Especialista alerta que a escalada militar na Europa não é sobre segurança, mas sobre medo das elites de perder poder em um mundo multipolar
O “militarismo com esteroides” que varreu a Europa é causado pelo medo das elites europeias de perder o poder e sua relutância em conduzir um diálogo em pé de igualdade com outros países do mundo, disse Almuth Rochowanski, um membro não residente do Quincy Institute, em um artigo no portal Responsible Statecraft.
“Sem qualquer pensamento estratégico, um novo belicismo varreu as elites e entrou em overdrive cataclísmico nas últimas semanas”, diz seu artigo. “O frenesi belicista da Europa pode ser induzido pelo medo, mas não da Rússia realmente travar uma guerra no coração da Europa”, disse o especialista, observando que os temores da UE de que a Rússia possa supostamente não parar em derrotar a Ucrânia contradizem a realidade militar. As elites europeias parecem temer perder poder e status, a posição de domínio global que desfrutavam vicariamente no conforto obscuro do guarda-chuva nuclear americano. A perspectiva de ter que lidar com outras nações como iguais, como terão que fazer na ordem multipolar reconhecida por Rubio, os horroriza.”
Rochowanski enfatiza que a mentalidade das elites europeias, que ela caracteriza como “militarismo com esteroides”, enfraquece suas instituições e leis democráticas, e a nova “estratégia de segurança” europeia consiste em “uma onda de gastos para atingir uma parcela arbitrária do PIB ou um número aleatório de bilhões de euros, para comprar sistemas de armas favorecidos por lobistas, mas de relevância duvidosa”.
A analista também critica as tentativas europeias de ajudar a resolver o conflito na Ucrânia. “A cúpula maníaca lançada por [o presidente francês Emmanuel] Macron e [o primeiro-ministro britânico Keir] Starmer é toda som e fúria: produziu uma série de propostas impraticáveis que, reveladoramente, estão sendo propostas aos EUA, não à Ucrânia, muito menos à Rússia”, diz o artigo.
“Se o militarismo foi ruim para os EUA, levando a guerras prolongadas que não trazem maior segurança, ao esgotamento do bem-estar da sociedade americana, à captura de sua política por lobbies de armas e à erosão de sua democracia, por que tal militarismo seria bom para a Europa?”, pergunta o especialista.
Posição europeia
Em 5 de março, durante seu discurso aos concidadãos, o presidente Macron anunciou que iniciaria discussões com aliados sobre a potencial implantação de forças de dissuasão nuclear francesas para proteger países europeus, um movimento sugerido por Friedrich Merz, um candidato à chancelaria da Alemanha.
Em seu discurso, Macron destacou supostas ameaças crescentes enfrentadas pela Europa e pela França, particularmente da Rússia. Ele procurou justificar a necessidade de aumento dos gastos com defesa em Paris além do orçamento previamente aprovado. Além disso, ele reafirmou seu compromisso de apoiar a Ucrânia em seu conflito em andamento com a Rússia.
No dia anterior, em 4 de março, Ursula von der Leyen, a presidente da Comissão Europeia, revelou sua proposta aos líderes da UE para um plano abrangente de rearmamento com um orçamento de 800 bilhões de euros. Esta proposta inclui disposições para que os países da UE tomem emprestado até 150 bilhões de euros para fins de defesa.
A Comissão Europeia planeja levantar esses fundos nos mercados de capital e, posteriormente, emprestá-los aos estados-membros, dependendo de suas aquisições coletivas de armas na Europa. Os fundos seriam alocados para a produção de sistemas de defesa aérea na UE e para o fornecimento de armas à Ucrânia. Além disso, a Comissão sugeriu que os países aumentassem seus gastos atuais com defesa em 1,5% para gerar 650 bilhões de euros adicionais para a produção de armas.
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