo, custava US$ 5 mil.
De fato, as estatais eram ineficientes, porque nasceram num ambiente autoritário e corrupto, não por serem estatais. China, Noruega, França, Rússia, em todo mundo há estatais eficientes, responsáveis pela condução de grandes projetos.
Resultaram também empresas mistas e privadas absolutamente ineficientes, as produtoras das carroças, que só vendiam alguma coisa aqui dentro porque era proibido importar. De computadores e carros a macarrão. Só quando o comércio externo começou a ser aberto, no governo Collor, a gente soube o que era um verdadeiro espaguete.
Certo.
Não foi por azar que tivemos uma década perdida, com inflação descontrolada, contas públicas falidas, dívida externa não financiável e empresas incapazes, que só existiam à sombra do dinheiro e da proteção do Estado. Ou seja, com o dinheiro do contribuinte.
Não foi azar. Foi uma tragédia, e O GLobo e o Estadão, jornais que publicam o artigo de Sardenberg, foram essenciais para que essa tragédia se consumasse.
Convém pensar nisso quando Lula, por exemplo, força o Banco do Brasil a ampliar o crédito e reduzir os juros na marra ou quando leva o BNDES a financiar cada vez mais bilhões. Os bancos públicos já quebraram mais de uma vez. O Brasil também.
O que Lula tem feito resultou em grande sucess econômico e, o que é mais importante, social, com geração de empregos e uma solidez econômica de fazer inveja ao resto do mundo. Enquanto Sardenberg late, as caravanas passam, ou seja, investidores internacionais aportam no Brasil com recursos em volume recorde.
Alexandre Santos
15/12/2011 - 22h56
Só tem que lembrar ao economista, que na época o Geisel, a maquina de fazer dinherio( casa da moeda) funcionava a todo vapor e essa era uma da razões de nossa imensa inflação. quanto ao LULA é com superavit primario mesmo, bem diferente né?