Na cúpula anual dos BRICS, realizada em Kazan, Rússia, a guerra na Ucrânia foi um dos temas centrais discutidos entre os líderes mundiais. O presidente chinês Xi Jinping e o primeiro-ministro indiano Narendra Modi encontraram-se com Vladimir Putin para tratar do conflito. Modi, publicamente, expressou seu desejo por paz na Ucrânia, enquanto Xi discutiu o assunto a portas fechadas com o presidente russo. A reunião ocorre em um momento em que a Rússia busca demonstrar que as tentativas ocidentais de isolá-la internacionalmente não surtiram efeito.
Atualmente, a Rússia controla cerca de um quinto do território ucraniano, incluindo regiões estratégicas como Donetsk, Luhansk, Zaporizhzhia e Kherson, além da Crimeia, anexada em 2014. Putin reafirmou que Moscou não abrirá mão dessas áreas e que os interesses de segurança de longo prazo da Rússia na Europa precisam ser respeitados.
A declaração final da cúpula dos BRICS deve incluir referências a propostas de paz apresentadas pela China e pelo Brasil, que vêm buscando apoio de países em desenvolvimento nas Nações Unidas para uma trégua. No entanto, a Ucrânia tem criticado esses esforços, acusando China e Brasil de favorecerem Moscou. Putin, por sua vez, afirmou que essas propostas podem servir como base para negociações, embora as posições de Rússia e Ucrânia ainda estejam distantes.
Além da guerra, os BRICS também debateram a expansão do bloco. Atualmente composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, o grupo atraiu o interesse de mais de 30 países que desejam se juntar à organização. Durante a cúpula, Putin destacou a importância de um equilíbrio cuidadoso nessa expansão para garantir a eficácia do BRICS. “Seria um erro ignorar o interesse sem precedentes dos países do Sul Global e do Leste em fortalecer os laços com o BRICS”, disse Putin. “Mas, ao mesmo tempo, é fundamental manter o equilíbrio e evitar que a expansão prejudique a eficácia do grupo.”
Um fato importante que pode fortalecer a coesão interna do BRICS foi o recente acordo histórico entre China e Índia, firmado pouco antes do início da cúpula, para resolver uma antiga disputa fronteiriça. Esse acordo abre caminho para uma maior aproximação diplomática, militar e econômica entre os dois gigantes asiáticos, o que pode fortalecer o BRICS como um bloco mais coeso e influente. A resolução dessa questão, que há anos causava tensões entre os dois países, representa um avanço significativo para a estabilidade regional e a cooperação dentro do BRICS.
Yuri Ushakov, conselheiro de política externa de Putin, mencionou que foram estabelecidos critérios para a adesão de novos membros, com uma lista de 13 países potenciais já definida. “Precisamos conversar com esses países sobre seu nível de prontidão para aderir ao BRICS, seja como membros plenos ou em alguma outra forma apropriada”, afirmou Ushakov.
A participação do secretário-geral da ONU, António Guterres, na cúpula também gerou controvérsias. O Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia classificou a presença de Guterres como uma “escolha errada”, alegando que isso poderia prejudicar a reputação da ONU e não contribuiria para a paz. O ministro das Relações Exteriores da Lituânia, Gabrielius Landsbergis, também criticou a participação de Guterres, chamando-a de “inaceitável”. Até o momento, Guterres e seus representantes não responderam aos pedidos de comentário.
Embora alguns especulem que a visita de Guterres possa estar relacionada a uma tentativa de promover negociações de paz, críticos temem que sua presença na cúpula possa ser interpretada como um apoio implícito às ações de Putin na Ucrânia.
Com a guerra na Ucrânia e as discussões sobre a expansão do BRICS no centro das atenções, a cúpula de Kazan revela as dinâmicas complexas e as transformações que estão moldando o cenário geopolítico atual. As negociações entre China e Índia, juntamente com os esforços de paz propostos por Brasil e China, podem impactar significativamente o futuro do bloco e seu papel nas relações internacionais.
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