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Israel pede proteção a judeus após “pogrom” no Daguestão

Turba invadiu aeroporto de república do sul da Rússia em busca de passageiros judeus de voo proveniente de Israel. Líder judaico compara ataque à violência antissemita da era czarista russa. Publicado em 30/10/2023 – 10h00 DW — O governo israelense pediu à Rússia que tome medidas para garantir a proteção de judeus no país. O […]

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Ramazan Rashidov/ITAR-TASS/IMAGO

Turba invadiu aeroporto de república do sul da Rússia em busca de passageiros judeus de voo proveniente de Israel. Líder judaico compara ataque à violência antissemita da era czarista russa.

Publicado em 30/10/2023 – 10h00

DW — O governo israelense pediu à Rússia que tome medidas para garantir a proteção de judeus no país. O apelo ocorreu horas depois de uma turba agressiva de centenas de pessoas invadir a pista de um aeroporto na república russa do Daguestão em busca de passageiros judeus de um voo proveniente de Israel.

O episódio, ocorrido no domingo (29/10) no aeroporto de Makhatchkala, que fica numa região predominante muçulmana da Rússia, foi comparado por entidades judaicas a antigos pogroms – atos de violência e perseguição contra judeus que ocorriam frequentemente na era czarista russa.

Cerca de 60 pessoas foram presas quando as forças de segurança local finalmente intervieram. No dia anterior, uma multidão também havia se dirigido a um hotel da região em busca de hóspedes judeus.

“O Estado de Israel vê com preocupação as tentativas de prejudicar cidadãos israelenses e judeus em qualquer lugar”, disse o Ministério das Relações Exteriores após o episódio no Daguestão.

O gabinete do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse “esperar que as autoridades policiais russas garantam a segurança de todos os cidadãos israelenses e judeus, onde quer que estejam, e ajam com firmeza contra os desordeiros e contra o incitamento selvagem dirigido contra judeus e israelenses”.

Invasão de aeroporto

Segundo a imprensa russa, horas antes da chegada de um voo da companhia Red Wings que decolara de Tel Aviv, começaram a circular em canais de Telegram no Daguestão convocações para que pessoas se dirigissem ao aeroporto de Makhatchkala. Centenas de pessoas, algumas carregando bandeiras palestinas e gritando slogans antissemitas, entraram no saguão do aeroporto. Outras dezenas invadiram o pátio onde aeronaves estavam estacionadas. Um homem chegou a subir na asa do avião da Red Wings, que realizava uma escala em Makhatchkala antes de seguir para Moscou.

Um vídeo, registrado de dentro de um avião, mostra um tripulante anunciando aos passageiros: “Por favor, fiquem sentados e não tentem abrir a porta do avião. Há uma multidão enfurecida lá fora”.

Outro vídeo mostrou pessoas abordando passageiros no terminal e exigindo que elas mostrassem seus passaportes e perguntando se eram judias.

Um passageiro relatou que foi interrogado pela multidão e liberado após membros da turba afirmarem que “hoje não vamos tocar nos não-judeus”. A mesma cena se repetiu com motoristas que tentavam deixar o estacionamento do aeroporto.

No dia anterior, a região já havia sido palco de um episódio semelhante, segundo a imprensa local, quando outra aglomeração cercou um hotel na cidade de Khasavyurt após circularem rumores em redes sociais de que o local estava “cheio de judeus”. Assim como ocorreu no aeroporto, membros da turba interrogaram hóspedes e exigiram que eles mostrassem seus passaportes.

Agressores atiraram pedras nas janelas e uma placa com os dizeres “entrada estritamente proibida aos cidadãos de Israel… (judeus)” foi afixada na entrada do hotel. Não houve registro de israelenses feridos nos episódios.

“Estamos recebendo relatos de quatro cidades diferentes no Daguestão… de multidões exigindo a matança de judeus”, disse Pinchas Goldschmidt, ex-rabino-chefe de Moscou e atual presidente da Conferência dos Rabinos Europeus.

Ele ainda pediu apelou ao presidente russo, Vladimir Putin, para que ele “emita uma instrução resoluta contra quaisquer atos de violência e pogroms contra judeus” no país.

Ainda no domingo, a imprensa russa apontou que um centro judaico na República de Cabárdia-Balcária, outra república do Norte do Cáucaso, foi incendiado.

