Recentemente criado após a fusão entre o DEM e o PSL, o União Brasil já fez o primeiro acordo a nível nacional. Apesar de manter a pré-candidatura de Luciano Bivar (PE), o partido fechou um acordo com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
Segundo O Antagonista, caso a legenda não ocupe a cabeça de chapa da terceira via, deverá lançar uma candidatura “puro sangue”. O ex-juiz parcial Sérgio Moro é cotado para ocupar a vice.
Porém, essa possibilidade é usada como cortina de fumaça para desviar a atenção diante da negociação fechada com o próprio Lira para que o partido assuma a presidência da CCJ e importantes comissões como a de Educação e Minas e Energia.
Além disso, o acordo poderá incluir a presidência da Câmara em 2023, no possível governo Lula, e a presidência da Petrobras, passando pelo apoio a Jair Bolsonaro no segundo turno.
EdsonLuiz.
16/04/2022 - 00h19
Tiago,
Eu concordo com o que você observou. O contexto é o que você descreve; a análise estritamente eleitoral que cabe, para a Bahia e para Pernambuco, é a que você faz.
Ocorre que esses atores políticos que temos nunca são principistas e sempre tramam o poder. Eles não precisam estar juntos no mesmo projeto para casarem interesses paralelos. E vêm casando! Algumas vezes eles somam juntos em interesses até apartados dos efeitos eleitorais. Claro que questões políticas e eleitorais predominam, mas não só; passivos com a justiça, por exemplo, é um dos vários interesses que muitas vezes aparecem casados entre inimigos políticos.
O que eu acrescento a isso é que, desde o início do atual governo, acontecem entendimentos paralelos comuns que juntam interesses das partes lulistas do PT e do Centrão e jair bolsonaro. Eu diria que mesmo movimentações já em 2018, de decisão de candidatura, teve influência de movimentações desse tipo.
O grosso dos eleitores não acompanha, não conhece os atores, não percebe os interesses e os riscos; por isso, passava longe em 2018 — e passa até hoje, só que um pouquinho menos –, para o grosso dos eleitores, o perigo que significava e significa jair bolsonaro. Mas não para nós! Menos ainda para os operadores políticos do PT e dos demais partidos.
Pesquisas não dão garantia de resultado; não poucas vezes pesquisas erram completamente, porém, mesmo não sendo perfeitas, as pesquisas são o instrumento com que se pode contar para vislumbrar resultados e o saldo de acertos é bem maior com pesquisas em momentos finais de campanha.
Em 2018, o perigo ‘jair bolsonaro’ estava colocado : as pesquisas diziam que bolsonaro ganhava se disputasse com o PT. Até se a disputa fosse contra a Marina Silva bolsonaro perdia. As pesquisas davam apenas 1% para Marina no primeiro turno, mas se ela fosse para o segundo turno contra Bolsonaro as pesquisas davam Marina! Contra Ciro Gomes, então, as pesquisas mostravam uma lavada de Ciro contra bolsonaro no segundo turno.
Não diretamente o perigo era e é jair bolsonaro, mas o que vem junto e é semeado no Aparelho de Estado quando é ele que ocupa o poder. Jair bolsonaro é e sempre será apenas aquele subdeputado que ele sempre foi, mas o que vem junto com ele, se instala e mapeia o poder é muito mais do que ameaça!
Conhecendo o risco e informado claramente pelas pesquisas sobre a inviabilidade de um nome do PT contra Bolsonaro e menos ainda se apoiado por Lula, o PT, se a preocupação fosse realmente a afirmação da democracia, seus valores e a continuação dos avanços pós constituinte, nunca poderia ter insistido com uma candidatura em 2018.
Pior é que, em vez de fazer autocrítica séria, petistas ainda buscam colocar a culpa de 2018 e outras em quem não tem, chegando a falar em “mãos sujas de sangue” e outras delicadezas gentis.
Hoje, Jair Bolsonaro só é presidente porque o PT quis!
