Exercícios nucleares da OTAN estão em andamento, trazendo à tona perguntas sobre o que está em jogo. Entenda detalhes por trás das manobras, recursos militares, e os riscos de uma escalada nuclear.
Os exercícios nucleares da OTAN, chamados Steadfast Noon, começaram na última segunda-feira e seguirão por duas semanas, envolvendo mais de 2.000 militares de oito bases diferentes e mais de 60 aeronaves de 13 países-membros. As simulações, que ocorrem em grande parte sobre o Mar do Norte e em países como Bélgica, Dinamarca, Holanda e Reino Unido, reacendem o debate sobre o conceito de “compartilhamento nuclear” e seus riscos potenciais.
No coração dessas operações está o compartilhamento nuclear, uma política originada durante a Guerra Fria, que permite que os aliados da OTAN participem de missões de combate simuladas com armas nucleares dos Estados Unidos, armazenadas em seus territórios. Mesmo que essas armas permaneçam sob o controle dos EUA, os riscos associados à sua presença em bases europeias, como Bélgica e Alemanha, continuam a gerar preocupação entre especialistas em armamentos e o público.
Riscos ocultos e a realidade do compartilhamento nuclear
Hoje, os Estados Unidos mantêm entre 100 e 150 armas nucleares B61 distribuídas por bases aéreas na Europa e na Turquia. Essas bombas nucleares de gravidade estão armazenadas em cofres subterrâneos, conhecidos como Weapons Storage and Security System (WS3). Apesar do sigilo que cerca a localização e segurança dessas armas, episódios preocupantes vêm à tona ocasionalmente. Um incidente em 2023, por exemplo, expôs o estado vulnerável dessas instalações. A Federação de Cientistas Americanos (FAS) divulgou fotos de uma B61 danificada em uma base na Holanda, evidenciando os perigos reais de acidentes com essas bombas táticas.
Embora o risco de uma detonação acidental seja considerado extremamente baixo, qualquer falha poderia causar contaminação nuclear generalizada, algo que, mesmo sem uma explosão, traria consequências devastadoras para o ambiente e para as populações locais. Esse tipo de evento destaca um dos principais problemas do compartilhamento nuclear: o perigo de que acidentes, descuidos ou falhas técnicas possam ter consequências irreversíveis.
O retorno dos temores de uma corrida armamentista nuclear
Os riscos do compartilhamento nuclear vão além de questões técnicas. O histórico mostra que a presença de armas nucleares em solo europeu já desencadeou tensões globais. Na década de 1980, a instalação de mísseis nucleares Pershing e de cruzeiro pelos EUA em Europa Ocidental gerou uma onda de protestos, com milhões de pessoas marchando contra a escalada armamentista. Essa movimentação forçou a União Soviética a elevar seu nível de alerta nuclear, trazendo o mundo à beira de uma guerra total em 1983.
Com a retomada dos exercícios nucleares e a manutenção de armas B61 na Europa, o cenário não é muito diferente hoje. A Polônia, por exemplo, já demonstrou interesse em hospedar armas nucleares dos EUA, o que pode ampliar ainda mais as tensões. A crescente militarização e o perigo potencial de uma nova corrida armamentista nuclear colocam o mundo em uma situação de risco semelhante à que quase desencadeou um conflito global há quatro décadas.
Enquanto a OTAN reforça seus exercícios e os Estados Unidos atualizam seus armamentos, o futuro da segurança global permanece incerto. As armas nucleares, sejam estratégicas ou táticas, trazem consigo não apenas o risco de guerra, mas também de acidentes que poderiam mudar o curso da história.
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