Na visita ao Brasil iniciada na terça-feira (26), o presidente da França, Emmanuel Macron, espera consolidar uma parceria estratégica com o presidente Lula (PT), projetando uma aliança que serve como uma conexão entre os países desenvolvidos do G7 e o Sul Global. Esta aliança, que começou a ser formada ainda antes de Lula assumir seu terceiro mandato, se baseia em discussões sobre temas críticos como meio ambiente, defesa, economia e geopolítica.
A relação entre os dois líderes se fortaleceu quando Macron recebeu Lula com honras no Palácio do Eliseu em novembro de 2021, um gesto de reconhecimento à liderança do brasileiro e uma provocação ao então presidente Jair Bolsonaro, com quem Macron tinha divergências. Essa ação posicionou Lula novamente como uma figura de peso no cenário internacional.
A aliança entre os dois estadistas pode ajudar ainda a desfazer o mal estar crescente entre a Europa, vista como demasiada subserviente aos interesses dos Estados Unidos, e o Sul Global, conjunto de países em desenvolvimento que vê em Lula um de seus principais prota-vozes. O mal estar deriva da insatisfação desses países com os vícios imperialistas que os países do G7 ainda exibem, como o uso indiscriminado de sanções econômicas por razões ideológicas obscuras, injustas e parciais.
Do ponto de vista do Brasil, a França quer ser vista, no entanto, como um membro do G7 com uma política externa relativamente independente, disposta a adotar iniciativas não alinhadas estritamente com os Estados Unidos. Isso inclui a defesa de Macron por uma maior autonomia europeia em decisões geopolíticas, destacando uma possível sinergia na promoção de interesses dos países emergentes nas discussões do G7. O Brasil quer explorar e incentivar esse orgulho geopolítico da França, de maneira a fazê-la se emancipar do jugo pesado da geopolítica americana.
Macron e Lula compartilham da visão de que podem facilitar o diálogo entre nações ricas e em desenvolvimento. Durante a visita, que inclui paradas em Belém, Itaguaí, São Paulo e Brasília, os presidentes abordarão temas de relevância bilateral em cada cidade, desde questões ambientais até cooperação em defesa e discussões econômicas.
Especificamente, o encontro em Belém enfocará o meio ambiente, preparando o terreno para a COP30. Em Itaguaí, celebrará avanços na cooperação de defesa, simbolizados pelo Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub). São Paulo hospedará um fórum econômico e anúncios na área da saúde. Já em Brasília, os líderes tratarão de geopolítica, com a guerra na Ucrânia entre os tópicos.
Apesar de tentarem posições de mediadores no conflito ucraniano, ambos enfrentam divergências, como a recente escalada retórica de Macron em relação à Rússia, que preocupa o Brasil. Além disso, as visões sobre a crise na Faixa de Gaza e a situação no Haiti e na Venezuela também serão discutidas, procurando áreas de consenso.
A visita de Macron ao Brasil simboliza um esforço conjunto para reforçar a colaboração franco-brasileira, abordando desafios globais e reiterando o compromisso mútuo com o diálogo e a cooperação internacional.
Abaixo, quadro do comércio exterior entre Brasil e França no ano de 2023.
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