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Os investimentos do governo

Hoje o Estadão publica matéria alardeando a queda dos investimentos da União e das estatais. A fonte é o site Contas Abertas. Eu já verifiquei em outras fontes que o consumo do governo de fato caiu este ano, embora possa apresentar alguma surpresa em dezembro, quando tradicionalmente ele sobe fortemente.

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Hoje o Estadão publica matéria alardeando a queda dos investimentos da União e das estatais. A fonte é o site Contas Abertas.

Eu já verifiquei em outras fontes que o consumo do governo de fato caiu este ano, embora possa apresentar alguma surpresa em dezembro, quando tradicionalmente ele sobe fortemente.

A informação mais relevante, que virou manchete do caderno de economia, é a comparação entre os gastos com investimento efetivados em janeiro a novembro de 2010 e em igual período deste ano, em valores atualizados (correntes). Dá uma diferença de 15 bilhões de reais. Ou seja, os investimentos caíram este ano, em relação ao ano passado, e isso explica em parte o PIB zero do terceiro trimestre.

Vale a crítica ao governo: ele pisou no freio forte demais, provocando desgaste no pneu e assustando os passageiros.  A matéria tem o mérito ainda de trazer uma declaração de um executivo do Ipea defendendo um menor superávit para 2012, como forma de liberar mais recursos para 2012. Boa ideia.

Entretanto, a gente precisa ponderar o seguinte.

Primeiro, o novo programa de investimentos plurianual do governo federal tem início em 2012 e vai até 2015. O antigo, vinha de 2008 e se estendia até 2011. Esses investimentos são contínuos. Não é muito exato comparar um ano com outro, porque correspondem a obras que atravessam vários anos. Para fazer uma obra como a Comperj, em Itaboraí, por exemplo, pode-se gastar R$ 10 bilhões num ano e R$ 8 bilhões no ano seguinte; isso não quer dizer que o investimento caiu, mas que o cronograma das obras variou de um ano para outro.

Explicando melhor: vale criticar a queda nos investimentos, mas você precisa entender que são grandes obras que não se completam num ano só. Outra distorção é fazer uma separação absoluta e maniqueísta entre investimento e custeio. Isso é besteira. Conforme os investimentos forem se concretizando, aumenta igualmente o item custeio, porque para fazer avançar as obras e, sobretudo, fazer a manutenção das mesmas, é necessário ampliar o quadro de funcionários, expandir os sistemas de formação de mão-de-obra, saúde, etc. Quando se constrói uma estrada, o governo precisa adquirir mesas e cadeiras para os engenheiros que trabalharão na obra, enfim, existe toda uma relação xipófaga entre investimento e custeio que a mídia se recusa a enxergar.

Confira o gráfico abaixo:

O gráfico nos dá uma ideia mais clara sobre o avanço dos investimentos realizados no país.

Eu aproveitei e visitei o site de dados do IPEA e peguei um histórico das despesas com custeio e investimento desde 2001 (os dois itens vem juntos, ainda não achei uma tabela com os dois discriminados). Selecionei alguns anos apenas para efeito de economia de tempo, pois eu tive que fazer a deflação de cada um através da Calculadora do Cidadão, do Banco Central, usando o IGP-M.  É sempre importante atualizar os dados pela inflação, porque um valor em 2001 não pode ser comparado sem ser atualizado a um valor em 2011. Por exemplo: R$ 1 em 2001, atualizado pelo IGP-M, valeria hoje R$ 2,24.

Segundo o IPEA, os gastos do Tesouro Nacional com custeios e investimentos cresceram 21% em Jan/Out 2011, na comparação com igual período de 2010. Confira o gráfico:

 

 

Concluindo: o nosso jornalismo econômico continua pecando pela falta de contextualização, dificultando enormemente que o cidadão obtenha uma visão esclarecida do que acontece em seu país.

 

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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