O setor de energia e mobilidade elétrica da China atravessa um período de reestruturação marcado por uma intensa disputa de preços e aumento do número de falências entre fabricantes.
Fontes do setor afirmam que o mercado está entrando em uma fase de consolidação que pode durar até três anos, com expectativa de que mais de 75% das empresas atualmente em operação não resistam ao processo.
As declarações foram feitas durante as chamadas “duas sessões”, reuniões anuais dos principais órgãos legislativos e consultivos da China, realizadas em Pequim.
A liderança do país anunciou intenção de intervir em mercados caracterizados por competição considerada excessiva, com o objetivo de estabilizar setores estratégicos da economia.
O mercado de veículos elétricos é um dos segmentos mais afetados pela pressão competitiva. A expansão acelerada registrada na última década levou à entrada de centenas de fabricantes, muitos com apoio de capital de risco ou incentivos estatais regionais.
No entanto, a desaceleração da demanda e a redução de subsídios têm provocado dificuldades financeiras em empresas com baixa escala de produção ou capacidade limitada de inovação tecnológica.
Dados da mídia nacional indicam que, ao final da década de 2010, o mercado chinês contava com mais de 400 fabricantes de veículos elétricos. Atualmente, esse número está reduzido a cerca de 40 empresas, e o processo de consolidação continua em curso.
Durante coletiva de imprensa realizada paralelamente às “duas sessões”, o CEO da Xpeng Motors, He Xiaopeng, afirmou que o setor vive um ciclo de fusões, aquisições e encerramentos de atividades. “Há uma saindo do ar a cada dois meses”, declarou. “Este processo contínuo de fusões e aquisições é extremamente rápido.”
O executivo avaliou que o processo de consolidação deve se estender pelos próximos anos, reduzindo de forma significativa o número de empresas no mercado. “É possível que menos de sete marcas sobrevivam”, estimou.
Nos últimos dois anos, o cenário de retração foi marcado por falências de empresas que haviam alcançado projeção no setor. A WM Motor e a HiPhi, por exemplo, iniciaram processos formais de falência. Outras companhias, como a Jiyue — iniciativa apoiada pela empresa de tecnologia Baidu —, reduziram operações ou redirecionaram seus modelos de negócios diante da queda na competitividade.
A política de incentivo à eletrificação da frota chinesa foi implementada com o objetivo de desenvolver uma indústria nacional de mobilidade limpa.
A ampla oferta de incentivos regionais e financiamento estatal permitiu a criação de diversas startups, mas a sobreposição de produtos e a pressão por preços mais baixos têm comprometido a sustentabilidade financeira do setor.
A liderança chinesa sinalizou que pretende intensificar a fiscalização sobre práticas comerciais no setor industrial, incluindo limites à chamada guerra de preços.
Durante os encontros legislativos, autoridades indicaram que o objetivo é estimular a eficiência produtiva e o desenvolvimento tecnológico, em detrimento da competição baseada exclusivamente em redução de preços.
O processo de reestruturação no setor de veículos elétricos é interpretado por analistas como reflexo da maturação do mercado e da necessidade de aumento de produtividade.
A tendência de concentração já havia sido prevista por entidades industriais e órgãos reguladores, que apontam a sobrevivência de empresas com maior capacidade de investimento e escala de produção como etapa natural do ciclo de consolidação.
O impacto do processo de fechamento de empresas se estende a outros segmentos da cadeia produtiva, como fornecedores de baterias, componentes eletrônicos e software embarcado.
Fabricantes com menor participação de mercado enfrentam dificuldades para manter contratos e acesso a crédito, elevando o risco de descontinuidade de suas operações.
Além da competição interna, os fabricantes chineses também enfrentam desafios no mercado externo. Medidas de proteção comercial adotadas por alguns países têm dificultado a entrada de veículos elétricos chineses em determinados mercados, aumentando a pressão por desempenho doméstico em um ambiente de margens reduzidas.
As autoridades chinesas informaram que acompanharão o processo de consolidação e que novos instrumentos regulatórios poderão ser implementados para garantir estabilidade no setor e evitar disfunções de mercado.
O plano inclui incentivos à inovação tecnológica e integração de cadeias produtivas, com foco na manutenção de um núcleo competitivo de empresas nacionais com capacidade de inserção internacional.
O cenário projetado por executivos e especialistas indica que o setor de mobilidade elétrica na China deverá passar por um período de ajuste, com redução no número de fabricantes e redefinição do padrão de concorrência.
A consolidação das empresas sobreviventes será condicionada à capacidade de inovação, escala operacional e adaptação às exigências de mercado.
Com informações do SCMP
Nenhum comentário ainda, seja o primeiro!