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Sachs martela mais um prego no caixão da narrativa pró-Otan sobre a guerra na Ucrânia

O renomado economista e professor da Universidade de Columbia, Jeffrey Sachs, discursou nesta quarta-feira (13) no World Government Summit 2025, em Dubai, Emirados Árabes Unidos. Em sua fala, Sachs criticou duramente a política externa dos Estados Unidos, especialmente a expansão da OTAN para o Leste Europeu, apontando-a como uma das principais causas da atual crise […]

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Jeffrey Sachs. Crédito: Berkeley Center

O renomado economista e professor da Universidade de Columbia, Jeffrey Sachs, discursou nesta quarta-feira (13) no World Government Summit 2025, em Dubai, Emirados Árabes Unidos. Em sua fala, Sachs criticou duramente a política externa dos Estados Unidos, especialmente a expansão da OTAN para o Leste Europeu, apontando-a como uma das principais causas da atual crise geopolítica global.

Sachs relembrou que, em 1990, o governo dos EUA prometeu ao então presidente da União Soviética, Mikhail Gorbachev, que a OTAN não se expandiria “nem uma polegada para o leste”. No entanto, segundo o professor, essa promessa foi quebrada repetidamente ao longo das décadas seguintes. Ele destacou que a decisão de expandir a aliança militar foi consolidada em 1994, durante o governo Bill Clinton, tornando-se um projeto de longo prazo que independeu da administração de diferentes presidentes americanos.

“A ideia era simplesmente continuar avançando para o leste, cercando a Rússia, expandindo a influência dos EUA sobre a antiga esfera soviética”, afirmou Sachs, diante de uma plateia composta por líderes governamentais, especialistas e empresários de diversas partes do mundo. O economista também mencionou que essa política foi levada ao extremo sob o governo de George W. Bush, quando sete países do Leste Europeu foram incorporados à aliança militar em 2004.

Segundo Sachs, a ruptura definitiva nas relações entre Rússia e Ocidente ocorreu em 2002, quando os Estados Unidos abandonaram unilateralmente o Tratado de Mísseis Antibalísticos (ABM), que por décadas havia servido como um pilar da segurança global. “Esse tratado era um mecanismo essencial para evitar uma guerra nuclear. Mas os EUA decidiram ignorá-lo e começaram a instalar sistemas de mísseis em países próximos à Rússia”, argumentou.

O professor também abordou a guerra na Ucrânia, apontando que o conflito poderia ter sido evitado se os EUA tivessem respeitado a neutralidade do país. Ele recordou a eleição de Viktor Yanukovych em 2010, um presidente ucraniano que defendia a não adesão do país à OTAN. “Mas os EUA não aceitaram isso. Em 2014, participaram ativamente da derrubada de Yanukovych, e foi a partir desse momento que a guerra começou de fato”, disse Sachs.

O economista destacou ainda que, pela primeira vez em décadas, um governo dos EUA começou a admitir publicamente que a expansão da OTAN foi um erro estratégico. Ele se referia a declarações recentes do novo secretário de Defesa americano, que reconheceu que a Ucrânia não entrará para a aliança militar. “Foi a primeira vez que disseram a verdade”, afirmou Sachs, sugerindo que essa mudança de postura pode ser o primeiro passo para uma solução pacífica.

A fala do professor Jeffrey Sachs no World Government Summit 2025 ocorreu em um contexto de intensas discussões sobre a nova ordem mundial, a transição para um mundo multipolar e a necessidade de cooperação global para enfrentar desafios como conflitos regionais, mudanças climáticas e crises econômicas. O evento, realizado anualmente em Dubai, reúne líderes internacionais para debater o futuro da governança global.

 Abaixo link do vídeo legendado em português.

https://twitter.com/ocafezinho/status/1892191994111213630

***

Leia abaixo a transcrição completa da fala do professor Sachs:

“Foi uma ideia muito ruim dos Estados Unidos, tomada em 1994.

É um projeto.

O projeto era expandir a OTAN para sempre, para qualquer lugar.

