Não é de hoje que ando cobrindo o que pode ser o prenúncio de uma crise entre a cúpula das forças armadas e a base das forças e em mais um capítulo dessa escalada, recebi de um militar da reserva o seguinte manifesto que trás ponderações importantes sobre o clima entre reservistas, militares da ativa e a cúpula.
Segue o texto abaixo:
A incerteza é inerente à política. Por mais oportunidades que tenhamos, é preciso saber escolher o momento adequado, de acordo com as relações de força, para dar um passo à frente, interpretando sempre a ocasião, como dizia Maquiavel.
Dentro das Forças Armadas, os regulamentos e códigos sempre foram pautados pelo princípio do “totalitarismo”, onde o subordinado não tem espaço próprio. Vivemos como em um campo de concentração, comprimidos uns contra os outros. Digo isso com propriedade, pois foi praticamente o que o PL 1645 fez na época contra graduados, dependentes e pensionistas.
O pior momento foi quando ouvi do deputado federal General Peternellli, sugerindo que estávamos querendo prejudicar os militares da ativa. Na verdade, isso partiu deles, quando sugeriram que o projeto era pautado na meritocracia.
Mas como falar em uma meritocracia futurista e esquecer ou jogar no lixo o mérito passado tão próximo, principalmente a categoria que ficou mais prejudicada, ou seja, os militares da lacuna entre 2001 e 2019? É um pensamento maquiavélico, pautado no seguinte pensamento: dividir para conquistar. Em princípio, conseguiram tal façanha no governo Bolsonaro, onde até hoje grande parcela dos graduados da ativa pensam que estão seguros e soberanos. Porém, uma grande parte já começou a sentir a covardia na própria pele.
Vejam os exemplos dos suboficiais fuzileiros sendo submetidos ao TAF e sendo filmados. Acharia justo se todos fossem submetidos, principalmente os oficiais, para dar o exemplo de liderança, mas…
Outro grande e recente exemplo é o plano de carreira de praças. A Marinha aumentando o interstício a todo momento, coisa que dificilmente se observa na carreira de oficiais. O que dizer então da diferenciação no atendimento médico nos órgãos administrativos das FA? Sabendo que isso vai sim afetar a carreira dos praças de forma financeira, moral, emocional e também na vida de seus dependentes e posteriormente suas esposas no caso de se tornarem pensionistas. A transparência deve ser uma constante, coisa que não foi feita durante a tramitação do projeto chamado de “reestruturação de carreira dos militares”, onde até o seu relator (conforme suas próprias palavras) foi escolhido a dedo pelas autoridades militares.
A vida privada de um general não pode ser mais importante que a vida de um soldado, por exemplo. Vida é vida, as doenças são iguais para todos, a morte é igual para todos. Qual o motivo que justifica o tratamento diferenciado e muito diferenciado? Claro que não falo que um soldado deva receber o soldo de um general, porém seus percentuais de gratificações deveriam ser iguais. Tanto o General quanto o Soldado erguem a mesma farda, representam a instituição a qual servem, levam o nome da instituição onde quer que estejam e por que só um faz jus? E o que falar do Adicional de Disponibilidade? Defendo que deveria ser igual para todos, pois disponibilidade não é sinônimo de tempo de serviço. Todos estão a disposição da instituição e da Pátria. O militar é militar 24 horas do dia. Pode ser convocado a qualquer momento, pode entrar de prontidão a qualquer hora, e isso está sempre acima de seus problemas e compromissos pessoais.
Portanto, temos que lutar contra essas diferenças, exigir sim que sejamos tratados com dignidade e respeito. Penso que se tivéssemos dado continuidade ao que JOÃO CÂNDIDO plantou no século passado, estaríamos vivendo com mais dignidade e respeito. Lembro as “autoridades” que a metragem de uma cova, quando tudo acaba nesta vida, não existem prerrogativas de metragem superiores, todos irão possuir o mesmo diâmetro e profundidade e se tornarão pó.
Não podemos recuar um passo. Graduados, pensionistas e dependentes, lutem por seus direitos e principalmente por respeito e honra, pois somos todos seres humanos, portanto somos todos iguais.
Texto escrito pelo Suboficial das Sub Oficial e fuzileiro naval da reserva, Wagner Coelho.
Gilmar Antunes
12/04/2023 - 09h40
É muito provável que os oficiais da ativa no comando das FFAA conheçam o autor da opinião de um Sub Oficial da reserva.
Mas, por via das dúvidas, seria melhor preservar a fonte dessa opinião.
Fabio maia
11/04/2023 - 20h34
Apaga o nome do cara. Preserve a fonte mesmo que dele mesmo