Essa matéria da Folha, publicada pela madrugada e reproduzida ao final do post, é estarrecedora. E divertida ao mesmo tempo. Se for verdade, Eduardo Campos se tornou o maior banana da história política brasileira.
Seu título, no entanto, não bate com o teor da reportagem, segundo o qual se conclui que Marina não apenas dominou a cúpula do PSB, ao ponto de mandar “despublicar” artigo do principal pensador de esquerda da legenda e seu vice-presidente, Roberto Amaral, do site oficial do partido, como está começando a dar as cartas em todas as alianças regionais do PSB. Em Goiás, ela já expulsou, via jornais, um aliado que Campos vinha namorando há meses, Ronaldo Caiado.
Sobre Caiado, há uma certa confusão sobre o que aconteceu.
A maioria dos aficionados em política pensa o quadro eleitoral apenas ideologicamente: “Caiado é um latifundiário cafajeste, de direita, então Marina mandou bem em afastá-lo”. Não é bem assim.
Campos havia construído, pessoalmente, uma rede de relações em Goiás. Vários políticos tradicionais do estado migraram para o PSB. Uns bons, outros ruins, outros piores. Definiu-se, mais ou menos, os candidatos ao senado, a deputados, a governador. Maioria era de direita, o que eu acho errado, mas esse era o caminho que Campos vinha seguindo. Setores políticos importantes de Goiás fecharam estratégias em virtude do pacto firmado com o presidente do PSB. Diante desses pactos, estes segmentos definiram suas estratégias, todas dependentes dos prazos eleitorais.
Quando Marina dá uma entrevista desancando Caiado, e Campos em seguida reage pusilanimamente, negando os acordos que costurou durante meses, ele rasgou a sua própria palavra firmada com muita gente no estado e no agronegócio em geral.
Eu acho que Campos errou em se aliar à direita. Deveria ter aprofundado os laços com os partidos de esquerda, como queria Roberto Amaral. Tinha cacife para isso. A moral de Campos junto à Lula era tão grande, que o ex-presidente – se não me engano – já havia mencionado a hipótese do PT fugir ao desgaste natural que deve acontecer em 2018, e apoiar um candidato de outro partido.
A partir do momento em que ele – Campos – construiu alianças, é ridículo que ele derrube tudo em prol de uma jogada midiática com Marina Silva. Isso é demonstração de imaturidade política.
Vou falar uma coisa que talvez lhes confundam: acho que Marina está certa. De fato, seria mais inteligente, para a candidatura presidencial de Campos / Marina, que houvesse “fatos novos” em cada estado, sobretudo no Sudeste. Gente com mídia, gente “do bem”, tipo Walter Feldman em São Paulo e Gabeira no Rio (se Gabeira fosse do PSB e não tivesse trocado a podridão da política pelos ares vaticanos da Globonews).
Só que, ao fazer isso, Campos não apenas vai se desmoralizar perante às suas regionais, caracterizadas por um pragmatismo obstinado; ele vai carimbar em si mesmo, nos meios políticos, a imagem de um líder fraco e desleal, obcecado com sua própria carreira em detrimento de seus correligionários.
Marina, por sua vez, parece tomada por uma espécie de loucura messiânica. Ela tem convicção dos loucos, o que não deixa de ser tocante, embora sinistro. Sejamos generosos, e vamos lhe dar o benefício da dúvida. Digamos que ela tem chances de ganhar em 2014.
Ok, só que ela pode também não ganhar.
A ex-ministra está tentando levar Campos para uma aposta de tudo ou nada. Perdendo as eleições em 2014, o PSB vai acordar para a realidade, e se deparará com um cenário de pesadelo. Nem adianta a dupla Campos / Marina ter outra vez 20 milhões de votos, ou mesmo o dobro disso. Terminada a eleição, todo mundo volta à terra firme, onde o que vale são vitórias concretas, majoritárias. Que partido terá crescido efetivamente em número de cargos no executivo e no legislativo? Que partido integrará as coligações vencedoras? Terminada a eleição, Marina pode voltar a dar palestras e talvez abrir uma nova ONG. E Campos, vai fazer o que da vida?
Também acho que Marina está certa quando tenta convencer Campos a não apoiar a reeleição de Alckmin e lançar Walter Feldman. Marina é inteligente o bastante para saber o estrago que uma aliança do PSB, que agora é seu partido, com Geraldo Alckmin, poderia trazer à sua imagem de santa maria da política.
Só que o mais inteligente, o fato novo, para Campos, seria se unir a Padilha, pré-candidato do PT ao Palácio dos Bandeirantes, usando isso para ganhar secretarias importantes em São Paulo e crescer em número de prefeitos e parlamentares. A chegada de Marina sepultou essa hipótese.
Ao lançar Feldman, o PSB aposta numa tática de nanico. Vai ficar chupando o dedo, sem espaço em nenhum governo, hostilizado por PSDB e PT e os aliados de cada um. O resultado pode ser declínio e isolamento, tornando-se um novo PPS, uma legenda sem crédito e de lideranças amarguradas.