Apenas continuar avançando.

E avançar não apenas para a primeira onda, que incluiu o país do primeiro-ministro, Hungria, República Tcheca e Eslováquia, mas depois seguir para o leste, mais perto da antiga União Soviética, entrar na antiga União Soviética, cercar a Rússia na região do Mar Negro, ir até um pequeno país no Cáucaso do Sul, a Geórgia.

Era algo de deixar a mente perplexa.

Clinton assinou isso em 1994.

Isso se tornou o que chamamos de Projeto do Estado Profundo, o que significa que não importava realmente quem era o presidente.

Cada presidente assumia e basicamente era informado:

‘A OTAN está se movendo para o leste. Você faz parte desse processo.’

Então, Clinton começou isso em 1994, e como o primeiro-ministro Orbán mencionou brevemente, em 1990, no dia 9 de fevereiro de 1990, em termos inequívocos e claros, os Estados Unidos disseram ao presidente Mikhail Gorbachev: ‘A OTAN não avançará nem uma polegada para o leste.’

E se você tiver alguma dúvida sobre isso, todos os documentos estão agora disponíveis online. Você pode examinar tudo.

Hans-Dietrich Genscher, o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, disse a mesma coisa no mesmo dia. Ele está gravado, explicando: ‘Não, não, eu não quero dizer apenas dentro da Alemanha Oriental. Quero dizer em qualquer lugar.’

Clinton sendo Clinton, e o Estado Profundo dos EUA sendo o Estado Profundo dos EUA, começou esse projeto em 1994. Eles já tinham a ideia, aliás, em 1991, 1992, assim que a União Soviética acabou.

‘Aha. Agora avançamos, agora avançamos para o leste. Agora controlamos tudo. Agora somos a única superpotência.’

Então, isso continuou por 30 anos, e cada presidente entrou nessa.

Sob George W. Bush, mais sete países foram adicionados: Estônia, Letônia, Lituânia, Eslováquia, Eslovênia, Bulgária e Romênia, em 2004.

Depois, em 2007, o presidente Putin disse na cúpula que está acontecendo agora, a Cúpula de Segurança de Munique: ‘Parem. Vocês nos disseram que não haveria expansão, nem uma expansão para o leste, nem mesmo uma polegada. Vocês já fizeram isso com 10 países. Parem.’

Perfeitamente razoável. Parem.

Eu não acho que nosso presidente Donald Trump gostaria muito de ver a China e a Rússia construindo suas bases militares na América Central.

É assim que os russos viram isso. ‘Por que vocês estão vindo para nossa fronteira quando disseram que não se moveriam?’

E havia mais uma coisa muito importante nisso, que provavelmente é a mais decisiva e quase não é reconhecida.

Em 2002, os EUA fizeram algo realmente, realmente desestabilizador: saíram unilateralmente do Tratado de Mísseis Antibalísticos (ABM).

Esse era um elemento central da estratégia para evitar uma guerra nuclear entre as duas superpotências. Porque o que o ABM fez por 30 anos foi dizer: ‘Cada um de nós tem dissuasão. Se você nos atacar, podemos retaliar. Vamos limitar nossos mísseis antibalísticos para que ambos os lados mantenham a dissuasão.’

Em 2002, os Estados Unidos, unilateralmente e sem provocação, saíram do ABM e disseram: ‘Não, não vamos mais fazer isso. Vamos colocar sistemas de mísseis antibalísticos nos territórios que fazem fronteira com a Rússia.’

Os russos disseram: ‘Vocês estão brincando?’

Os EUA disseram: ‘Qual é o seu problema? Nós fazemos o que queremos.’

Então, em 2007, Putin disse: ‘Já chega.’

Em 2008, George W. Bush dobrou a aposta, como os americanos normalmente fazem, e disse: ‘Ok, agora estamos indo para a Ucrânia e para a Geórgia.’

Foi por isso que essa guerra ocorreu.

Mas a Ucrânia ainda tinha um fio de esperança, e isso foi que elegeram um presidente em 2010 que não queria fazer parte da OTAN, e o público também não queria.

