PT e esquerda colhem derrota no primeiro turno; PL de Bolsonaro e Centrão saem vitoriosos
Há divergências entre os analistas de esquerda na leitura dos resultados do primeiro turno das eleições municipais. Alinho-me com aqueles e aquelas que apontam uma derrota dura do PT que poderá, entretanto, ser amenizada a depender dos resultados do segundo turno. É forçoso reconhecer que a direita e a extrema direita cresceram fortemente.
Por Mauro Lopes
A presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, e outros líderes partidários afirmam que o partido teria colhido uma vitória nas urnas pois o partido elegeu no primeiro turno 251 prefeitos, mais do que o total de 183 eleitos em 2020. e que este seria um momento de reconstrução e crescimento. Há consenso entre os analistas progressistas e de esquerda e dirigentes do PT quanto ao momento de reconstrução depois da terra arrasada do Mensalão, Lava Jato, golpe contra Dilma e eleição de Bolsonaro.
Há diferença de opinião sobre que caminho seria o da reconstrução, dividindo-se as opiniões grosso modo em duas correntes: 1) aprofundamento da política frenteamplista com uma aproximação cada vez maior com as forças de centro, centro-direita e direita (o Centrão), o que tem significado uma comunhão de ideais cada vez maior com tais correntes ou 2) retomada das tradições do PT com uma política de esquerda, com o retorno à defesa do socialismo e alianças pontuais com outras forças, mantendo sempre a disputa político-ideológica, sem a diluição de acento liberal no interior de uma frente ampla.
Quanto à afirmação de que teria ocorrido uma vitória ou que a eleição teria sido positiva para o partido, os números não parecem corroborá-la. Mas é explicável que Hoffmann e outros dirigentes partidários defendam a ideia pois são eles que conduziram o partido no processo eleitoral.
A bem da verdade, o PT saiu da eleição menor do que entrou. O discurso de “crescimento” não corresponde ao que aconteceu.
Explico: entre março e abril deste ano houve uma “janela partidária”. É o único período no qual políticos eleitos (vereadores, prefeitos, deputados) têm direito de trocar de partido político, o que é proibido fora deste tempo sob risco de perda de mandato. É uma ideia tomada dos times de futebol: jogadores de futebol têm um tempo de janela de transferência, quando são autorizados a trocar de time. Aqui no Brasil, tal janela aconteceu este ano entre 10 de julho e 2 de setembro. Depois disso, os jogadores não podem trocar de time, até o fim dos campeonatos.
É um tempo de mudanças, reforços (ou perdas). Este ano, no Brasil, o PT foi partido mais favorecido pelas trocas de legenda durante a legenda, com vereadores e prefeitos correndo para a legenda, para se abrigarem no partido do governo federal e se favorecerem de emendas e outras verbas que podem facilitar suas reeleições.
O que aconteceu? Ao fim da janela partidária, o PT não tinha mais apenas os 183 prefeitos eleitos em 2020. Com as transferências, o partido entrou nas eleições com nada menos que 256 prefeitos em seus quadros. Ao fim do primeiro turno, como se viu, os 256 prefeitos transformaram-se, pelo voto dos eleitores e eleitoras, 251. Portanto, o PT está saindo menor do que entrou no pleito. O número poderá eventualmente superar os 265, pois há 52 prefeituras em disputa no segundo turno, mas ainda assim não representará um avanço relevante em relação aos 265 prefeitos da abertura das urnas.
Números reveladores
Quanto ao perfil do total de prefeitos eleitos, é inquestionável: a direita, a centro-direita (o Centrão) e a extrema direita saíram vitoriosas. Dos dez partidos com mais prefeitos eleitos no primeiro turno, nada menos que sete são do espectro do Centrão ou da extrema direita. O campeão é o PSD de Kassab (888), seguido pelo MDB (865), pelo PP de Ciro Nogueira e Lira (752), União Brasil de ACM Neto e Caiado (589), PL de Bolsonaro (523), Republicanos (441) e mais PSDB (276) – um total de 4.334.
Importante considerar que a extrema direita, embora em maior concentração no PL, espalha-se por todos os demais partidos do bloco. No campo da centro-esquerda/esquerda, há apenas 3 partidos dentre os 10 com mais prefeitos eleitos: PSB (312), seguido pelo PT (251) e PDT (151) – um total de 714, apenas 16% do total de eleitos pelo outro campo. Importante observar aqui que a qualificação deste campo como de centro-esquerda/esquerda deve ser matizada pela presença de políticos de direita e centro nos três partidos.
