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Evandro Menezes: “Cruzar o rio pisando nas pedras”

Em seu discurso durante o Fórum Brasil e China, realizado no Sheraton Hotel, no Leblon, no dia 11 de novembro de 2024, Evandro Menezes de Carvalho, professor de Direito na UFF e docente em diversas universidades chinesas, compartilhou reflexões sobre a trajetória de desenvolvimento da China e as lições que ela oferece ao Brasil. Ele […]

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Professor Evandro Menezes de Carvalho

Em seu discurso durante o Fórum Brasil e China, realizado no Sheraton Hotel, no Leblon, no dia 11 de novembro de 2024, Evandro Menezes de Carvalho, professor de Direito na UFF e docente em diversas universidades chinesas, compartilhou reflexões sobre a trajetória de desenvolvimento da China e as lições que ela oferece ao Brasil. Ele destacou o impacto das políticas de erradicação da pobreza e do desenvolvimento sustentável na China, mencionando o papel do presidente Xi Jinping, durante o início de sua carreira, em transformar a cidade de Ningde.

Carvalho enfatizou a importância de valorização das próprias raízes para alcançar o progresso social e econômico. Com a metáfora chinesa de “cruzar o rio pisando nas pedras,” ele ilustrou a filosofia prática que guiou a China a partir de condições adversas rumo à prosperidade moderada e tecnológica atual. Para ele, a relação entre Brasil e China transcende as diferenças culturais, permitindo que ambas as nações encontrem um caminho compartilhado de cooperação e desenvolvimento, beneficiando os países do Sul Global.

Abaixo, o trecho final do discurso, em vídeo:

https://twitter.com/ocafezinho/status/1856295968204808660


Trecho final do discurso:

Atualmente, o PIB chinês está próximo de 18 trilhões de dólares, enquanto o do Brasil está um pouco acima de 2 trilhões. Com a rápida industrialização, a China sofreu com a poluição do ar, mas também avançou significativamente na promoção do desenvolvimento verde. Como mencionou a professora Chai Yu, o céu está mais azul. Hoje, o país é líder mundial na produção de energias renováveis e no uso de carros elétricos.

Um dos feitos mais extraordinários da China ocorreu em 2021, quando erradicou a extrema pobreza, no ano em que o Partido Comunista da China celebrou seu centenário. A China cumpriu com antecedência de 10 anos o objetivo estabelecido pela ONU na agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável. Desde 1978, cerca de 600 milhões de pessoas deixaram a pobreza. Para entender as ações que possibilitaram esses resultados, é essencial conhecer a sabedoria chinesa.

Um exemplo claro dessa sabedoria pode ser encontrado no livro do presidente Xi Jinping, Superar a Pobreza, que será lançado no Rio. Neste livro, o presidente compartilha sua experiência como secretário do partido em Ningde, uma cidade pequena e empobrecida na década de 80. Xi Jinping enfrentava a difícil missão de melhorar as condições de vida dessa região, situada em uma área montanhosa e costeira com desafios econômicos, mas também cheia de soluções.

O livro de Xi Jinping revela uma característica da sabedoria chinesa: a habilidade de lidar com problemas complexos por meio de soluções simples. A pergunta inicial que ele formula é reveladora: “Como pode um filho de pássaro fraco ser o primeiro a voar?” Com essa metáfora, ele desenvolveu caminhos para que Ningde superasse adversidades econômicas. A questão subjacente era: como uma cidade pobre poderia ser a primeira a se desenvolver na China daquela época?

Antes de responder, ele propõe uma reflexão preliminar para iniciar a transformação econômica e social de um povo em uma área pobre: “Regiões empobrecidas não podem ter ideais empobrecidos.” Esse conselho, no entanto, não é um convite para sonhar de maneira descolada da realidade. Xi Jinping afirma que o povo de Ningde precisa, primeiro, entender profundamente sua própria terra para, então, amá-la e desenvolvê-la.

Xi argumenta que apenas nascer e crescer em um lugar não significa conhecê-lo bem. Ele acredita que ver, reconhecer e valorizar as potencialidades e limitações de uma região é condição para que o povo assuma o protagonismo de sua própria história e destino. Essa autodescoberta deve se traduzir em ação transformadora, tanto para cada cidadão quanto para a coletividade.

Xi Jinping adverte contra a aceitação passiva da pobreza e o sentimento de inferioridade que pode se instalar com o tempo. Ele diz que, se acostumados a falar sobre a pobreza do município, as pessoas poderão se enxergar como inferiores e adotar uma mentalidade empobrecida. Essa lição vem não apenas de uma das maiores lideranças da segunda maior economia do mundo, mas de um país que se ergueu com o trabalho de suas próprias mãos e mentes.

Hoje, Ningde exporta cogumelos, chá e outros produtos agrícolas, além de contar com recursos minerais como granito e basalto, e energia hidrelétrica que impulsiona as indústrias metalúrgicas. Essas conquistas mostram que, ao se abrir para o mundo, a China não esperou que as soluções para seus problemas viessem de fora. A filosofia dos líderes chineses de “cruzar o rio pisando nas pedras,” de promover o desenvolvimento científico e de adaptar-se às circunstâncias práticas, deu origem à atual China urbana, tecnológica e moderadamente próspera, que sonha com a revitalização da nação, superando marcas deixadas por invasões estrangeiras e humilhações passadas.

Ao visitar uma aldeia pobre que se tornou modelo na China pela superação das dificuldades, Eloneida Studart ouviu de uma líder camponesa a seguinte frase: “Raciocinamos que todas as coisas más podem se transformar em coisas boas. A gente está precisando ouvir esse tipo de mensagem.” Carvalho identifica nessa fala uma influência taoísta, próxima da postura brasileira de sempre tentar ver o lado positivo em meio às dificuldades.

Há muito em comum entre chineses e brasileiros, e também muitas diferenças. Mas, felizmente, essas diferenças se complementam. Se Brasil e China insistirem no potencial dessa amizade, poderão redesenhar um novo caminho para a prosperidade, não só de suas populações, mas também dos países do sul global.

Muito obrigado.

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