Mas o que eu busquei no que repostei abaixo — e ilustrei com fatos, todos documentados ou antecipados e depois confirmados — é que esse jogo de blindagens continua a ser feito em proveito dos jogadores, mesmo sendo adversários e inimigos. Eu concordo com as suas observações, Tiago, como análise eleitoral e de contexto as suas observações e sua análise são as que cabem. Mas eu acho que sempre tem mais coisas para prestar atenção, e coisas bem sérias!
Só, por exemplo, uma das coisas para o que cabe atenção (e, em eles estarem governando, eu não diria que é condenável; apenas eu não faria o mesmo por eu ser principista) : nada indica que Lula e ACM Neto não vão trabalhar juntos se estiverem nos mandato. Pelo contrário, o que eu especularia é que a maior surpresa dessas eleições de 2022, e com desdobramentos no próximo mandato, não é o entendimento Lula-Alckmin, mas um entendimento que dificilmente será explicitado de forma assumida, mas que vai acontecer o tempo todo, que é o entendimento Lula-ACM Neto.
Especulação minha? Sim! Mas vejamos: no início do governo bolsonaro, a derrota da articulação feita para fazer o enfrentamento do governo e de seus perigos foi desmontada por ACM Neto, com Rodrigo Maia sendo triturado. E isso passou, de algum modo e em algum momento, pelo PT. O PT recuou do apoio a Arthur Lira quando sentiu a responsabilidade, mas já havia até foto para documentar. Tendo recuado na Câmara de participar da articulação bolsonaro/ACM Neto e depois declarado voto em Baleia Rossi para presidente (mas quem garante que os votos não foram entregues a Arthur Lira : articulações houve e até posto na mesa), o PT não se fez de rogado e, no senado, votou e articulou o nome lançado por bolsonaro, o Davi Alcolumbre.
A blindagem do governo Bolsonaro vem acontecendo faz bastante tempo, e em muitos movimentos : indicação para os tribunais; para o Ministério Público; etc (todos sabem que, antes de ligação com bolsonaro, a ligação de Aras era mais com o PT). Com isso eu quero dizer que Lula e Bolsonaro tramam o mesmo projeto de poder? Claro que não! Eu sei que você não concluiria de que era isso que eu estaria insinuando, mas outros petistas, com dois neurônios e uma pitada de mal caratismo, sempre associam assim. O que eu estou fazendo é resenhar com fatos o modo como gente que busca o poder no estilo de bolsonaro, Lula e ACM Neto, que não se movem por princípios e, para eles, pouco ou nenhum valor tem as estruturas, instituições e pessoas, a não ser para serem usadas.
Claro que qualquer seguidor cego de Lula, de bolsonaro e de ACM Neto sempre vão negar o que eu estou especulando, mas eu estou especulando a partir de fatos e dados bem claros!
Claudio Vigas
15/04/2022 - 13h37
“Qual o pecado do ex-juiz? Provar e levar Lula à condenação como corrupto pelo TRF-4 e no STJ,…”
Kkkkkkk
Rafiusk
15/04/2022 - 13h17
Qual o pecado do ex-juiz? Hahahahata de brincadeira né? Quais vc quer que eu enumere? São muitos
Tiago Silva
15/04/2022 - 09h02
Caro Edson,
Na Bahia ocorre um fenômeno que é bem parecido em todo o Nordeste: quem for contra Lula perde a eleição! E ACM Neto sabe disso e por isso nesse período eleitoral busca fazer um teatro de que seria simpático ao Lula, mas que tem desavenças profundas com Lula (assim como Lula tem em ACM Neto uma das poucas desavenças políticas que guarda, talvez a outra seja com Sérgio Moro).
Porém o problema da Bahia é Rui Costa que nunca se elegeu a ser puxado por alguém (Wagner/Lula) e por vaidade não queria ficar sem cargo político (senador até para poder trocar de partido posteriormente por possuir dissonância com a militância petista). E, em um choque de vaidades, acabou o PT tropeçando nas próprias pernas na Bahia (assim como tropeçou nas próprias pernas ao não dar espaço para Marília Arraes em Pernambuco).
Porém não se engane que ACM Neto se movimenta nos bastidores a favor de Bolsonaro tanto quando deu uma rasteira no Rodrigo Maia (e demais da “terceira via”) apoiando Arthur Lira, como nessa jogada para anular o politiqueiro tapado do Sérgio Moro.
