Presidente ucraniano disse que chamada do chanceler alemão “abriu caixa de Pandora” que contribui para enfraquecer o isolamento internacional do líder russo. Ligação também foi condenada pela oposição alemã.
O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, criticou duramente a ligação do chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, por considerar que a chamada abriu uma “caixa de Pandora”.
“O chanceler Scholz me disse que planejava ligar para Putin. Sua ligação, em minha opinião, abre uma caixa de Pandora. Agora pode haver outras conversas e ligações telefônicas. São meras palavras”, disse ele nesta sexta-feira (15/11) em seu tradicional discurso noturno para a população.
“E isso é exatamente o que Putin vem buscando há muito tempo. É essencial para ele enfraquecer seu isolamento, bem como o isolamento da Rússia, e ter meras conversas que não levarão a lugar algum. Ele vem fazendo isso há décadas”, enfatizou o presidente ucraniano.
Zelenski argumentou que isso permitiu que a Rússia evitasse qualquer mudança em suas políticas, “o que acabou levando a essa guerra”.
“Entendemos todos os desafios atuais e sabemos o que precisa ser feito. E queremos deixar claro: não haverá Minsk-3”, disse Zelensky, referindo-se aos dois Acordos de Minsk negociados à época com a Rússia para encerrar o conflito no leste da Ucrânia, que começou em 2014.
O conflito entre rebeldes pró-russos apoiados pelo Kremlin e as forças ucranianas no Donbass foi apenas congelado até se transformar em uma guerra em grande escala em 2022, há quase mil dias.
“Precisamos de uma paz verdadeira”, insistiu o presidente ucraniano.
“Paz justa e duradoura”
Na primeira conversa entre os dois líderes em quase dois anos, Scholz pediu a Putin o início de negociações com a Ucrânia no intuito de abrir caminho para uma “paz justa e duradoura” que acabe com o conflito, iniciado em fevereiro de 2022 com a invasão russa do território ucraniano.
No telefonema de uma hora, Scholz também exigiu a retirada das tropas russas da Ucrânia e reafirmou o apoio contínuo de Berlim a Kiev, segundo informou um porta-voz do governo alemão.
O chanceler alemão pediu a Putin que “ponha fim à guerra de agressão contra a Ucrânia e retire as tropas”. Putin, no entanto, insistiu que está disposto a negociar a paz, mas em suas condições.
“A proposta da Rússia é bem conhecida. Os possíveis acordos devem levar em conta os interesses de segurança da Federação Russa, partir da realidade local e, o mais importante, erradicar as causas fundamentais do conflito”, disse Putin a Scholz.
Críticas da oposição conservadora
O telefonema também foi criticado pela oposição conservadora alemã. O porta-voz de política externa da bancada conjunta dos partidos CDU e CSU no Bundestag, Jürgen Hardt, afirmou que Putin “veria o fato de Scholz ter telefonado para ele como um sinal de fraqueza e não de força”. Ele acusou o chanceler de ter ajudado Putin a obter um “sucesso de propaganda” por motivos políticos internos.
Aparentemente, Scholz “não apresentou uma nova proposta concreta nem mesmo estabeleceu um ultimato, por assim dizer”, disse Hardt. Ele afirmou que o “principal objetivo de Scholz foi deixar claro internamente na Alemanha que é a favor das negociações e do diálogo”, disse Hardt.
O chanceler alemão se encontra em momento político frágil, após o colapso de sua coalizão governamental nesta semana e a perspectiva de eleições antecipadas no país.
Publicado originalmente pelo DW em 16/11/2024
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