Por quê? Porque sabiam que isso era muito perigoso. Por que entrar nessa situação provocativa?

O nome dele era Viktor Yanukovych.

Os americanos não gostam de neutralidade, mas Yanukovych estava tentando ser neutro entre os dois lados.

E os EUA desempenharam um papel bastante infeliz em 22 de fevereiro de 2014, na derrubada violenta dessa pessoa.

E foi aí que a guerra começou.

E já se passaram 10 anos, e nenhum presidente contou a verdade até ontem.

Aliás, ontem foi um dia histórico porque houve uma ligação entre o presidente Putin e o presidente Trump.

Foi a primeira ligação, se é que houve alguma ligação curta antes entre os dois. Mas não houve nenhuma ligação entre Biden e Putin, com a guerra acontecendo por três anos, nenhuma ligação.

E agora houve uma ligação.

E o resumo do lado americano foi excelente.

O que o presidente Trump disse na ligação foi: ‘Nós respeitamos a Rússia. Nós ouvimos as preocupações da Rússia. Lutamos do mesmo lado na Segunda Guerra Mundial.’

Um ponto interessante, aliás, verdadeiro. A Rússia, a União Soviética, perdeu 27 milhões de pessoas na Segunda Guerra Mundial e foi aliada dos Estados Unidos.

O fato de isso não ter sido mencionado por anos e anos e anos pelo presidente Biden, e então o novo secretário de Defesa disse ontem a verdade pela primeira vez: que a Ucrânia não vai entrar na OTAN.

Essa é a base para a paz. Essa é absolutamente a base para a paz.

E eles não conseguiram contar a verdade por três décadas. Eles não conseguiram admitir o que qualquer um de nós sabia.

Porque eu estive envolvido com essa região por 36 anos, em detalhes. Eu me sentei com Boris Yeltsin. Eu me sentei com Mikhail Gorbachev.

Mas os americanos não contariam a verdade publicamente até ontem, que isso foi tão provocativo.

Era um jogo. Eles pensaram que ganhariam o jogo.

Eu não sei quantas pessoas aqui jogaram ou jogaram na infância o jogo de War.

O jogo de War era um grande jogo para mim. Você queria suas peças em cada parte do mapa mundial. Esse era o jogo: quando você dominava o mundo inteiro, a Hegemonia Mundial, como chamamos agora. Você ganhava.

Eles estavam jogando esse jogo até esta administração.

Então, as duas coisas mais importantes, três coisas importantes, na minha opinião, aconteceram nesta administração até agora.

Primeiro, nosso novo secretário de Estado, Marco Rubio, disse a verdade fundamental: ‘Estamos em um mundo multipolar.’

Foi a primeira vez que essa frase foi dita. Ele disse a verdade. O que isso significa? A mentalidade americana por 30 anos foi: ‘Nós mandamos no pedaço.’ Marco Rubio disse: ‘Bem, nós não mandamos no pedaço. Vivemos com outros países poderosos.’

Ótimo começo.

Segundo e terceiro foram os dois eventos de ontem.

Então, eu estou sentindo que a paz é algo que realmente aconteceu ontem.

Se eles seguirem adiante, sabemos como é Washington. Há todo tipo de ideia maluca circulando.

Ainda assim, um projeto de 30 anos não acaba necessariamente com uma ligação ou uma declaração do secretário de Defesa.

Mas é muito importante que isso tenha sido dito tão publicamente e de forma tão visível.

E, claro, a Europa está em polvorosa porque a Europa assinou o projeto dos EUA.

Todos esses políticos na Europa estão onde estão porque faziam parte do projeto dos EUA.

E agora os EUA estão revertendo seu projeto.

E vocês não nos avisaram. O que devemos fazer? Estamos totalmente expostos.

E então eles estão completamente confusos.

E eu tenho que dizer, eu disse a eles pessoalmente, muitos desses líderes, e quero dizer pessoalmente, um por um, por anos: ‘Vocês vão se enroscar nisso.'”

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