Se considerarmos o total de votos no primeiro turno, a hegemonia se agrava e pende ainda mais para a extrema direita. Dos dez partidos com mais votos, oito são do arco do Centrão ou de extrema direita. O PL de Bolsonaro é o que teve mais votos no primeiro turno: 15,7 milhões. Depois dele seguem o PSD (14,5), MDB (14,4), União Brasil (11,3), PP (9,9), Republicanos (7,4), PSDB (4.7) e Podemos (3,5). Os únicos dois partidos fora do campo são o PT (8,9 milhões) e o PSB (6,5). O salto mais impressionante entre 2020 e 2024 é exatamente do PL: de 4.7 milhões de votos para 15,7 milhões agora (aumento de 236%). Se somarmos os votos do campo da direita entre os dez partidos com maiores números, chegamos a 76,7 milhões de votos contra 15,4 milhões do PT e PSB.
Outro número considerado relevante por alguns analistas é o número de vereadores eleitos. Um forte crescimento do PT indicaria capilaridade suficiente para eleger uma bancada expressiva à Câmara dos Deputados em 2026. A regra vale para todos os partidos. Mas o resultado nesse caso também é adverso para o partido do presidente Lula. É preciso relativizar o crescimento do PT em função do fator janela partidária, que alterou o número de prefeitos do partido antes da votação, em função das transferências entre março e abril.
Provavelmente, o partido entrou nas eleições com um número de prefeitos maior que o eleito em 2020, mas não encontrei fonte confiável com este dado. O PT foi apenas o oitavo partido em crescimento de bancada de vereadores em todo país no total de nove partidos com crescimento significativo. O campeão de crescimento foi o Republicanos (+ 2029), seguido do PL (1468), PSD (875), MDB (714), PSB (548), PP (547) e Avante (468); só depois aparece o PT (450), seguido pelo Novo (250). Repete-se aqui o mesmo cenário: os partidos do Centrão mais extrema direita acrescentaram 5633 vereadores à sua base; PT e PSB apenas 998.
Notável o protagonismo do PL em todos os rankings.
Números de qualidade: capitais e grandes centros
Em 11 capitais os prefeitos foram eleitos ou reeleitos em primeiro turno. O PSD elegeu 3, seguido pelo PL, União Brasil e MDB com dois cada e mais um do PSB e um do Republicanos. O PT não elegeu nenhum. 10 eleitos pelo espectro do Centrão-extrema direita e apenas João Campos do PSB em Recife fora do campo.
Nas capitais, haverá 30 candidatos disputando o segundo turno: 9 do PL, 4 do PT e mais 4 do União Brasil. O MDB terá três. PSD, PP e Podemos terão dois nomes nas disputas cada. Avante, PSOL, PDT e PMB completam a lista com um postulante cada. Ou seja, 23 candidatos do espectro da centro-direita à extrema direita e apenas 7 do campo de centro esquerda/esquerda.
O total de cidades com segundo turno agora em 2024 chega a 52 (incluídas as capitais), num total de 104 candidatos. Veja o número de candidatos por partido no segundo turno:
PL: 23
PT: 13
União: 11
MDB: 10
PSD: 10
Republicanos: 7
Podemos: 6
PP: 6
PSDB: 5
PDT: 3
Novo: 2
PSB: 2
PSOL: 2
Avante: 1
Cidadania: 1
PMB: 1
Solidariedade: 1
Mais uma vez, a hegemonia da direita: 84 candidatos dentro do campo e apenas 23 fora dele.
O ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, tentou minimizar o tamanho da vitória da direita alegando que boa parte dos partidos vitoriosos integra o Centrão e que, como o Centrão está na base do governo, seria uma vitória da frente ampla, tendo o governo como sócio.
A tese é original. Por tal raciocínio, o governo sairá vitorioso em São Paulo e Porto Alegre qualquer que seja o resultado do segundo turno, posto que nas duas cidades concorrem com Boulos e Rosário nomes do MDB (Mello e Nunes), partido que integra a base (leia aqui).
É evidente que há nuances entre os partidos e blocos distintos em todos eles. Há parlamentares e líderes de extrema direita não apenas no PL, por exemplo. Eles estão em todos os demais partidos do Centrão. E há no PSD líderes mais permeáveis a acordos com o PT e sobretudo com Lula.