Autoridades judaicas russas afirmaram ainda que as forças policiais locais demoraram a agir nos episódios. Eventualmente, agentes de segurança intervieram para expulsar a turba do aeroporto. Segundo as autoridades russas, 60 pessoas foram presas e 150 participantes foram identificados. Pelo menos 20 pessoas ficaram feridas, incluindo nove policiais. O aeroporto só deverá reabrir a partir de terça-feira, segundo as autoridades de aviação russas.

O Daguestão é uma das 22 repúblicas que compõem a Federação Russa. Com 3,1 milhões de habitantes, a região é predominantemente habitada por praticantes do islamismo sunita. No final dos anos 1990, a região foi palco de uma guerra entre jihadistas e forças do governo russo. O conflito se espalhou para a vizinha República da Tchetchênia, também habitada por uma maioria muçulmana.

Os dois conflitos, que terminaram em vitória para Moscou, ajudaram o então novato primeiro-ministro, Vladimir Putin, a ganhar popularidade e consolidar seu poder. No entanto, nas décadas seguintes, a situação continuou tensa na região. Entre 2009 e 2017, forças de segurança conduziram diversas operações contra jihadistas.

Reação das autoridades russas

Recentemente, após a eclosão da nova guerra entre o grupo terrorista Hamas e Israel, autoridades locais do Daguestão expressaram solidariedade aos palestinos.

As autoridades russas reagiram de maneira dúbia ao episódio no Daguestão. Por um lado, condenaram a violência, mas também culparam “influência externa” pelo episódio, apontando o dedo para uma soposta interferência da Ucrânia, contra quem a Rússia trava uma guerra de agressão.

No domingo, após a invasão do aeroporto de Makhatchkala, Serguei Melikov, que comanda a república russa do Daguestão, disse que o episódio violou a lei e a ordem, mesmo que os daguestaneses “tenham empatia com o sofrimento das vítimas das ações de pessoas e políticos injustos e rezem pela paz na Palestina”. Segundo ele, os participantes serão punidos.

“Não há coragem em fazer parte de uma turba que espreita pessoas desarmadas que não fizeram nada proibido”, disse Melikov em uma mensagem no Telegram. Ele ainda afirmou que o episódio foi instigado “por falsificações espalhadas por nossos inimigos”.

O ministro da Informação da vizinha Tchetchênia, Akhmed Dudayev, também pediu calma diante das crescentes tensões na região. Segundo ele, ataques contra judeus “farão o jogo dos nossos inimigos, que provocam deliberadamente o mundo no contexto do conflito israelo-palestino”.

O grão-mufti do Daguestão, xeque Akhmad Afandi, também pediu que os habitantes da região evitem episódios como o registrado no aeroporto.

“Vocês estão enganados. Esta questão não pode ser resolvida desta forma. Entendemos e percebemos sua indignação de forma muito dolorosa… Vamos resolver essa questão de forma diferente. Não com protestos, mas de forma adequada. Máxima paciência e calma para vocês”, disse ele num vídeo publicado no Telegram.

Já o Kremlin culpou os ucranianos pela invasão do aeroporto. “É bem sabido e óbvio que os acontecimentos de ontem em torno do aeroporto de Makhatchkala são em grande parte o resultado de interferência, incluindo influência de informações”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.

Peskov disse que “malfeitores” usaram imagens do cerco israelense em Gaza para agitar as pessoas nas regiões predominantemente muçulmanas no norte do Cáucaso. Ele, no entanto, não especificou quem o Kremlin acreditava ter arquitetado a violência, ou por quê.

Mais tarde, o Ministério das Relações Exteriores da Rússia foi mais específico e acusou a Ucrânia de ter desempenhado um papel “chave” no episódio no Daguestão

Os confrontos foram “o resultado de uma provocação planejada e dirigida do exterior”, na qual Kiev desempenhou um papel “chave e direto”, disse a porta-voz do ministério, Maria Zakharova, em um comunicado divulgado nesta segunda.

O Kremlin também informou que Vladimir Putin abordará “as tentativas ocidentais de usar os acontecimentos no Oriente Médio para dividir a sociedade russa”, em uma reunião hoje à noite.

“O que aconteceu foi uma tentativa de semear a discórdia entre muçulmanos e judeus na Rússia, que mantêm boas relações de amizade e cooperação durante séculos”, declarou o patriarca Kirill, chefe da Igreja Ortodoxa russa e um ferrenho defensor de Putin, também em uma nota.

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