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Os personagens por trás do assassinato de Marielle Franco

Abaixo, fizemos um resumo de todos os principais personagens envolvidos no bárbaro homicídio da vereadora Marielle Franco e seu motorista, Anderson Gomes. A colaboração premiada do ex-policial militar Ronnie Lessa, detido desde março de 2019, menciona os irmãos Brazão e outros personagens, ajudando as autoridades a desvendar um dos crimes mais escandalosos da história recente […]

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Foto: Divulgação/Câmara

Abaixo, fizemos um resumo de todos os principais personagens envolvidos no bárbaro homicídio da vereadora Marielle Franco e seu motorista, Anderson Gomes.

A colaboração premiada do ex-policial militar Ronnie Lessa, detido desde março de 2019, menciona os irmãos Brazão e outros personagens, ajudando as autoridades a desvendar um dos crimes mais escandalosos da história recente do país.

Na colaboração de Ronnie Lessa, ex-membro da Polícia Militar, apontou-se o deputado federal Chiquinho Brazão (do partido União Brasil) como um dos mentores do homicídio da vereadora Marielle Franco, ocorrido em março de 2018, que também vitimou o condutor Anderson Gomes. Chiquinho Brazão, irmão de Domingos Brazão, que é membro do Tribunal de Contas do Estado (TCE), ocupava o cargo de secretário municipal de Ação Comunitária na prefeitura do Rio até o início deste ano, quando renunciou devido aos primeiros indícios de seu envolvimento no crime. Ambos, Chiquinho e Domingos, foram detidos pela Polícia Federal.

Antes de voltar ao seu cargo na Câmara dos Deputados em Brasília, Chiquinho administrou a secretaria por quatro meses. A natureza de seu cargo como deputado federal motivou o envio de sua delação ao Supremo Tribunal Federal (STF), onde foi ratificada recentemente.

Anteriormente, a investigação estava sob a jurisdição do Superior Tribunal de Justiça (STJ), visto que a colaboração de Élcio de Queiroz, também ex-PM detido em 2018 por suspeita de envolvimento no caso, já incluía Domingos Brazão, que tem 59 anos e desfruta do foro especial por ser conselheiro do TCE. Lessa também mencionou Domingos como participante no crime em sua colaboração.

Aos 62 anos, Chiquinho Brazão foi eleito vereador do Rio de Janeiro em 2004, reeleito em 2008, 2012 e 2016, totalizando quatro mandatos consecutivos na câmara municipal. Durante seu último mandato, sua carreira política coincidiu com a de Marielle Franco, desde o início do mandato em 2017 até o assassinato de Marielle, em março de 2018.

Durante seu tempo na câmara municipal, Chiquinho presidiu a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Ônibus, que investigava supostas irregularidades no sistema de transporte coletivo da cidade, embora a CPI tenha concluído sem resultados significativos. Em 2018, Chiquinho foi eleito deputado federal, tendo sido reeleito na eleição de 2022.

Em uma postagem em seu perfil no Instagram, em 26 de fevereiro deste ano, Chiquinho destacou o Projeto de Lei nº 146/2021, de sua autoria, que propõe o uso de tornozeleiras eletrônicas para homens que cometerem agressões contra mulheres.

Os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão estão há anos envolvidos em controvérsias e acusações relacionadas às suas atividades políticas e empresariais no Rio. Domingos, ao longo de seus 25 anos na vida pública, acumulou acusações de corrupção, fraude, improbidade administrativa, compra de votos e até homicídio.

A Zona Oeste do Rio, especialmente Jacarepaguá, sempre foi o reduto eleitoral da família Brazão. Em 2011, Domingos teve seu mandato cassado pelo Tribunal Regional Eleitoral do Rio (TRE-RJ) por suposta compra de votos, mas conseguiu manter seu mandato através de uma liminar no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Antes, em 2004, uma gravação sugeriu a participação de Brazão e do ex-deputado Alessandro Calazans com a máfia dos combustíveis, envolvendo licenças ambientais para postos de gasolina. Em 2014, Domingos Brazão foi processado pela radialista e deputada estadual Cidinha Campos por ameaça. Durante um confronto público, Brazão teria feito um comentário ameaçador em relação à deputada.

Marielle Franco, eleita vereadora do Rio pelo PSOL em 2016 com 46 mil votos, tornando-se a quinta candidata mais votada da cidade, teve sua carreira política tragicamente interrompida em 14 de março de 2018. Naquela noite, ela e seu motorista, Anderson Gomes, foram assassinados com 13 tiros, num ataque que também visava a vereadora.

