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Mônica de Bolle: O discurso de Lula na ONU

Foi um discurso verde, com tons de amarelo, e algumas pinceladas de azul. Da desigualdade à democracia, das mudanças climáticas à Amazônia, do multilateralismo ao nacionalismo, passando pelos trabalhos precários vinculados às indústrias de tecnologia, Lula conduziu a abertura da Assembleia Geral da ONU (UNGA) como um líder desse século. É difícil exagerar a importância […]

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(Foto: Ricardo Stuckert/PR)

Foi um discurso verde, com tons de amarelo, e algumas pinceladas de azul. Da desigualdade à democracia, das mudanças climáticas à Amazônia, do multilateralismo ao nacionalismo, passando pelos trabalhos precários vinculados às indústrias de tecnologia, Lula conduziu a abertura da Assembleia Geral da ONU (UNGA) como um líder desse século.

É difícil exagerar a importância da expressão “líder desse século” após termos sofrido os quatro anos de barbárie Bolsonarista e ao testemunhar o que se passa em vários cantos do mundo, sobretudo no país-sede da própria ONU. Não é preciso lembrar aos leitores dessa publicação que os Estados Unidos têm como candidato à presidência um homem que tentou subverter a democracia norte-americana.

Esbarrei sem querer em algumas análises que tentaram comparar o discurso de hoje com os anteriores proferidos por Lula na UNGA. Antes de mais nada, acho de extrema importância repôr o óbvio: o mundo de 2023 não é o de 2009.

Como é por meio da linguagem que nós damos conta do mundo tal qual conseguimos alcançá-lo, é nada razoável comparar discursos de épocas tão distintas. Não vou me estender mais sobre tal obviedade, mas achei importante pontuá-la devido a uma espécie de dever de ofício.

Para os padrões de 2023, a fala de Lula trouxe a moderação e o equilíbrio que têm andado tão ausentes. Isso não faz do Brasil uma espécie de ponte entre mundos pois o País não tem essa estatura geopolítica, infelizmente.

Se ambicionava tê-la no passado, tal oportunidade foi completamente desperdiçada por Bolsonaro durante os seus quatro anos de desgoverno.

Contudo, a modulação trazida por Lula é benéfica para as percepções do Brasil e não deixa de ser relevante para a necessária reconstrução de nossas relações externas. É bom para o Brasil ser visto como uma espécie de “honest broker” internacional ainda que lhe falte poder para articular acordos e para interferir em questões que fujam muito da alçada climática.

Nesse breve comentário, destaco uma fala que me chamou a atenção, até por ter escrito sobre o assunto nas Reflexões Semanais, divulgada todas as segundas apenas para os assinantes pagantes dessa Newsletter. Trata-se do trecho abaixo:

“Muitos sucumbiram à tentação de substituir um neoliberalismo falido por um nacionalismo primitivo, conservador, e autoritário”.

Os que já me acompanham há tempos sabem da implicância que tenho com o termo “neoliberalismo” e com as análises que costumam pulular no seu entorno, sobretudo no Brasil. Portanto, deixo-o de lado para dizer que o monismo predominante no pensamento econômico, especialmente no Brasil, tem nos levado ao retrocesso em vários cantos do planeta.

O caso mais visível é precisamente o do Brasil, onde em função de uma visão absolutista da economia na qual a “razão soberana e atemporal” impera fomos entregues a Bolsonaro e Paulo Guedes, o ex-Ministro que jamais saiu dos anos 70.

Não foi por acaso que o Estado Mínimo concebido por Robert Nozick e Milton Friedman renasceu no Brasil Guediano, entorpecido pela exaltação do indivíduo e de sua “liberdades”. Primitivismo, conservadorismo, autoritarismo foram alguns dos “ismos” resultantes do discurso monista-econômico que desafortunadamente não está prestes a se esgotar.

Lula acertou ao falar sobre a insegurança que aflige os trabalhadores que labutam nos novos setores tecnológicos. Vale ler sobre as condições de trabalho dos anotadores de dados e outros seres humanos que permanecem de nós escondidos na caixa preta das empresas que nos fornecem mais e mais modelos de inteligência artificial. Sem que possamos avaliar o tamanho dessa massa de trabalhadores em razão da ausência de dados estão sendo criadas novas formas de desigualdade que fatalmente resultarão em novos problemas sociopolíticos.

Enfim, a fala oportuna de Lula hoje certamente ajudará seu governo a atrair recursos para os primeiros títulos verdes emitidos pelo País. Estão em NY a Ministra Marina Silva e o Ministro Fernando Haddad. Em breve escreverei algumas linhas sobre essa visita.

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Comentários

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Paulo

19/09/2023 - 23h06

As “liberdades” devem ser preservadas, mas, sobretudo, no campo da opinião, a qualquer custo. No entanto, em matéria econômica, o Brasil deve se preservar o direito ao dissenso nas ciências econômicas, caminhando, sempre, para o pragmatismo. Deixemos o dogmatismo para os que falam em nome dos países desenvolvidos, fingindo que acreditamos…


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