Mas, mesmo nesses casos, a relação não é de parceria: no Rio, Eduardo Paes deu uma cotovelada no PT barrando qualquer reivindicação do partido de ter o vice na chapa e colocou no lugar um jovem de 30 anos, deputado estadual do PSD que havia sido seu ajudante de ordens.
Mesmo em Recife, com o prefeito do PSB João Campos em tese mais amigável ao PT e a Lula, o partido foi barrado. Campos, como Paes, colocou alguém de sua entourage pessoal na vaga, Victor Marques, que foi seu chefe de gabinete. Nos dois casos, o PT assistiu de braços cruzados.
Onde está o PT hoje
Alexandre Padilha tem razão num ponto: o PT está colhendo nas urnas o resultado de sua política de alianças.
O partido não é mais o que foi no final do século passado. Começou a mudar com a primeira eleição de Lula, em 2022, com uma política de alianças concebida e articulada por José Dirceu que chega agora a seu ponto culminante.
O partido progressivamente afastou-se dos ideais, bandeiras e concepções dos primeiros anos, deixou de realizar a disputa político-ideológica na sociedade, hoje quase exclusividade da extrema direita O PT foi se dobrando a um pragmatismo cada dia mais radical, absoluto, desaguando no que o cientista político Luis Felipe Miguel definiu como “possibilismo”.
O termo refere-se a uma postura de rendição completa à correlação de forças que segundo a visão dominante no PT, é controlada pelos conversadores e obrigaria o partido a optar, no texto de Miguel, “entre o pouco e o nada”.
O resultado expressa-se nas concessões e recuos cada vez maiores do partido e sua expressão no país hoje, ao fim do primeiro turno, é um desenho acabado de seu verdadeiro confinamento político-geográfico. O PT, neste pleito, está praticamente reduzido a três estados do Nordeste, à porção de Minas Gerais que pode ser considerada uma continuidade geográfico-política do Nordeste e a uma presença cadente no Rio Grande do Sul.
Onde está o PT ao final do primeiro turno em 2024? Os números são impressionantes.
Veja esse mapa do Brasil. Os pontos vermelhos são os prefeitos eleitos pelo partido:
Nada menos que 72% dos 251 prefeitos do partido estão concentrados em três estados (Bahia e Piauí com 50 prefeitos cada e 46 no Ceará) e mais na franja norte de Minas, que é como uma extensão geográfico-política do Nordeste (35). Somam-se os 21 prefeitos da presença cadente do partido no Rio Grande do Sul e chega-se a 80% dos prefeitos eleitos em 2024!
Ademais, as gestões do PT nos três estados têm pouca relação com a história do partido e situam-se mais propriamente no campo da centro-direita.
Enquanto o PT lutava contra a privatização da Sabesp em São Paulo, o governador Rafael Fonteles cuidava de privatizar a correspondente local, a Agespisa. O líder do partido no estado, o ministro Wellington Dias, fez do deputado estadual Fabio Novo, ex-PSDB, candidato do partido em Teresina. Na direção do PT, Dias assegurava a vitória de Novo no primeiro turno. Foi derrotado no primeiro turno pelo candidato de Ciro Nogueira, Silvio Mendes, que teve 52% dos votos.
Na Bahia, o partido colheu uma derrota humilhante na capital. Em vez de lançar um candidato próprio do PT, a cúpula do partido no estado, impôs o nome do vice, Geraldo Junior, do MDB, de direita, como canditado. O triunvirato composto pelo atual governador, Jerônimo Rodrigues, pelo ministro Rui Costa e pelo líder do governo no Senado, Jaques Wagner, os dois últimos ex-governadores, comanda o PT no Estado, às vezes aos tapas, às vezes aos beijos.
No quinto mandato consecutivo do partido no Estado, as marcas são impressionantes: é o estado com a PM que mais mata no Brasil; é um dos estados com piores indicadores na rede pública de ensino; conseguiu a proeza de colocar seu candidato em terceiro lugar em Salvador.
Geraldo Junior, com 10,33%, ficou atrás (colado, mas atrás) do candidato do PSOL, Kleber Rosa (10,43%) e a léguas do candidato do carlismo, o prefeito Bruno Reis, que teve quase 79% dos votos. O risco de derrota do partido em 2026 é real. O PT perdeu em cidades consideradas estratégicas para o pleito estadual, depois de Salvador: Feira de Santana e Vitória da Conquista (aqui, a eleição está sub judice, mas o partido perdeu nas urnas).
