O crédito dado ao líder russo pela mediação entre Pequim e Nova Deli diz muito sobre a influência de Moscou num mundo cada vez mais caótico
A recente decisão da China e da Índia de reduzir as tensões na disputada fronteira de Ladakh, no Himalaia, após quatro anos de hostilidades, tem atraído a atenção do cenário global – especialmente pela mediação indireta da Rússia, que organizou o evento em que os dois países selaram o acordo.
Embora o desfecho possa surpreender alguns, o contexto sugere um movimento estratégico que reflete interesses maiores das três nações.
O anúncio veio na segunda-feira da semana passada, quando Nova Déli comunicou que ambas as nações concordaram com a retirada de tropas de dois pontos críticos em Ladakh, com novos entendimentos sobre patrulhamentos na área.
Pequim confirmou o acordo no dia seguinte, e na quarta-feira o presidente chinês Xi Jinping e o primeiro-ministro indiano Narendra Modi se encontraram para conversas formais – a primeira em cinco anos – durante a cúpula do Brics, realizada na cidade russa de Kazan.
A resolução do conflito trouxe lembranças de uma situação similar na crise de fronteira em Doklam, em 2017, que também foi resolvida pouco antes de Modi se reunir com Xi na cúpula do Brics na China.
Esta última distensão, em um evento liderado pela Rússia, sugere um papel de bastidores para Moscou, especialmente significativo para o presidente russo, Vladimir Putin, que busca fortalecer alianças e seu papel diplomático em um momento de grande atenção internacional.
O acordo entre China e Índia pode ser interpretado como um passo pragmático dos dois países em busca de estabilidade regional, além de um reflexo da influência diplomática da Rússia na promoção de diálogos entre as duas potências asiáticas.
Para Putin, o desfecho reforça seu papel como mediador global e contribui para o fortalecimento de sua posição em parcerias estratégicas no Brics.
Com o cenário das eleições presidenciais nos Estados Unidos se aproximando, o evento ganha uma camada adicional de complexidade, sublinhando o poder das relações multilaterais e a importância da cooperação entre países em regiões estrategicamente sensíveis.
A distensão entre China e Índia, mesmo que temporária, abre espaço para mais estabilidade na Ásia e fortalece as alianças construídas em plataformas como o Brics, nas quais Moscou se mantém como um elo crucial.
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