A Miriam Leitão, em sua coluna de hoje, intitulada Sombra Argentina, faz insinuações maldosas sobre possíveis manipulações de índices sócio-econômicos do Brasil por parte das instituições oficiais, como o IBGE e Banco Central, com vistas a ajudar o governo.
Tudo isso porque o IBGE divulgou ontem que, a partir de agora, empregada doméstica e educação privada, caíram um pouquinho na composição do índice geral de inflação. Essa mudança já havia sido avisada pelo IBGE tempos trás, disseram os pesquisadores, e chega em linha com a atualização da Orçamento das Famílias. Com o avanço da classe C, que não tem costume de contratar empregada doméstica e matricula seu filho em colégio público, esses itens perdem peso na média total. É um procedimento normal, explicado segundo normas técnicas transparentes e disponíveis no site da instituição. Nenhum pesquisador privado, público ou acadêmico constestou a mudança. Mas o fato de que ela impactará positivamente na inflação, fazendo o índice cair alguns décimos para os próximos meses e para 2012, causou um mal estar na colunista platinada que ela não tentou disfarçar.
E deitou a fazer proselitismo sobre o perigo de repetir o que aconteceu na Argentina, onde o governo do casal Kirchner manipulou os índices oficiais de inflação.
Os jornais vivem repetindo essa ladainha sobre a inflação argentina. O que mais me incomodou, além da acusação de que o governo argentino manipula o índice da inflação, era a preguiça da nossa imprensa, que tem centenas de repórteres e editores, em pesquisar mais a fundo essa notícia. Mas o pior era repetir números “do mercado”, que estimava a inflação no país em torno de 25% ao ano.
Há poucos dias, o Jornal da Globo noticiou que o país deve fechar o ano com inflação de 24% e que em 2012, esta ficará em mais de 30%. Não dão a fonte da informação, que não é das fontes oficiais. Aliás, repare na voz da repórter. Ela narra a notícia em tom raivoso.
É a mesma coisa que aconteceu em relação à inflação de 2010 e 2009. O Globo prefere usar números de consultorias privadas, em mãos de políticos da oposição, do que os institutos oficiais.
Trecho de matéria publicada no início do ano, falando da inflação de 2010.
Em meio a uma polêmica iniciada em fevereiro de 2007, quando o governo do ex-presidente Néstor Kirchner ordenou a intervenção no Indec (o IBGE argentino), o instituto informou ontem que a inflação do país atingiu 10,9% em 2010. O percentual está bem abaixo das projeções das principais consultorias privadas do país, que estimaram uma alta do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) entre 25% e 26%. Trata-se de uma das taxas mais altas do continente, superada apenas pela Venezuela, que fechou o ano passado com inflação de 27,2%. Em 2009, a inflação oficial foi de 7,7%. Já os analistas projetaram, em média, uma taxa de 15%.
Não tenho elementos para acreditar ou desacreditar que o governo Kirchner interveio no Indec e manipula as taxas. Acho um absurdo e uma estupidez que isso aconteça.
Entretanto, quando Cristina se reelegeu no primeiro turno, com uma vitória absolutamente esmagadora, eu fiquei pensando: ué, e aquela história de “é a economia, estúpido”? Se a inflação tem ficado tão absurdamente alta, isso impactaria automaticamente na renda dos trabalhadores, sobretudo dos mais pobres, e a presidente encontraria dificuldades de se reeleger. Pois aconteceu o contrário. Cristina Kirchner obteve a maior votação já alcançada por um presidente argentino em muito tempo. Ou seja, o argentino não está tão chateado assim e como a inflação é uma das piores chagas à economia do país, pode ser que haja um certo exagero em relação a esse problema.
Prefiro continuar cético, contudo. E pesquisar mais. Então entrei no banco de dados do Banco Mundial, e baixei alguns indicadores sócio-econômicos da Argentina, que nos permitem ter uma ideia da situação no país, e com isso, ganhar uma posição mais embasada para julgar o problema da inflação.
Eis os números que eu peguei no Banco Mundial. Infelizmente, só consegui dados até 2009.
Os números contradizem um cenário de inflação fora de controle, ao menos no período que vai de 2003, quando Kirchner tomou posse, à 2009.
Se tem inflação fora de controle, então o problema é de 2010 e 2011, para os quais ainda não tenho números. De qualquer forma, pode-se ver que o governo Kirchner conseguiu uma proeza: aumentou a participação dos 20% mais pobres de 3,14% da renda nacional, para 4,03% em 2009. Não é um cenário típico de um país com inflação descontrolada. O desemprego total no país, que havia atingido 16% em 2003, sendo 35% entre os jovens, caiu para 8,6% em 2009, na média geral, sendo 21% entre os jovens.
Em breve devo conseguir mais dados sócio-econômicos da Argentina para tirarmos a limpa sobre essa história de inflação, para os anos de 2010, 2011 e previsão para 2012.
Elson
30/11/2011 - 23h27
Como o FMI vem ao Brasil com o pirex na mão pedir um adjutório para a falida Europa , a dona Leitão não achou oque falar mal do Brasil , então resolvel acestar suas baterias contra o vizinho , já que na Argrentina também existe um governo progressista .