Uma pesquisa eleitoral reflete, antes de tudo, um momento da luta de classes.
No caso da Quaest divulgada hoje, entre eleitores de Minas Gerais, isso fica bem claro.
A força de Bolsonaro em Minas, assim como em todo país, é muito concentrada nos extratos sociais de maior renda.
Entre os mais pobres, Bolsonaro até cresceu, mas a liderança de Lula ainda é absoluta.
Em Minas Gerais, Lula tem 62% dos votos válidos entre famílias de baixa renda.
A luta de classes no Brasil, um dos países mais desiguais do mundo, se expressa claramente no processo eleitoral. Os pobres votam em Lula. Os ricos, em Bolsonaro.
A questão religiosa tornou-se igualmente um fator relevante no cenário político nacional, embora provalvelmente associada também à luta de classes. O núcleo do eleitorado bolsonarista, neste sentido, parece ser, cada vez mais, uma classe média evangélica.
Entretanto, é preciso sempre lembrar que a maioria do eleitorado é católico, onde Lula ainda tem muitos mais votos que Bolsonaro.
Em Minas Gerais, por exemplo, os católicos correspondem a 66% do eleitorado. E Lula, segundo a Quaest, tem 55% dos votos válidos católicos, 20 pontos acima de Bolsonaro.
É preciso tomar cuidado com as reações psicológicas confusas diante das oscilações dos principais candidatos nas pesquisas.
Por exemplo, seria ilógico afirmar que a pesquisa Quaest em Minas Gerais traz números ruins para o ex-presidente Lula.
Lula tem 51% dos votos válidos em Minas Gerais no primeiro turno, 10 pontos acima de Bolsonaro. É uma vantagem expressiva.
Em votos totais, Lula tem 42% em Minas, 9 pontos a frente de Bolsonaro, que subiu para 33%.
Embora seja compreensível que os apoiadores de Lula se preocupem com a recuperação de Bolsonaro no estado, é muito importante não se esquecer que a liderança isolada ainda é do ex-presidente.
Num eventual segundo turno, uma maioria de 57% de eleitores mineiros (em votos válidos) votaria em Lula, contra 43% em Bolsonaro.
Seria saudável combater esse curioso efeito psicológico, típico da esquerda, que é uma espécie de cegueira cognitiva para a sua própria força.
Reitero, portanto:
- Lula é o candidato mais forte em Minas Gerais. Não faz sentido algum reclamar por ter 51% dos votos válidos no primeiro turno e quase 60% no segundo. Se dependesse do eleitor mineiro, as chances do petista vencer no primeirno turno seriam grandes.
- Lula chega a 62% entre famílias mineiras com renda até 2 salários, no primeiro turno. Mesmo que o Auxílio Brasil tenha influenciado a cabeça de alguns eleitores de baixa renda, a hegemonia de Lula entre os mais pobres ainda é impressionante em Minas Gerais.
- Lula tem 55% dos votos válidos entre católicos mineiros, no primeiro turno. E quase 70% dos mineiros são católicos. A máquina bolsonarista evangélica pode muito, mas não pode tudo, pelo simples fato de que Minas Gerais ainda é um estado de forte maioria católica.
Há outros números na pesquisa que também devem ser examinados com otimismo. Um deles é a força do apoio do ex-presidente Lula na disputa para o governo de Minas Gerais.
Segundo a Quaest, o ex-prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil teria 33% das intenções de voto quando o eleitor é informado do apoio de Lula, liderando a pesquisa. Os apoios de candidatos presidenciais a Zema e a Carlos Viana fazem-nos ter 23% e 19%, respectivamente.
A Quaest também perguntou ao eleitor mineiro o que lhe dá mais medo nas eleições deste ano. A maioria dos mineiros (45%) tem medo da “continuidade do governo Bolsonaro”, percentual bem maior do que os 37% que tem medo da “volta do PT”.
O espaço da terceira via é muito reduzido em Minas Gerais: apenas 7% dos entrevistados responderam que tem “medo dos dois”. Por aí se vê, aliás, como a estratégia de Ciro Gomes, de açular uma suposta rejeição a ambos as lideranças, ecoa no vazio.
Quando se divide esse medo por renda familiar, o quadro fica nítido: pobres tem medo da “continuidade de Bolsonaro”, enquanto os mais ricos temem a “volta do PT”.
Na classe média baixa, com renda entre 2 e 5 salários, a rejeição a Bolsonaro é maior que a de Lula, e isso é um fator fundamental para entender a dinâmica das eleições em Minas Gerais.
Conclusão
A pesquisa Quaest mostra um cenário em acomodação, com antecipação do segundo turno. Esses Lula 51% X 40% Bolsonaro no primeiro turno são números de segundo turno. Isso também explica a recuperação de Bolsonaro. Os eleitores que ainda hesitavam em declarar voto nele no primeiro turno, entenderam que não há jeito. No caso de Lula, como ele já tinha crescido muito, o que se dá é o oposto: a perda de gordura. Entrentato, os número do petista ainda são sólidos, e se o cenário se estabilizar do jeito que está hoje, está ótimo para Lula. A Quaest de ontem mostrou estabilidade de Lula em São Paulo: tinha 37% em julho e mantém os mesmos 37% em agosto. É possível que Minas Gerais também caminhe para um cenário de estabilidade.
Por fim, gostaria de chamar atenção para uma característica importante de Lula, que vem aparecendo em todas as pesquisas, e também se mostra nessa da Quaest em Minas Gerais: a força do ex-presidente na juventude. Entre jovens até 24 anos, Lula cresceu em Minas Gerais, para 51% do votos totais, o que corresponderia a 58% dos votos válidos nesse extrato. Esse vigor de Lula na juventude pode fazer a diferença nas redes sociais!
A pesquisa Quaest fez 2.000 entrevistas presenciais, entre os dias 6 e 9 de agosto, a um custo de R$ 122.625,00, nos oferece uma visão panorâmica desse estado estratégico.
A íntegra da pesquisa pode ser baixada aqui.
2md
13/08/2022 - 09h12
Acho engraçada essa extração de dados positivos. A coisa está feia, o Bozó recuperando popularidade, e vocês destacando dados positivos. Parece que mais uma vez, Lula vai dançar conosco à beira do abismo.
Partagas
12/08/2022 - 14h04
As pesquisas logo apòs a eleiçào de Bolosnaro diziam que pela grande maioria das pessoas a culpa pela tragedia da época (sem pandemia mas com algo pior…) foi da dupla PT/Dilma…por qual motivo as pessaos deveriam voltar na tragedia ?
Zulu
12/08/2022 - 12h35
….kkkkkkkkkk