Finalmente, no Ceará, o partido levou a segundo turno um candidato que era até anteontem um quadro do cirismo. O deputado estadual Evandro Leitão deixou o PDT em dezembro passado para ser o candidato do PT a prefeito de Fortaleza. Para levá-lo ao Palácio da Abolição no primeiro turno, o ministro Camilo Santana licenciou-se do cargo para cuidar da eleição.
Não deu certo e Leitão terá que disputar o segundo turno contra o bolsonarista André Fernandes que, numa arrancada surpreendente terminou o primeiro turno com 40% dos votos -Leitão ficou com 34%. No Estado, a gestão petista tem sido marcada pela moderação e pela articulação com as fundações privadas voltadas à educação, tanto internacionais como ligadas ao sistema financeiro brasileiro.
São Paulo, uma realidade-limite
O partido sofreu uma derrota brutal em seu berço que é exemplar do processo atual. São Paulo. No primeiro turno, elegeu apenas três prefeitos no Estado, nas pequeninas Matão (79 mil habitantes), Santa Lúcia (9 mil) e Lucianópolis (2.4 mil). Ou seja, o PT venceu no primeiro turno em São Paulo em três cidades cujo contingente eleitoral não chega sequer a 100 mil pessoas. Sendo que em Santa Lúcia o novo prefeito é Júnior da Farmácia, eleito com 3.347 votos como candidato único.
Um dos maiores líderes do partido, incensado como virtual sucessor de Gleisi Hoffmann ou ministro braço direito de Lula em 2025, Edinho Silva, viu sua candidata, Eliana Honain, ser derrotada por um bolsonarista. A eleição da ex-secretária da Saúde era cantada em prosa e verso no PT como certa. Mas ela teve 45% dos votos contra 49% do bolsonarista Dr Lapena.
Uma derrota especialmente dolorida para o PT pois lá travou-se uma queda de braço de repercussão nacional contra o negacionismo bolsonarista na pandemia da Covid-19, além do papel considerado decisivo por Lula que Edinho teve na coordenação de comunicação da sua campanha em 2022 e depois no 8 de Janeiro.
Outras derrotas marcantes para o partido foram a de Emídio de Souza, nome histórico do PT que tentava voltar à Prefeitura na importante cidade de Osasco – teve apenas 15% dos votos. O PT praticamente colocou para fora do partido o ex-prefeito de Guarulhos, Elói Pietá, outro nome histórico em São Paulo, recusando-lhe a legenda na cidade.
Ele foi para o Solidariedade, passou ao segundo turno com 30% dos votos e o candidato do PT, o deputado federal Alencar Santana, ficou em quarto lugar com menos de 10%. O partido esperava passar ao segundo turno em São Bernardo -e fracassou. Perdeu para o PSDB com apenas 16% dos votos em Santo André. Em outras duas cidades estratégicas da Grande São Paulo, onde o PT tem prefeitos, fracassou na intenção de vencer de uma vez em primeiro turno.
Em Mauá, o prefeito Marcelo Oliveira vai ao segundo turno em primeiro lugar com 45% dos votos e em Diadema, em outra surpresa negativa, o prefeito José de Filippi Júnior, também um nome histórico da legenda, vai em segundo lugar, contra um candidato do MDB.
Na capital, prevê-se uma disputa acirrada entre o candidato apoiado pelo PT, o líder do PSOL Guilherme Boulos, que passou em segundo lugar num quase empate com o prefeito Ricardo Nunes, do MDB. A disputa em São Paulo cumpre agora a profecia do presidente Lula de uma disputa entre o lulismo e o bolsonarismo depois do susto com Pablo Marçal.
O fato de Boulos ser do PSOL não empurra o PT necessariamente à esquerda. O ex-líder do MTST é hoje um quadro no interior do campo lulista, onde se aninha cada vez mais o PSOL, não representando hoje um dia uma alternativa à esquerda do PT, exceto por parcelas minoritárias do partido.
Esperanças de amenizar a derrota
Uma vitória de Boulos pode atenuar fortemente a derrota do PT e da esquerda nas eleições. Outras quatro vitórias em capitais ajudariam: duas possíveis e uma dificílima podem ajudar. As possíveis são em Fortaleza, com o neo-petista Evandro Leitão, em Cuiabá com o deputado estadual Lúdio Cabral e em Natal com a deputada federal Natália Bonavides. A dificílima em Porto Alegre, com a deputada federal Maria do Rosário.