Acho ótimo romper com o PSDB paulista, mas a construção de alianças, de um lado, e rupturas, de outra, tem de nascer de um processo político que inclua um mínimo de debate. Deixar que Marina, mal chegada no partido, exerça o controle absoluto de tudo, dá a entender que a legenda admite ter sido sempre incompetente. E agora continua incompetente, só que volúvel e infiel.
Campos governa em Pernambuco aliado a 14 partidos. Indagada por este fato, Marina saiu-se com esta: se fossem alianças fisiológicas, Campos não teria tanta popularidade? Ora, Lula não foi o presidente mais popular? E não é isso que todo político fala quando distribui cargo a um aliado? Que o faz porque acredita em sua capacidade?
Campos está agindo igualzinho a Páris, o jovem e irresponsável príncipe de Troia, que se apaixona por Helena, esposa do rei de Esparta, Menelau, irmão do homem mais poderoso da Grécia, Agamenon.
Assim como Páris se deixou envolver pelos cachos dourados de Helena, Campos hipnotizou-se pelos chales midiáticos da ex-ministra.
Só que Páris, ao fazer isso, acabou sacrificando todo seu povo. Os gregos aguardavam um motivo qualquer para fazer guerra contra Príamo, rei de Troia, e assumir o controle da principal ligação entre Ocidente e Ásia, e este motivo apareceu.
A linda e corajosa Troia foi apagada do mapa.
Terá o PSB o mesmo destino?
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04/11/2013 – 03h22
Estratégia regional afasta Campos e Marina
NATUZA NERY E RANIER BRAGON, NA FOLHA
DE BRASÍLIA
Apesar do discurso público de sintonia, o governador Eduardo Campos (PSB-PE) e a ex-senadora Marina Silva divergiram a portas fechadas sobre a estratégia regional da aliança, selada há um mês.
A discordância ocorreu em um encontro há uma semana, véspera do ato em que PSB e Rede Sustentabilidade, o partido de Marina, começaram a discutir as bases para construir um programa único das duas forças políticas.
De acordo com relato feitos à Folha por participantes da reunião, realizada na casa do deputado federal Walter Feldman, em São Paulo, a ex-senadora defendeu que PSB e Rede lançassem candidatos próprios e com capacidade de gerar “fato novo” em Estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.
Campos, porém, lembrou que o PSB já vinha articulando outros caminhos nesses Estados, e que não tinha condições políticas de passar por cima de seus acordos.
Segundo relatos, Campos disse a Marina que o havia encontrado “vivo” após não conseguir montar a Rede a tempo de disputar a eleição porque ele tem aliados fiéis.
Alguns dos presentes relataram à Folha que a ex-senadora disse compreender as razões do neoaliado. Ambos, então, combinaram deixar a definição sobre candidaturas nos Estados para 2014.
O principal foco de divergência diz respeito a São Paulo, onde o deputado federal Márcio França (PSB), um dos escudeiros de Campos, trabalha para que a legenda mantenha o apoio à reeleição do governador Geraldo Alckmin (PSDB) e, assim, ele assuma a vaga de vice na chapa.
Apesar da reação firme à proposta feita por Marina no encontro, Campos não descartou a possibilidade de mudar de rota eventualmente.
A interlocutores, ele tem dito que pode precisar de França para coordenar sua campanha presidencial e diz que uma candidatura a vice no Estado, como é cogitado, o tiraria do foco nacional.
Internamente, Marina tem defendido o nome de Feldman, um de seus principais aliados na montagem da Rede, como candidato em São Paulo, o que não agrada ao outro lado da aliança.
A defesa de Marina por “fatos novos” nas candidaturas regionais tem como embrião o encontro em que ela e Campos selaram a aliança.
Na conversa decisiva, os dois acertaram, segundo aliados da ex-senadora, trabalhar para ter candidatos próprios. Como a Folha mostrou no último dia 18, porém, até agora só em Goiás o PSB alterou a rota que trilhava.
Otrebor Roberto
05/11/2013 - 00h38
Muita gente em PE vê com perplexidade a posição que Campos tomou, eu mesmo (em que pese não nutrir simpatias por ele) achava que o caminho mais óbvio dele e seguro seria sair como candidato a senador por PE apoiando o governo federal e que lá pra 2017-18 é que se lançaria candidato etc.
Politicamente ele tá queimado, principalmente em PE onde a base que apoiava ele vai votar em peso em Dilma, só sobrando a ele o abraço da direita tradicional que nunca gostou dele. A descrição da Marina Silva no texto é exatamente a imagem que tenho dela, é uma lunática messiânica obsessiva que acha que está numa “missão” e que ela é a “escolhida” dos céus pra “salvar” o país, fora a megalomania desmedida dela. É um ser bizarro (eu já não gostava dela mesmo no PT como não gosto de toda essa ala religiosa na esquerda). Religioso tende ao moralismo/udenismo quando vai ficando frustrado (vide o Arruda Sampaio, Hélio Bicudo, Heloisa Helena, Marina Silva etc).