E não duvide que os únicos Estados do Nordeste que Lula vai mais tentar intervir sejam Bahia (por essa desavença com ACM Neto) e Pernambuco (por pressão do PSB que não quer perder nesse Estado – e número de prefeituras que ajudariam na votação do Lula [mesmo que isso hoje seja uma estratégia decadente já que as redes sociais influenciam mais do que vontade de prefeitos], mesmo que a militância do PT esteja toda com Marília Arraes).
Ahhhh e em uma sociedade polarizada, querer estar em um dos polos é querer ir para o segundo turno… E deixar que outro político ocupe um dos polos (como Sérgio Moro queria) é sair da disputa do segundo turno. E Lula e Bolsonaro deveriam saber disso … e não a toa que quem busca ser “Terceira Via” (do Capital) se limita a ter no máximo 20 % do eleitorado (se consegue reunir todos esses “NemNem” em uma única candidatura o que duvido).
EdsonLuíz.
14/04/2022 - 19h04
As movimentações no sentido de cimentar a polarização acontecem desde o início do governo bolsonaro. E são movimentos muitas vezes casado entre os dois populismos.
O desmonte da Operação Lava-Jato; o esvaziamento ou instrumentalização das instituições de combate à corrupção, desde o COAF até o Ministério Público, passando pela Polícia Federal, e mesmo a ação em setores no STF repetem esse interesse dicotômico de neutralizar as outras forças e polarizar os dois populistas.
Logo no início do governo bolsonaro, o que as outras forças tinham para contrapor o governo federal eram a Câmara e o Senado, se assumissem as presidências das duas casas. Na Cãmara, o PT primeiro negociou com o candidato indicado por bolsonaro, o Arthur Lira, e só depois declarou voto em Baleia Rossi. Quem acredita que depois de negociar e posar para foto com Lira os votos do PT vieram todos para Rossi?
No senado, o PT foi mais claro e apoiou Alcolumbre junto com bolsonaro contra a candidatura da correta Simone Tebet desde o início, sem disfarçar. No seu MDB Simone Tebet teve contra ela os mesmos votos dos senadores que agora estão com Lula.
Outro movimento cobjunto PT-bolsonaro é a carga contra o ex-juiz Sérgio Moro. E é carga feita com o ódio típico petista-bolsonarista. Qual o pecado do ex-juiz? Provar e levar Lula à condenação como corrupto pelo TRF-4 e no STJ, condenação sempre à unanimidade; e o ex-juiz não aliviar as investigações da Polícia Federal contra bolsonaro em seus interesses criminosos no Rio de Janeiro, mesmo sendo seu ministro da justiça.
Recentemente houve um caso esquisito de movimentação na Bahia e tem esse caso agora. Se confirmadas as especulações, tanto em um caso como neste outro, os dois casos se juntam a esses movimentos de polarização e beneficiam os dois populistas, Lula e bolsonaro : recentemente um movimento esquisito foi feito na Bahia, envolvendo as candidaturas a governador do PT e do União Brasil, e essa foi uma articulação tão esquisita quanto a especulada nesta notícia.
Na Bahia, uma candidatura de Jaques Wagner com o apoio de Lula e do governador Rui Costa era eleição de Wagner praticamente certa e derrota para o candidato ACM Neto. Mas com o movimento esquisito a candidatura de Jaques Wagner seria retirada, facilitandoassim a eleição de ACM Neto, que em troca impediria o apoio do União Brasil a Sérgio Moro. Eu escrevi este movimento aqui, alguns dias antes dele ser consumado.
Agora, em meio a articulações de Lula com Eunício Oliveira, Renan Calheiros e Gedel R$51.000.000,00 contra a candidatura de Simone Tebet no MDB, vem essa especulação agora de o União fragmentar ainda mais a opção alternativa contra a polarização.
Temos que resistir! A política brasileira não pode continuar a ser só isto que os dois polos populistas fazem da política!
O que eu acho mais estranhoainda é quem quer ver nobreza nas próprias escolhas sentirem orgulho desses atores deprimentes.
Edson Luiz Pianca.