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A guinada progressista da classe média e as chances de Boulos em SP

Os dados estratificados da última pesquisa Datafolha, realizada nos dias 29 e 30 de agosto entre eleitores da maior cidade do país, oferecem excelentes sinalizações para toda a esquerda.  O tamanho, a diversidade e a conectividade intensa de São Paulo nos permitem extrapolar a análise para além do município. Com mais de 9 milhões de […]

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Os dados estratificados da última pesquisa Datafolha, realizada nos dias 29 e 30 de agosto entre eleitores da maior cidade do país, oferecem excelentes sinalizações para toda a esquerda. 

O tamanho, a diversidade e a conectividade intensa de São Paulo nos permitem extrapolar a análise para além do município. Com mais de 9 milhões de eleitores, o que acontece hoje na capital paulista reflete em boa parte o que ocorre em todo país.

Os números básicos já são conhecidos, mas lembramos aqui: Lula tem 45% de ótimo e bom em São Paulo, capital, contra 25% de ruim e péssimo. É um desempenho expressivamente superior ao do governador Tarcísio Freitas, aprovado por 30% e rejeitado por 27%.

Quando mergulhamos mais fundo nos detalhes da pesquisa, nas avaliações por faixa de renda, escolaridade, sexo, cor e religião, é que encontramos as notícias mais alvissareiras para o campo progressista. 

Um primeiro dado impressionante é a força do PT na cidade. A legenda, que já administrou a cidade por três vezes (Erundina, Marta e Haddad), pode contar, segundo o Datafolha, com o voto de ao menos 30% dos eleitores paulistanos. Este é o percentual que, na pesquisa, disse se identificar com o partido.

Em alguns segmentos estratégicos, como entre eleitores com idade entre 35 e 44 anos, um período de vida particularmente produtivo para qualquer um, o PT chega a pontuar 35% de preferência.

Entre os menos instruídos, com até o ensino fundamental, o PT marcou 39%, percentual que permanece alto entre aqueles com ensino médio, 31%.

Na divisão por renda, o PT também vai bem em todas as faixas, sobretudo nas duas mais importantes, aquelas com renda abaixo de 5 salários, onde ele mantém acima de 30% de preferência.

Vale destacar que o PT, apesar de perder preferência na classe média mais abastada, com renda acima de 5 salários (21%), e entre aqueles com ensino superior (também 21%), está muito acima do segundo lugar, ocupado pelo PL, que tem 4% e 5%, respectivamente, nesses dois segmentos.

Olhando para a avaliação do governo Lula, chama atenção o excelente desempenho de Lula entre os paulistanos mais pobres e menos instruídos. Na faixa de eleitores com escolaridade até o ensino fundamental, que representa 21% do eleitorado no município, o governo Lula tem aprovação positiva de 57%.

Observe que estamos falando aqui de aprovação de governo, e não do desempenho pessoal. A avaliação positiva é caracterizada pelas notas ótimo ou bom, enquanto a negativa, ruim e péssimo. Mas sempre há um grande número de nota regular, que se transfere para aprovação do desempenho do presidente, quando só há duas opções (aprova ou desaprova).

Entretanto, também entre os eleitores com ensino médio, que correspondem a maior parcela do eleitorado paulistano, ou 49%, o governo Lula tem excelente avaliação, com 42% de positivo.

Um dos aspectos mais notáveis dessa pesquisa, porém, é a recuperação do prestígio de Lula junto à classe média paulistana (o que poderíamos extrapolar para a classe média de todo o país): segundo o Datafolha, o governo Lula tem avaliação positiva acima de 40% em todas as faixas de renda, e em todos níveis de escolaridade, inclusive entre os mais ricos e mais instruídos.

Entre os mais pobres, com renda familiar até 2 salários, o governo Lula tem quase 50% de ótimo e bom (47% para ser exato).

Também é bastante promissor, para a Lula e para toda a esquerda, a boa pontuação do governo Lula entre evangélicos paulistanos, que chegou a 43%, não muito diferente daquela verificada entre católicos, 46%.

