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Gênio chinês criou a DeepSeek após crise dos fundos de hedge

Após perder bilhões com fundos de hedge, Liang Wenfeng criou a DeepSeek, a startup que desafia a OpenAI e abalou o mercado global com sua inteligência artificial Três anos atrás, a empresa de fundos quantitativos de Liang Wenfeng pediu desculpas aos investidores por perdas durante um período turbulento no mercado de ações chinês. Foi uma […]

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Chinês Quant Whizz construiu DeepSeek à sombra de uma derrota de fundos de hedge / Bloomberg

Após perder bilhões com fundos de hedge, Liang Wenfeng criou a DeepSeek, a startup que desafia a OpenAI e abalou o mercado global com sua inteligência artificial


Três anos atrás, a empresa de fundos quantitativos de Liang Wenfeng pediu desculpas aos investidores por perdas durante um período turbulento no mercado de ações chinês. Foi uma reviravolta inesperada para a Zhejiang High-Flyer Asset Management, que usava inteligência artificial para selecionar ações e havia crescido rapidamente até se tornar um dos maiores fundos quantitativos da China.

Enquanto a empresa enfrentava essa crise e via seus ativos encolherem em mais de um terço do pico de US$ 12 bilhões, Liang trabalhava nos bastidores para lançar sua nova startup de IA, a DeepSeek.

Agora, a DeepSeek ameaça transformar a cadeia global de suprimentos de inteligência artificial e desafiar a liderança dos EUA nessa tecnologia de ponta. O sucesso repentino da empresa de apenas 20 meses e seu modelo de IA provocaram um colapso nas bolsas americanas e europeias, eliminando quase US$ 1 trilhão do valor de mercado de gigantes como a Nvidia Corp.

O feito de Liang impressionou o setor de tecnologia. Apesar de nunca ter estudado ou trabalhado fora da China, ele demonstrou que engenheiros locais, com acesso limitado a semicondutores avançados e recursos financeiros modestos, podem igualar — e até superar — os melhores do mundo.

DeepSeek vs. OpenAI e a corrida pela supremacia da IA

“Qualquer país poderia desenvolver esse tipo de projeto se conseguisse reunir o talento necessário”, afirmou Shuman Ghosemajumder, CEO da startup de IA Reken, sediada em São Francisco.

A questão que agora preocupa investidores, empresas e governos é se a inovação em IA realmente exige centenas de bilhões de dólares em investimentos. Além disso, cresce o debate sobre a eficácia dos controles de exportação para conter a concorrência chinesa.

O aplicativo DeepSeek / Lam Yik / Bloomberg

Liang é frequentemente comparado ao fundador da OpenAI, Sam Altman, mas mantém um perfil discreto e raramente concede entrevistas. “A OpenAI não é um deus e não pode estar sempre na vanguarda”, declarou ao site 36Kr em julho de 2024.

Ele também já afirmou que mais investimento nem sempre resulta em mais inovação. Segundo Liang, o problema das empresas chinesas não é a falta de tecnologia, mas a insegurança e a dificuldade em organizar talentos para gerar inovação de forma eficaz.

Uma trajetória fora do comum

Nascido em 1985 na cidade de Zhanjiang, uma região pobre da província de Guangdong, Liang é filho de um professor primário. Ele estudou engenharia eletrônica na Universidade de Zhejiang, uma das mais prestigiadas da China, onde também obteve um mestrado em engenharia da informação e comunicação.

A High-Flyer, fundada por Liang e dois ex-colegas de universidade, foi uma exceção no mercado de fundos quantitativos da China. Ao contrário de outros gestores de fundos quantitativos chineses, nenhum deles tinha experiência no exterior ou em instituições financeiras tradicionais.

O trio experimentou diversas estratégias de investimento antes de adotar, em 2015, um modelo sistemático para implementar suas ideias de negociação. Em 2016, começaram a testar aprendizado de máquina e, em 2018, integraram essa tecnologia ao portfólio da empresa.

A inteligência artificial permitiu que a High-Flyer inovasse e desenvolvesse um modelo de investimento multi-estratégia, acumulando retornos de diferentes fontes. Seu principal fundo, atrelado ao índice CSI 500, superou o desempenho do mercado em 120 pontos percentuais nos três anos anteriores a 2020.