Sobre Fortaleza já escrevi, acrescento que será um páreo inesperadamente duro e a vitória é possível, mas incerta.
O deputado estadual Lúdio Cabral é um nome histórico do partido, diferentemente de Evandro Leitão. Médico, está no PT desde 1999, ainda no movimento estudantil. É bom de voto. Em 2012, candidatou-se pela primeira vez à Prefeitura e chegou ao segundo turno, mas acabou ficando em segundo lugar. Na ocasião foi derrotado pelo atual governador, Mauro Mendes que passou pelo PSB, migrou para o DEM e União Brasil e apoiou Bolsonaro em 2022.
Em 2014, Cabral tentou o governo de Mato Grosso e ficou novamente em segundo lugar. Foi eleito e reeleito deputado estadual, sendo o mais votado em 2022. Agora, devolveu a derrota a Mauro Mendes, deixando o candidato do governador para trás no primeiro turno. Eduardo Botelho do União Brasil teve 27,77% dos votos e Cabral 28,31%. Terá uma pedreira pela frente, o candidato bolsonarista Abilio Brunini, um deputado federal provocador de perfil fascista conhecido em Brasília. Ele venceu no primeiro turno com 40%. Se Cabral vencer, será uma vitória do “PT raiz”.
Outra vitória do PT raiz possível é em Natal, com a jovem Natália Bonavides. Ela tem apenas 36 anos. Ela elegeu-se vereadora com 28 anos e por duas vezes deputada federal, sendo a mais votada do Rio Grande do Norte em 2022, com mais de 157 mil votos. Bonavides, além de petista desde 2012, compõe historicamente à esquerda no partido. Ela se opôs, em 2022, à presença de Alckmin na chapa de Lula. É uma eleição possível mas igualmente duríssima.
Mesmo o apoio da governadora Fátima Bezerra não lhe garantiu o primeiro lugar neste 6 de outubro. Passou em segundo, com 29% dos votos, 15 pontos atrás de Paulinho Freire (União Brasil), que tem o apoio do prefeito Álvaro Dias, de direita, e do bolsonarismo local, liderado pelo senador Rogério Marinho. Uma vitória difícil, possível, e que será celebrada, se vier, pela hoje diminuta ala esquerda do PT e pela juventude petista.
A eleição improvável, dificílima, é a da deputada federal Maria do Rosário em Porto Alegre. Ela integrou a ala esquerda do partido no passado mas hoje acomodou-se ao status quo dominante. A ponto de ter sido a única do PT a votar contra o veto do presidente Lula ao projeto que acabou com a saída temporária dos presos. Lançada candidata, era considerada pela direção do partido como uma provável vencedora já no primeiro turno.
Com uma campanha moderada, acabou sendo espremida pelo prefeito Sebastião Melo, de extrema direita e o grande responsável pelas enchentes brutais na capital gaúcha, que não fechou a eleição no primeiro turno por apenas 0,28%. Maria do Rosário teve apenas 26,28% dos votos. A neta de Leonel Brizola, Juliana, foi a surpresa da eleição e teve 20%, com uma campanha mais agressiva contra Melo.
Uma eventual derrota de Rosário será também uma derrota importante do principal líder do partido no estado, o ministro da Secom, Paulo Pimenta, e o fracasso do projeto que o levou a ser ministro extraordinário para a reconstrução do Rio Grande do Sul -e, por tabela, do presidente Lula. Uma eventual e dificílima vitória de Rosário será o maior alívio para o PT nas eleições.
Antes de encerrar, cumpre o registro de que duas vitórias do PT em cidades médias foram recebidas com alegria, por servirem de reforço à lideran??a do partido num estado em que a legenda enfrenta uma crise de grandes proporções, Minas Gerais. As prefeitas Margarida Salomão, de Juiz de Fora, e Marília Campos, de Contagem, na Grande BH, foram reeleitas, a primeira com 54% dos votos, a segunda com mais de 60%.
Se chegarem as eventuais vitórias em São Paulo, Natal, Fortaleza, Cuiabá e Porto Alegre, elas terão o condão de atenuar a derrota e até criar um simbolismo de vitória de vitória eleitoral. Um desafio de largo fôlego até 27 de outubro.
Artigo publicado originalmente na Revista Fórum
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