Crédito do Trabalhador deve ser liberado a partir do dia 21 por meio do Carteira de Trabalho Digital
O programa federal para expansão dos empréstimos consignados – com parcelas descontadas direto do salário – entre trabalhadores do setor privado tende a ajudar cidadãos a reduzir o peso dos juros de empréstimos sobre o orçamento familiar, liberando recursos para o consumo, segundo economistas.
O programa, chamado de Crédito do Trabalhador, foi lançado na quarta-feira (12) pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A partir do dia 21, o projeto abrirá a possibilidade de que os empregados do setor privado contratem empréstimos por meio do site ou aplicativo da Carteira de Trabalho Digital.
Esses empréstimos terão suas prestações debitadas diretamente do salário do trabalhador. Com o pagamento garantido, o governo espera que os juros dos empréstimos oferecidos por bancos caia pela metade.
Segundo o economista Pedro Faria, pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), caso isso realmente aconteça, o Crédito do Trabalhador será benéfico para o empregado e para toda economia.
Ele lembrou que 76% das famílias brasileiras estão endividadas, sendo que 28% delas estão inadimplentes. Além disso, 26% do orçamento familiar médio do país é comprometido com dívidas, cujos juros geralmente são abusivos, alerta o especialista.
Por meio do consignado, muitos endividados poderão refinanciar suas dívidas pagando juros mais baixos. Isso daria um impulso extra à atividade econômica, já que sobraria mais recursos de famílias para novos gastos.
Mauricio Weiss, economista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), ratificou a visão de Faria. Para ele, o Crédito do Trabalhador criará uma janela de oportunidade para troca de dívidas, o que trará benefícios para todos.
“Vai possibilitar uma troca de endividamento mais caro por um mais barato”, resumiu Weiss. “A sobra pode abrir espaço para o consumo e fortalecer a economia.”
O programa federal do consignado, aliás, terá foco na troca de dívidas. Trabalhadores que têm crédito consignado ativo poderão migrar seus empréstimos para novas linhas de um mesmo banco a partir de 25 de abril. A partir de 6 de junho, a migração poderá ser realizada, inclusive, de um banco para outro.
Concorrência
Weiss disse que o programa também deve aumentar a concorrência no setor bancário.
O Crédito do Trabalhador prevê que interessados em obter um empréstimo consignado registrem esse interesse no Carteira de Trabalho Digital. Todos os bancos receberão um aviso sobre isso e enviarão propostas ao trabalhador, que poderá escolher a melhor.
“Todos apostam que essa competição vai reduzir ainda mais os juros desse tipo de operação”, prevê Miguel de Oliveira, economista e diretor-executivo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac).
Para Oliveira, confiando nos efeitos dessa concorrência, o governo não estabeleceu, por ora, um limite de juros para o consignado privado, assim como ocorre com os empréstimos concedidos a aposentados pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Ele não descarta a possibilidade de isso ocorrer no futuro caso as taxas seguirem altas.
Para Weiss, o ideal é que essas taxas já fossem limitadas considerando as garantias criadas por um programa governamental para os empréstimos. Weslley Cantelmo, presidente do Instituto Economias e Planejamento, também é favorável à limitação.
Pontos de atenção
Vale lembrar que, além do salário, trabalhadores que aderirem ao consignado privado deixarão como garantia de pagamento 10% do saldo total de seu Fundo de Garantia (FGTS) e toda a multa sobre o fundo paga pelo empregador em caso de demissão.
“Essa operação ainda tem riscos, como qualquer outra”, alertou Oliveira. “É melhor que outras alternativas? É. Mas não significa que você não precisa pagar. Aliás, não tem como não pagar já que ele virá debitado automaticamente do seu salário.”
José Luis Oreiro, economista e professor da Universidade de Brasília (UnB), ponderou que o comprometimento do FGTS com empréstimos pode ter efeitos negativos sobre a economia. Isso porque o fundo serve como fonte de recursos para obras de infraestrutura e de habitação do país, que também são essenciais à economia.
Faria, por sua vez, disse que é preciso reconhecer que o Crédito do Trabalhador não visa só agradar à população. Os bancos, afirma ele, também serão grandes beneficiados.
Hoje, boa parte dos empréstimos que eles concederam aos trabalhadores são praticamente impagáveis por conta dos juros. Com o Crédito do Trabalhador, cria-se uma possibilidade real de recebimento.
Publicado originalmente pelo Brasil de Fato em 14/mar/2025
Por Vinicius Konchinski – Curitiba (PR)
Edição: Martina Medina
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