Entre eleitores paulistanos que se autoidentificam como pretos, a administração petista é bem avaliada por incríveis 54% (contra apenas 16% de nota negativa).

Para efeito de comparação, o governo Tarcísio Freitas, tem apenas 29% de aprovação entre paulistanos pretos, e 32% de rejeição.

O Datafolha também pesquisou as intenções de voto dos paulistanos para as eleições municipais em 2024, e novamente há sinais promissores para o campo progressista.

O melhor deles, naturalmente, é a liderança quase isolada de Guilherme Boulos (PSOL), com 32% da preferência dos 1.092 entrevistados pelo Datafolha. O atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB), que está recebendo apoio do ex-presidente Bolsonaro, pontuou 24%.

Outra boa notícia, para a esquerda em geral, mas especialmente para Boulos, é o desempenho de Tábata Amaral, com 11%. Apesar dos atritos entre a deputada do PSB e setores da militância petista, os eleitores de Tábata devem migrar em massa para Boulos num eventual segundo turno.

Kim Kataguiri, do União Brasil, pontuou 8%, o que é também um número notável: o eleitorado de Kim, por sua vez, é mais identificado com a direita, e deve se transferir para Nunes.

Os números estratificados mostram que Boulos ainda tem espaço para crescer. O deputado federal do PSOL lidera nas faixas de renda mais abastadas, mas perde na mais importante, com renda familiar até 2 salários, que corresponde a 40% do eleitorado paulistano: nessa faixa, Boulos tem 23%, contra 29% de Nunes.

Como o governo Lula tem 47% de ótimo e bom justamente nessa faixa, é possível que o candidato apoiado por ele herde uma parte desses eleitores.

Chama atenção, por outro lado, a excelente desempenho de Boulos entre os eleitores mais instruídos, com ensino superior, entre os quais ele pontua 44%, muito isolado dos outros candidatos (o segundo lugar, Nunes, tem 18% nessa faixa).

Mas Boulos lidera entre o eleitorado com ensino médio, com 27%. Na verdade, está empatado tecnicamente com Nunes, que tem 25%.

Outro ponto importante para Boulos é que sua rejeição se mantém abaixo de 30%, e mesmo entre os setores mais abastados de São Paulo, geralmente mais conservadores, ele não vai além de 40%. Entre eleitores com renda entre 5 e 10 salários, a rejeição a Boulos vai a 37%; o seu principal oponente, o prefeito Ricardo Nunes não tem desempenho muito melhor nessa faixa, com 35% de rejeição.

Conclusão

A melhora da economia e a normalização institucional do país parecem ter desintoxicado o ambiente político.

Os números do Datafolha sinalizam despolarização ideológica, abrindo espaço para um processo eleitoral mais propositivo. Tanto Boulos quanto Nunes podem se beneficiar dessa tendência.

No caso de Boulos, ele tem um eleitorado próprio, o que sempre facilita muito o processo de transferência de votos de uma liderança para outra. Seu maior desafio será conquistar o voto do eleitor pobre, da periferia, que votou em Lula.

Clique aqui para baixar a íntegra da pesquisa Datafolha, de setembro de 2023. 

E aqui para baixar o relatório de avaliação dos governos na cidade de São Paulo, também do Datafolha e também de setembro de 2023. 

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Ligeiro

06/09/2023 - 17h16

Torço muito por um efeito positivo se Boulos concorrer e entrar como prefeito em São Paulo.

Acho que uma das melhores formas de observar esta mudança é ater-se a ações sociais na cidade. Creio que se houver um ativismo positivo e que mude a cidade, e que tenha o apoio do Boulos, ele ganha a capital paulista.

O mal é que o PSOL, salvo engano, não tem força similar em cidades na Região Metropolitana. O perigo seria Boulos ser o único político progressista em uma metrópole com satélites “de direita” (pois muitas cidades como Santo André e Itapevi tem votado em políticos de direita e nada progressistas nos últimos tempos e infelizmente).


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