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Comentários sobre Datafolha e Quaest

Duas pesquisas importantes sobre aprovação do governo foram publicadas recentemente. A última foi a Quaest, com entrevistas realizadas entre os dias 15 de 18 de junho. O Datafolha entrevistou eleitores de 12 a 14 de junho. Ambas abordaram presencialmente um pouco mais de 2 mil pessoas e, portanto, apresentam margens de erro semelhantes, de 2 […]

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Encontro com o Presidente da República de Cuba, Senhor Miguel Díaz-Canel Bermúdez, em Paris, dia 22 de junho de 2023. Foto de Ricardo Stuckert.

Duas pesquisas importantes sobre aprovação do governo foram publicadas recentemente. A última foi a Quaest, com entrevistas realizadas entre os dias 15 de 18 de junho. O Datafolha entrevistou eleitores de 12 a 14 de junho. Ambas abordaram presencialmente um pouco mais de 2 mil pessoas e, portanto, apresentam margens de erro semelhantes, de 2 pontos.

Os relatórios completos de ambas podem ser acessados aqui: Datafolha, Quaest.

Separei alguns gráficos para comentarmos. Comecemos pela mais recente, a Quaest.

No corte por renda, temos um Lula ainda muito prestigiado entre os eleitores de baixa renda, mas ganhando forte tração junto à classe média.

O CEO da Quaest, Felipe Nunes, nos concedeu entrevista ontem, e destacou que essa pesquisa traz números mais sólidos do que as anteriores, porque o eleitor agora teve mais tempo para formar uma opinião sobre o novo governo. Tanto é que o número de indecisos, que era de 16% em fevereiro, e 6% em abril, agora caiu para apenas 4%.

Esse crescimento junto à classe média é naturalmente muito importante para o fortalecimento político do governo, porque é a classe média que domina as redes sociais. Sem apoio dela, o governo ficaria mais vulnerável aos ataques do bolsonarismo.

O corte por escolaridade confirma o que vimos nos gráficos de renda, e o raciocínio é o mesmo. Na verdade, ambos sinalizam que o maior desafio do governo ainda permanece ampliar o seu prestígio junto às camadas de renda média e maior escolaridade. De qualquer forma, é notável que Lula tenha crescendo vigorosamente junto a eleitores com todos os níveis de instrução. O eleitor mais instruído, com ensino superior incompleto ou mais, ainda é, porém, o segmento onde o petista enfrenta mais dificuldades. A lição a tirar desse gráfico, portanto, é muito simples: investir mais nesse tipo de eleitor.

Como fazer isso?

Uma dica pode ser encontrada em outra parte da pesquisa, que apurou junto aos entrevistados qual seu principal meio de informação sobre política.

Nota-se uma diferença grande entre os eleitores de Lula e Bolsonaro. A maior parte dos eleitores de Bolsonaro, ou 37%, afirmaram que se informam por redes sociais. Isso explicaria a inércia do bolsonarismo, pois as redes constituem ambientes fechados, circulares, onde é mais difícil para o eleitor encontrar uma opinião diferente daquela que ele já tem.  Outros 15% dos eleitores de Bolsonaro tem preferência por blogs e sites para se informarem sobre política.

O eleitor de Lula, por sua vez, informa-se majoritariamente (47%) pela televisão, com 22% dizendo que preferem redes sociais e 9% blogs e sites.

Se me permitem vender o nosso peixe, a lição aqui para o campo progressista é investir mais em blogs, sites e portais.

Agora alguns comentários sobre a pesquisa Datafolha.

Os números gerais já são conhecidos. O Datafolha não apurou – ou não divulgou – os dados de aprovação / desaprovação. Podemos ver apenas as notas, de ótimo/bom, regular e ruim/péssimo. A aprovação ao governo Lula, naturalmente, é associada a quem dá nota ótimo/bom, e a rejeição a quem o qualifica de ruim/péssimo.

O Datafolha trouxe uma novidade: perguntou aos entrevistados se eles se consideram mais petistas ou bolsonaristas. Eles deveriam escolher números de 1 a 5, sendo 1 totalmente bolsonarista e 5 totalmente petista. O número 2, portanto, é associado mais a Bolsonaro e o 4, mais a Lula. O 3 é considerado neutro.

Diante do radicalismo de Bolsonaro e de seu núcleo, porém, eu diria que a opção pelo 3, nas atuais circunstâncias, é mais vantajosa para o PT e para a esquerda do que para a direita.

Vamos aos gráficos.

No total, vemos uma vantagem relativa do petismo, preferido por 38% da população, contra 32% para o bolsonarismo.

Importante ressaltar, todavia, que esses percentuais naturalmente ainda refletem as preferências eleitorais.

No corte por renda, os números sinalizam que o bolsonarismo hoje fincou raízes profundas também entre as camadas populares, já que 27% admitiram ser mais “bolsonaristas”. O petismo, por outro lado, tem uma força popular impressionante, pois 47% responderam se identificar com o PT.

O que ainda é preocupante para o governo Lula é a força de Bolsonaro nas classes médias, onde o bolsonarismo supera o petismo.

No corte por ocupação, chama atenção a força do bolsonarismo entre eleitores que se identificaram como “empresários”: 64% se qualificaram como bolsonaristas, contra 15% que disseram preferir o PT. Esse segmento, todavia, corresponde a apenas 2% dos entrevistados e da população.

O petismo é forte, por outro lado, em setores muito expressivos do eleitorado, como servidores públicos (49%), assalariado informal (38%), autônomos e profissionais liberais (40%), estudantes (40%) e donas de casa (44%).

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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