O homicídio mencionado por Brazão teria acontecido quando ele era mais jovem. Brazão afirmou que foi absolvido no caso, alegando legítima defesa. “Sim, matei uma pessoa, mas isso foi há mais de 30 anos, quando eu tinha 22 anos. Foi um marginal que veio à minha casa, no dia do meu aniversário, para provocar a mim e minha família. A Justiça me absolveu”, disse Brazão na época do confronto com Cidinha Campos e em uma entrevista ao jornal O Globo.

A pergunta persistente sobre quem ordenou o assassinato de Marielle?

As conexões da família Brazão com o caso emergiram em 2019, quando um relatório da Polícia Federal apontou Domingos Brazão como o “suspeito principal de ser o mentor intelectual” dos assassinatos de Marielle e Anderson. Domingos sempre negou envolvimento no crime. Em 2019, foi denunciado pela então Procuradora-Geral da República, Raquel Dodge, por obstruir a investigação, mas a Justiça do Rio rejeitou a acusação. Seu nome voltou a ser discutido no ano passado após a delação de Élcio de Queiroz, também ex-PM e preso em 2018, suspeito de participar do crime.

No ano passado, documentos encontrados no apartamento de Jomar Duarte Bittencourt Junior, conhecido como Jomarzinho, em 24 de julho, revelaram ligações dele com a família Brazão. Jomarzinho foi identificado como um dos responsáveis pelo vazamento de informações sobre uma operação contra os envolvidos no caso em 2019. Em julho deste ano, a Polícia Federal realizou uma busca e apreensão em seu apartamento.

Em uma entrevista ao O Globo, em janeiro deste ano, Domingos Brazão, ex-deputado estadual e atual conselheiro do TCE-RJ, disse que entrou na política por paixão. Antes, trabalhava vendendo carros e motos, mas gradativamente construiu um negócio com 18 postos de gasolina. Atualmente, afirma possuir apenas postos de gasolina e se dedicar à compra de galpões em áreas de baixo valor para revendê-los a grandes empresas.

Domingos Brazão, apesar de ser o mais novo dos irmãos, é considerado o mais notório e visto como uma espécie de orientador do grupo. Começou sua carreira política como assessor na Câmara Municipal entre 1993 e 1994, tornando-se vereador do Rio em 1997, cargo que ocupou por dois anos. Eleito deputado estadual, ocupou uma cadeira no Palácio Tiradentes em 1999, onde permaneceu por 17 anos. Alimentou a expectativa de se tornar presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) até ser indicado pela Casa para uma vaga no TCE, da qual foi afastado por seis anos após a operação Quinto do Ouro, quando ele e outros quatro membros do tribunal foram detidos sob acusações de corrupção. O conselheiro afirma ter intenções de retornar à política.

“Já enfrentei muitos desafios na vida. Não creio que tenha inimigos. Penso que, se Lessa inventar um mandante, isso apenas complicará ainda mais sua situação, pois estaria aumentando seus crimes. Uma delação com falhas não será validada, será descartada. O STJ é rigoroso nisso. Estou tranquilo quanto a isso. Meu sono é tranquilo. Não sou um santo. Sou um político. Cometi meus erros, mas sempre dentro da lei”, declarou o conselheiro naquela época.

Os executores do assassinato|

Ronnie Lessa

Detido em março de 2019 por seu envolvimento nos assassinatos de Marielle Franco e Anderson Gomes, Ronnie Lessa, segundo a delação de Élcio de Queiroz, foi identificado como o atirador responsável pelos disparos que mataram a vereadora e seu motorista. Lessa foi expulso da PM e, em 2021, condenado a quatro anos e meio de prisão por ocultar as armas que supostamente foram utilizadas no crime.

Élcio de Queiroz

Élcio, ex-sargento da Polícia Militar, foi expulso da corporação em 2015. Em sua delação, ele relatou que conduzia o carro que perseguiu o veículo onde estavam Marielle, seu motorista, e a assessora Fernanda Chaves, que sobreviveu ao ataque.

Desde 2019, Élcio está detido e fez uma delação premiada apontando a participação de uma terceira pessoa, o ex-bombeiro Maxwell Simões Correa, conhecido como Suel, nas mortes de Marielle e Anderson.

