Depois de um início preguiçoso, a semana promete encerrar pegando fogo, por isso não encontrei melhor ilustração para o post do que uma pintura de Hieronymus Bosch, com sua agitação infernal. E desta vez, a pauta política, pela primeira vez na história da república, não está sendo conduzida pela mídia, e sim pela combativa blogosfera progressista.
A panela esquenta sobre dois bocais do fogão legislativo: no Senado e na Câmara.
O líder do PT no Senado, o pernambucano Humberto Costa, subiu à tribuna ontem para pedir a reabertura de investigações sobre o processo de privatização, em virtude das graves e documentadas denúncias contidas no livro de Amaury Ribeiro, a Privataria Tucana.
Na Câmara, depois do discurso inflamado do deputado Brizola Neto (PDT-RJ)…
… temos notícia de que o seu colega, Protógenes Queiroz, prometeu entregar um pedido de CPI sobre a Privataria com mais de 200 assinaturas ainda nesta quinta-feira.
Então teremos briga, como aliás adianta o Tijolaço, do Brizola. Os tucanos devem lançar hoje uma contra-ofensiva.
O Globo, porém, amanheceu com a pretensão de ignorar solenemente o tema e pautar à sua maneira a agenda política. Conseguiu, de fato, aplicar um golpe em Pimentel. O presidente da Fiemg, Robson Andrade, falara que Pimentel dera palestras nas regionais, mas o ministro não o fez. Foi um equívoco de Andrade, não do ministro, mas já foi o bastante para gerar duas páginas negativas na edição de hoje, além de uma chamada na capa, no hemisfério superior, ao lado das manchetes.
Noblat, naturalmente, se esbaldou.
O procedimento é corriqueiro em crises políticas. Obriga-se todos os envolvidos a se manifestarem diariamente, e qualquer mínima contradição ou erro factual em suas falas são tratados como um grande trunfo, mesmo que aquele deslize verbal não tenha nada a ver com o objeto da denúncia em si.
Outro destaque na mídia foi a publicação, pela Folha, de matéria sobre o livro de Amaury, rompendo o estrondoso silêncio que vinha perdurando nos últimos dias. A reportagem, contudo, se esmera em atacar Amaury, repetindo pleonasticamente umas quatro ou cinco vezes que ele está sendo investigado e processado por “quebra de sigilo”, e que teria trabalhado ou quase trabalhado na campanha de Dilma Rousseff em 2010. Também tenta acobertar os indícios de ligação entre as transferências milionárias registradas para integrantes do PSDB e familiares de Serra e o processo de privatização. E dá destaque à agressiva defesa de Serra. Trata-se, enfim, de uma peça jornalística em defesa mal disfarçada dos tucanos envolvidos nas denúncias.
Temos um artigo do Eugênio Bucci no Estadão, tentando convencer os meios de comunicação a não temerem a inevitável reforma nas leis do setor.
E uma charge animada do Maurício Ricardo, publicada no UOL, que, segundo o Eduardo Guimarães, já foi retirada e republicada do ar algumas vezes, numa prova de nervosismo e insegurança do editor do portal sobre a conveniência de se publicar alguma coisa negativa sobre Serra.
A blogosfera continua a seguir as indicações do livro do Amaury e a puxar o fio do novelo. Um post do Nassif revela que Serra reside em casa de sua filha comprada com dinheiro de Daniel Dantas.
O fato é que o escândalo das privatizações constitui um objeto de grande curiosidade e revolta porque além de envolver, comprovadamente, corrupção a um nível realmente digno da magnitude continental do país, consistiu na entrega criminosa de patrimônio público de valor estratégico. Não se trata de radicalismo antiprivatização. O governo brasileiro poderia perfeitamente ter aberto o capital das empresas de telefonia e mineração, modernizando-as e adequando-as aos novos tempos. O que se viu, contudo, foi um plano deliberado para lesar a pátria, e que envolveu diretamente a mídia. Membros do próprio governo davam declarações depreciativas sobre as estatais, desvalorizando seu preço, e realizaram leilões a toque de caixa, sem promover nenhuma consulta popular. Colunistas como Miriam Leitão, faziam análises tendenciosas e descontextualizadas sobre essas empresas, num joguinho pré-armado para criar um clima favorável à privatização, a preços baixos. E o pior: tudo financiado a juros amigos pelos bancos governamentais e fundos de pensão!
Para culminar um dia que promete fogosos embates políticos, noticio aqui a misteriosa morte do blogueiro Amilton Alexandre, o famoso Mosquito, de Santa Catarina, que ganhou notoriedade ao denunciar o estupro cometido pelo filho do magnata da mídia gaúcha. O caso suscita muita apreensão entre a blogosfera do sul, e de todo país, pela possibilidade de ter ocorrido um crime político.
Link da imagem (Cristo no Limbo, de Hieronymus Bosch) da capa, em melhor resolução.
paulo
17/12/2011 - 17h01
O pig só fala no mensalão como se o caixa 2 do PT não fosse cria do PSDB mineiro.
Se o mensalão envolveu cifra em torno de 20 milhoes de reais a privataria deu prejuizo que ultrapassa 1 trilhão de reais
Alguém poderia fazer um gráfico para refrescar a cuca do pig
Inclua Alstom e outros roubos
Elson
15/12/2011 - 22h58
Depois do Wikleaks a vida de certa figura ficou mais difícil .Agóra voce imagina se José Serra é eleito presidente , oque iria acontecer ? Com certeza a pilhagem do patrimônio público seria desenfreada e seríamos obrigados a adotar o dolar como moéda nacional . Enfim , teríamos um néo-Maluf como presidente e teríamos que cantar o hino americano quando asteássemos a bandeira .
Elson
15/12/2011 - 22h39
Tem muito partido atingido pelas denuncias seletivas da mídia que vai aproveitar para criar a CPI da privataria para dar o troco . Pois como é sabido nossos jornalões e TVs também meteram a mão nessa cumbuca e estão enterrados até o pescoço , mesmo aqueles que não levaram vantagem , más foram coniventes com os crimes de FHC/Serra et caterva .
Agóra vem a pergunta , se a CPI sair , como a grande mídia irá se comportar , enfiará a cabeça no buraco fingindo não saber de nada ou tentará tapar o sol com uma peneira arrumando mais uma vítima para desviar o foco ?
De qualquer maneira nossa mídia já está comprometida com toda a bandalheira tucana e por mais que eles tentem esconder este mar de lama a blogosfera está alerta e sempre pronta a mostrar quem são os inimigos do Brasil .
_spin
15/12/2011 - 21h08
Impressionante esta pintura do Bosch, valeu pelo link que remete a outras pinturas
Lembro-me do saudoso Raul Cortez na Era FHC martelando durante as 24 horas do dia o refrão "A Vale Não Vale", sendo que isso era parte da campanha de desvalorização do nosso patrimônio para doa-lo à bandidagem
Segundo dados da Procuradoria Geral da Fazenda Nacional a Vale deve algo em torno de 25 bilhões de reais, e olhe lá que naquela época alardearam por aí que ao privatizar o Brasil iria recolher mais impostos
Ah é?
Segue link http://economia.estadao.com.br/noticias/neg%C3%B3…