Silvinei Vasques, ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF), foi a primeira pessoa a prestar depoimento na CPI do 8 de Janeiro. Segundo O GLOBO, durante a sessão desta terça-feira (20), ele foi acusado de proferir mentiras e teve seu pedido de prisão feito. Conforme estabelecido no Código Penal, é possível deter em flagrante os depoentes que fornecem falsos testemunhos em comissões de inquérito.
Acompanhado por dois advogados e com o apoio dos senadores e deputados da oposição, Vasques fez correções em algumas de suas afirmações, porém negou ter mentido. O presidente da CPI, deputado Arthur Maia (União-BA), concluiu que não existiam bases suficientes para ordenar sua prisão.
Veja as vezes que Silvinei foi acusado de mentir:
OPERAÇÕES DA PRF NO NORDESTE
Durante o segundo turno das eleições de 2022, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) conduziu fiscalizações em 2 mil ônibus na região Nordeste e 571 ônibus na região Sudeste. A especificidade dessas blitzes em estradas localizadas nos estados nordestinos levantou suspeitas que levaram a Polícia Federal a iniciar uma investigação para verificar se tais bloqueios tinham motivações políticas, com o objetivo de restringir a circulação de eleitores, principalmente do presidente Lula.
“O que se falou muito é que a PRF, no segundo turno da eleição, direcionou a sua fiscalização para o Nordeste brasileiro. Isso não é verdade, porque o Nordeste brasileiro é o local em que nós temos nove estados, nove superintendências. Temos a maior estrutura da PRF no Brasil (…) Nos estados do Nordeste também se encontra hoje lotado, há muito tempo, o maior efetivo da instituição”, disse Vasques.
A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) contestou essa afirmação e apresentou dados fornecidos pela atual administração da Polícia Rodoviária Federal (PRF):
“Não é verdade, dr. Silvinei. O seu maior efetivo está no Sudeste. Eu peguei o quadro aqui, eu mesma somei. O efetivo está maior no Sudeste, não está no Nordeste. Isso não é verdade. O quadro está aqui, eu posso lhe repassar. (…) Portanto, os seus dados não são verdadeiros”, desmentiu a deputada.
Processos administrativos
Durante o interrogatório conduzido pela relatora da CPI, Eliziane Gama, o ex-diretor da PRF declarou que não tinha conhecimento de “nenhum” processo administrativo que tivesse enfrentado na corporação. Especificamente, ele mencionou que não tinha conhecimento de oito sindicâncias abertas contra ele, as quais foram mantidas em sigilo durante o governo Bolsonaro.
“Eu nunca fui notificado de nenhum processo administrativo pela PRF”, disse em primeiro momento, depois acrescentou: “Os processos, que já estão encerrados, naturalmente eu respondia. No entendimento que eu tinha é que ela [Eliziane] estava falando de novos processos. Ocorre que a relatora não perguntou sobre “novos processos”
O presidente da CPI considerou o incidente como um “erro de comunicação” e decidiu não tomar a medida mais severa, que seria a prisão do depoente por falso testemunho.
Emprego em fornecedora da PRF
Durante a sessão, Vasques também foi acusado de mentir ao afirmar que nunca foi contratado pela empresa Combat Armor. Durante o período em que ele ocupou o cargo, a empresa foi contratada para fornecer veículos blindados à corporação em um acordo no valor de mais de R$ 36 milhões. Esse contrato está sendo investigado pelo Ministério Público Federal.
“Estou desde o dia que me aposentei procurando emprego. Estive nessa empresa, estive em mais de dez empresas. Estou à procura de emprego, à disposição, ainda não consegui. As que quiseram me dar emprego não atenderam às minhas expectativas, mas assim que eu tiver uma oportunidade, com certeza, vou trabalhar”
O deputado Rogério Correia (PT-MG) confrontou o ex-diretor, dizendo ter evidências de que ele havia trabalhado para a empresa. De acordo com o deputado, Vasques teria residido em Indaiatuba (SP) por dois meses, cidade onde a sede da Combat Armor está localizada. O deputado também questionou Vasques sobre a existência de um cartão de visitas que o apresentava como “vice-presidente” da empresa.
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