Os intermediários do crime

Edimilson Oliveira, conhecido como Macalé, foi identificado na delação premiada de Élcio de Queiroz, firmada em 2023, como o intermediário que contratou Ronnie Lessa para o crime. Ele também teria participado de vigílias para observar Marielle antes do atentado.

Macalé foi assassinado em novembro de 2021. Antes, seu nome já havia surgido em investigações relacionadas ao jogo do bicho, sendo visto como membro da equipe de segurança de um conhecido bicheiro.

Houve antes uma tentativa frustrada de assassinato da vereadora

Maxwell Simões Correa, o Suel

Ex-sargento do Corpo de Bombeiros, Maxwell, também chamado de Suel, foi identificado como cúmplice de Lessa, acusado de fornecer um carro para a quadrilha, esconder as armas após o crime e ajudar a descartá-las.

Conforme relato de Queiroz, Maxwell também participou de uma tentativa falha de assassinar a vereadora no final de 2017. Nessa ocasião, Maxwell, que estava ao volante, não conseguiu aproximar-se do táxi onde Marielle estava conforme instruído por Lessa. Suel justificou que houve um problema no veículo, mas Lessa suspeitava de medo ou hesitação.

Maxwell também é acusado de monitorar Marielle e de participar na troca de placas do veículo Cobalt e em seu desmonte posterior.

Ele foi preso em 24 de julho do ano anterior, durante a Operação Élpis, realizada pela Polícia Federal e pelo Ministério Público do Rio.

Eliminação das provas

Edilson Barbosa, o Orelha, foi indicado como proprietário do ferro-velho onde o Cobalt prata, usado no assassinato, foi desmontado. Segundo a denúncia do Grupo de Atuação Especializada de Combate ao Crime Organizado (Gaeco/FTMA), o carro foi levado até Edilson dois dias após o crime. Edilson teria obstruído a investigação ao desfazer-se do veículo. Ele foi detido no final de fevereiro do ano corrente.

Outras quatro pessoas também foram detidas em decorrência do caso nos últimos anos, sendo posteriormente soltas. Em 2019, durante a Operação Submersus, Elaine de Figueiredo Lessa (esposa de Lessa), Bruno Figueiredo (cunhado de Lessa) e outros supostos cúmplices do ex-policial foram presos preventivamente. Elaine é suspeita de liderar as ações para eliminar as armas do marido e eliminar vestígios da quadrilha, enquanto seu irmão teria auxiliado nessas tarefas.

Investigados assassinados

Luiz Carlos Felipe Martins, considerado o braço direito de Adriano da Nóbrega (ex-capitão do Bope morto em 2020 em operação policial na Bahia), também foi morto a tiros, em 20 de março de 2021. Ataques semelhantes vitimaram Hélio de Paulo Ferreira, o Senhor das Armas, em 28 de fevereiro de 2023, e Lucas do Prado Nascimento da Silva, conhecido como Todynho, em uma emboscada na Avenida Brasil, sugerindo a eliminação de possíveis testemunhas. Todynho era suspeito de envolvimento na clonagem do Cobalt prata utilizado no assassinato de Marielle e Anderson, tendo supostamente atuado na fabricação dos documentos falsos do veículo, conforme relatório de inquérito assinado pelo titular da Delegacia de Homicídios naquela época, Giniton Lages.

Este caso complexo, repleto de camadas de conspiração, violência, e intriga política, continua a gerar questões e demandar justiça. O assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes não é apenas um caso de violência brutal contra indivíduos, mas também simboliza a luta contínua contra a corrupção, a impunidade e a violência sistêmica que afligem muitas partes do Brasil. À medida que as investigações prosseguem, a esperança persiste de que a verdade completa eventualmente venha à tona, trazendo consigo justiça para as vítimas, suas famílias e todos os que lutam por um Brasil mais justo e seguro.

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Comentários

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Ligeiro

24/03/2024 - 13h35

É bom finalmente o caso ter uma solução. Isso ilustrou perfeitamente como é a política atual: muitas vezes existe uma confluência de personagens que ocultam ações ilegais, e isso não ocorre só no Rio de Janeiro, mas em qualquer estado brasileiro.

Espero muito que nas eleições de 2024, se abram mais informações sobre esta, e se alguém ligado a casos criminais concorrer politicamente e ganhar uma eleição, isso vai demonstrar mais sobre quem vota neles (e permite tais corruptos serem eleitos), diga-se. Porque como dito, isso não é só no Rio. Mesmo um município rico em São Paulo terá estes problemas. Mesmo a capital tem este tipo de problema, senão não teria uma liderança assassina no poder.


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