Com esse sucesso, os ativos da empresa ultrapassaram 90 bilhões de yuans (US$ 12,5 bilhões) em 2021. No entanto, ainda naquele ano, a empresa sofreu perdas recordes quando sua IA falhou ao prever oscilações bruscas do mercado.

Em dezembro de 2021, a High-Flyer admitiu que sua IA cometeu erros e pediu desculpas aos investidores. A empresa parou de aceitar novos aportes, reduziu seu patrimônio sob gestão e ajustou suas estratégias. Em março de 2022, alertou clientes mais sensíveis à volatilidade para retirarem seu dinheiro — uma atitude incomum no setor.

Desde então, a High-Flyer abandonou estratégias de apostas em alta e baixa e focou em investimentos “long-only”, ou seja, apenas em ações com expectativa de valorização. Seus ativos caíram para cerca de 60 bilhões de yuans (US$ 8,3 bilhões).

DeepSeek surgiu com o apoio da High-Flyer

A pesquisa da DeepSeek foi financiada com o orçamento de P&D da High-Flyer. A empresa de fundos quantitativos também forneceu infraestrutura computacional, já que possuía 10.000 GPUs da Nvidia antes das restrições dos EUA à exportação desses chips avançados.

Liang recrutou talentos exclusivamente da China, atraindo recém-formados de universidades de elite, estagiários de doutorado e até medalhistas de olimpíadas científicas.

“Ele é um nerd, mas, nesse contexto, isso não é algo negativo”, disse Zihan Wang, estudante de doutorado da Northwestern University, que estagiou na DeepSeek em 2024. Segundo ele, Liang liderava experimentos pessoalmente, e a startup operava como um laboratório de pesquisa.

Mesmo diante das restrições dos EUA, a DeepSeek seguiu lançando modelos de IA cada vez mais avançados. Em 20 de janeiro de 2025, no mesmo dia em que Donald Trump assumiu a presidência dos EUA, a empresa lançou o DeepSeek-R1, seu modelo avançado de raciocínio por IA.

Pouco antes, naquela segunda-feira, Liang participou de um simpósio fechado em Pequim com o primeiro-ministro chinês Li Qiang. O evento reuniu especialistas para discutir um relatório de trabalho do governo. Imagens do encontro mostram Li ouvindo atentamente enquanto Liang fala.

Impacto global e desafios futuros

O DeepSeek-R1 foi disponibilizado gratuitamente como código aberto, permitindo que desenvolvedores do mundo todo o utilizassem e modificassem. Esse movimento sinaliza a intenção da empresa de colaborar com a comunidade global de IA.

Especialistas apontam que Liang se destaca entre os empreendedores chineses por priorizar a inovação e a busca pela Inteligência Artificial Geral (AGI), em vez do lucro imediato.

A DeepSeek pode transformar Liang em um bilionário. Ele detém 51% da High-Flyer, uma participação avaliada em US$ 71 milhões. Se sua startup alcançar o valor da OpenAI — estimado em US$ 150 bilhões — sua fortuna pode disparar.

Ainda assim, há dúvidas sobre a capacidade da DeepSeek de escalar sua infraestrutura para atender à crescente demanda global. Além disso, a forma como a empresa lidará com temas sensíveis, como o massacre da Praça da Paz Celestial e questões sobre Xi Jinping, permanece uma incógnita.

Outro desafio é a limitação de hardware. Alguns analistas acreditam que a DeepSeek precisa de pelo menos 50.000 chips H100 da Nvidia para operar em escala global. Para comparação, a Meta (dona do Facebook) usa cerca de 600.000 desses chips.

Apesar das incertezas, a DeepSeek já forçou uma reavaliação da corrida pela IA. “A disputa não será vencida por quem criar o modelo mais sofisticado, mas por quem integrar a IA nos negócios de forma a gerar valor econômico real”, afirmou Mike Capone, CEO da plataforma de análise de dados Qlik.

Com informações de Bloomberg*

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Rhyan de Meira

Rhyan de Meira é estudante de jornalismo na Universidade Federal Fluminense. Ele está participando de uma pesquisa sobre a ditadura militar, escreve sobre política, economia, é apaixonado por samba e faz a cobertura do carnaval carioca. Instagram: @rhyandemeira

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