Motivada pelos segmentos de petróleo e agricultura, prevê-se que a balança comercial manterá superávits consideráveis nos próximos anos, embora devam ser inferiores ao nível recorde projetado para 2023. Essa é a conclusão de uma pesquisa conduzida pela economista Iana Ferrão, do BTG Pactual, e divulgada antecipadamente pelo Valor.
Para o ano, a projeção da instituição financeira indica um superávit de US$ 95 bilhões, marcando o nível mais alto na série histórica e representando um aumento de 50% em relação ao recorde anterior de US$ 62,4 bilhões estabelecido no ano passado.
“Para 2024, esperamos ligeira redução do saldo, para US$ 87 bilhões – patamar ainda bem robusto, muito superior aos dos últimos anos”, escreve a economista.
A diminuição projetada para o próximo ano é principalmente atribuída à “menor safra agrícola, com destaque para a soja, e da diminuição dos preços das commodities”. No entanto, fatores como a diminuição tanto no volume, resultante da “desaceleração da atividade doméstica”, quanto nos preços das importações, tendem a evitar uma “contração mais significativa do superávit comercial”.
Além disso, as perspectivas para a balança comercial nos próximos anos também são bastante positivas. Uma das razões para isso é que a produção de petróleo na camada do pré-sal continuará aumentando significativamente. A economista destaca, por exemplo, uma estimativa da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) que prevê um aumento de 80% na produção de petróleo no Brasil nos próximos sete anos. Isso contribuirá para o aumento das exportações do produto, mesmo com a redução esperada em seus preços. Como comparação, nos últimos sete anos, a produção de petróleo cresceu 20%.
Dessa forma, mesmo adotando cálculos considerados “conservadores”, o BTG estima que o saldo da balança de petróleo e seus derivados aumentará de US$ 21 bilhões em 2022 para notáveis US$ 95 bilhões em 2029.
“Outro fator que tende a contribuir para aumentar as exportações brasileiras nos próximos anos é o forte aumento da produtividade no setor agropecuário”, diz a economista. Ela menciona levantamento do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos que afirma que o Brasil foi o país com “o maior aumento da produtividade da agropecuária de 2000 a 2019”.
No decorrer deste ano, há um destaque especial para o notável aumento na quantidade de bens de capital importados relacionados ao setor agrícola, o que tende a impulsionar a produtividade nesse setor nos anos seguintes. Em termos de médio e longo prazos, a reforma tributária do consumo, especialmente benéfica para o setor agroexportador, também desempenhará um papel significativo no aumento da produtividade e eficiência dessa área.
No estudo, a economista destaca a importância do “robusto fluxo comercial” deste ano, que está desempenhando um papel crucial em sustentar a taxa de câmbio em um “patamar próximo” a R$ 5, mesmo diante de elevações mais significativas nas taxas de juros de longo prazo nos Estados Unidos. De acordo com ela, esse fenômeno ocorre porque o fluxo comercial está em sintonia com o aumento do saldo comercial exportado.
“A entrada de dólares pelo segmento comercial totalizou US$ 47 bilhões de janeiro a outubro deste ano – recorde histórico”, afirma. “Essa entrada mais do que compensou a saída de US$ 23 bilhões via segmento financeiro, de modo que no ano, o fluxo cambial líquido está positivo em US$ 24,1 bilhões, o maior patamar para o período desde 2011.”
“Para 2024, esperamos redução do saldo, para US$ 87 bilhões, patamar ainda bem robusto”
De janeiro a outubro do corrente ano, o Brasil registrou um superávit comercial de US$ 80,2 bilhões, conforme relatado pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Esse valor representa um aumento de 57,2% em comparação com o mesmo período de 2022 e resulta de exportações no montante de US$ 282,4 bilhões e importações de US$ 202,2 bilhões.
Conforme observado por Ferrão, os principais pontos positivos nas exportações deste ano são as commodities agrícolas, impulsionadas pelo considerável aumento na safra, e aquelas relacionadas ao setor extrativo, com destaque para o notável crescimento na produção de petróleo, especialmente na camada do pré-sal.
A Secretaria de Comércio Exterior (Secex) projeta um superávit de US$ 93 bilhões na balança comercial para o atual ano, resultado de exportações estimadas em US$ 334,2 bilhões e importações de US$ 241,1 bilhões.
Por outro lado, o Banco Central, em seu Relatório Trimestral de Inflação divulgado no final de setembro, apresentava projeções de superávit de US$ 68 bilhões para o ano de 2023 e de US$ 71 bilhões para 2024. Essas estimativas estão sujeitas a atualizações no próximo Relatório Trimestral de Inflação, que será divulgado em dezembro.
As previsões médias do mercado apontam superávits de US$ 76 bilhões em 2023, US$ 62,7 bilhões em 2024 e US$ 60 bilhões tanto em 2025 quanto em 2026, conforme indicado no Boletim Focus divulgado pelo Banco Central na última segunda-feira.
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